© Roque de Sá/Agência Senado
O aprofundamento das relações do Brasil com a Aliança do Pacifico pode favorecer a abertura do Mercosul à economia internacional, disse nesta segunda-feira (21) o embaixador e secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Marcelo Baumbach.
PUB
Baumbach ressaltou que a crise atual decorre da incapacidade tanto do multilateralismo quanto do regionalismo na promoção do desenvolvimento econômico. Segundo ele, a associação do Brasil ao bloco formado por Chile, Peru, Colômbia, México e Costa Rica pode contribuir para o progresso do continente sul-americano.
- As pessoas têm medo do futuro e decidem com base nesse medo; O que o Brasil pode fazer diante disso? O Brasil deve apostar no multilateralismo e promover a liberalização da economia. Nossas conversações com a Aliança do Pacífico tendem a ser mais liberais que o Mercosul, um bloco regional não tão liberal em termos de comércio. É possível que consigamos tirar proveito da situação internacional e praticar um regionalismo de caráter mais aberto – afirmou
Baumbach participou de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) que discutiu a integração do Brasil com outros países. A audiência - que integra o ciclo de debates O Brasil e a Ordem Internacional: Estender Pontes ou Erguer Barreiras? - teve como tema "Integração e as Alianças Estratégicas no Limiar da Terceira Década do Século 21: Cooperação ou Conflito?" O debate é uma iniciativa do senador Fernando Collor (PTC-AL), presidente da comissão.
Cooperação
Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Eiiti Sato avaliou que há um recuo visível do multilateralismo no mundo, mas apontou movimentos que favorecem a cooperação internacional, como o terrorismo e a insegurança internacional.
- É impossível combater esse tipo de mal a não ser pela cooperação, por mais que tenha um movimento de fechar fronteiras. Sem cooperação é impossível. Há os refugiados e outras formas forçadas e indesejadas de imigração. O narcotráfico, a lavagem de dinheiro, as mudanças climáticas e os grandes fluxos financeiros trazem problemas. Talvez o Brasil não esteja levando em conta os ativos positivos do país, como a dimensão geográfica e padrões culturais homogêneos – afirmou.
Entre os elementos que fragilizam a política externa brasileira, Sato citou a precariedade de infraestrutura, a falta de segurança pública e um sindicalismo “exacerbado”, com 16.290 associações registrados no Ministério do Trabalho, a grande maioria concentrada no setor público, “único setor em que existe greve paga”.
Competição
Professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bernardo Palhares Campolina Diniz disse que a abertura do Brasil deve ser feita com cuidado e à luz das diferenças existentes entre os países, visto que a competição externa "é dura”.
- O centro econômico do mundo caminha rapidamente em direção à Ásia. Precisamos fazer um reflexo do ponto de vista interno para conseguirmos uma projeção externa, avaliar o ponto de vista estrutural do Estado brasileiro, que precisa ser repensado, para conseguir se integrar a um mundo cada vez mais competitivo. As crises criam oportunidades, temos território, recursos naturais e uma região praticamente sem conflito, uma população que fala uma só língua, ainda que o português seja uma barreira do ponto de vista de pensar as relações internacionais – afirmou.
Campolina disse ainda que falta ao Brasil um planejamento de médio e longo prazos, visto que Plano Plurianual (PPA) “não é planejamento, mas um tanto de continha para resolver o Orçamento".
- Se nós pensarmos ser um pais minimamente respeitado lá fora, precisamos pensar que tipo de sociedade queremos daqui a 30 ou 50 anos, pensar no planejamento de forma séria, em como aproveitar as oportunidades e as muitas capacidades que temos – afirmou.
Tolerância
Fernando Collor, por sua vez, ressaltou que o Brasil sempre ergueu pontes, e não barreiras comerciais, a não ser em um passado recente, o que prejudicou o pais no avanço do desenvolvimento. O senador, ao destacar que o Brasil é resultado do fluxo migratório de japoneses, italianos, alemães e povos árabes, cobrou tolerância para com os venezuelanos que ingressam no país devido a conflitos com o governo de Nicolás Maduro.
Atualmente, disse Collor, há 65 milhões de refugiados no mundo, em razão de guerras, perseguições, brigas entre etnias, fome e insegurança. Desse total, até 2016, menos de dez mil encontravam-se abrigados no Brasil, país que conta hoje com mais de 200 milhões de habitantes.
Para o senador José Medeiros (PSD-MT), a integração mais intensa do Brasil com os países vizinhos favoreceria o desenvolvimento de todo o continente.
- Poderíamos deixar a rivalidade com a Argentina só para o futebol – afirmou. Com informações da Agência Senado.