Brasil perde 'soft power' por frustrar expectativas, diz pesquisadora

Apesar da queda na avaliação dos rankings, "em termos de soft power, o Brasil continua forte", avalia.

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Mundo persuasão 25/08/17 POR Folhapress

Índices que medem a força da imagem e o soft power (capacidade de persuasão) brasileiros no resto do mundo têm apontado uma forte queda do país nos últimos anos. As fortes crises em áreas que normalmente não estariam ligados a este "poder brando", como política e economia, fizeram o país perder prestígio internacional. A boa imagem da cultura do país, entretanto, segue forte, segundo Stephanie Dennison, diretora de estudos brasileiros da Universidade de Leeds, no Reino Unido.

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"O problema é que criou-se uma expectativa grande demais em torno do país, especialmente por conta do crescimento econômico da década passada, e agora vê-se a frustração", disse à Folha, durante período de estudos no Brasil.

Apesar da queda na avaliação dos rankings, "em termos de soft power, o Brasil continua forte", avalia. "A cultura é um dos motivos pelos quais o Brasil ainda tem uma boa avaliação e por que caiu apenas algumas posições."

Segundo ela, além das crises que tomaram conta do país, o Brasil perde apelo pelo fato de Temer ser um presidente incapaz de capturar o imaginário internacional –o que mesmo Dilma fazia.

O Brasil vem caindo em rankings internacionais de soft power. Isso tem sido atribuído às crises política e econômica, mas esta dimensão de poder teoricamente tem menos relação com esses assuntos e mais com cultura. Por que isso acontece?

As crises da política e da economia talvez expliquem por que o Brasil não subiu no ranking de soft power depois da Olimpíada, o que seria esperado. A situação da inserção da cultura do Brasil no mundo não mudou, mesmo que a imagem do país tenha perdido força por conta da crise. O país continua fortemente associado a futebol e praias, de forma reducionista, mas positiva.

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A imagem da cultura parece sobreviver além das crises do Brasil, até porque é algo que não está associado ao governo e à política, como costuma acontecer no caso da China e da Rússia. Isso é muito importante para o Brasil, pois é algo positivo para a imagem do país.

Podemos especular que, sem o apelo da cultura brasileira, a imagem estaria muito pior?

Sim, o país teria caído mais no ranking. A cultura é um dos motivos pelos quais o Brasil ainda tem uma boa avaliação e por que caiu apenas algumas posições.

Até recentemente eu achava que havia um risco de o Brasil cair ainda mais nesses rankings, dada a ênfase que a mídia internacional tem dado a temas como a crise na economia e os problemas políticos. Essas duas questões parecem estar implodindo, pelo que se lê no resto do mundo, então é natural que a avaliação do Brasil piore.

Qual acha que é o impacto da crise política na perda de soft power do Brasil?

O Brasil deixou de ter uma figura política capaz de capturar a imaginação internacional. Lula tinha essa capacidade, e mesmo Dilma, mesmo que com uma característica um tanto ingênua, também. Dilma era vista como uma mulher forte, alvo de machismo, o que atraía simpatia de mulheres no resto do mundo. Entre minhas amigas acadêmicas, por exemplo, havia muita admiração, independentemente de qualquer política dela.

[O presidente Michel] Temer representa uma mudança difícil nesse sentido, sem apelo. Os jornais britânicos enfocaram muito o fato de que ele assumiu em um processo complicado e apareceu quase como uma figura antifeminista, ridicularizada internacionalmente.

O fato de a cultura continuar bem avaliada significa que o país mantém força em soft power mesmo que caia nos rankings?

Em termos de soft power, o Brasil continua forte.

O problema é que criou-se uma expectativa grande demais em torno do país, especialmente por conta do crescimento econômico da década passada. Houve uma grande expectativa naquele momento, e agora vê-se a frustração.

A partir desses rankings é há quem diga que o Brasil tem imagem de país decorativo, bem avaliado por sua cultura, mas não visto positivamente em termos de política e economia. Isso é um problema para o país?

Esta questão de imagem relacionada à crise é menos importante para a forma como os investidores se sentem atraídos ou não pelo Brasil, e acho que questões mais práticas, fiscais e burocráticas, por exemplo, têm um peso direto muito maior nesse processo. Isso não muda nada com a publicação de rankings de soft power.

Antes da Olimpíada, essa interpretação já indicava que o Brasil melhoraria apenas seu turismo com os jogos, e que isso não era tão relevante pois seria importante melhorar outros aspectos da sua marca. É natural pensar que a confiança na economia é essencial para que haja atração do mercado internacional. A questão é saber o que, exatamente, dá confiança a investidores.

Eu sou otimista em relação ao impacto da Olimpíada. Acho que mesmo com muitos problemas e em meio à situação difícil do país, o Brasil conseguiu ser bem=sucedido em mostrar algo sobre a capacidade do país. E isso importa.

Mas a mídia internacional tem destacado problemas deixados pelos jogos.

Sim, isso é o que tem destaque hoje, mas é apenas por causa do aniversário da Olimpíada, e é algo que acontece depois de todos os Jogos Olímpicos. No fim das contas, entretanto, esse destaque não pesa tanto, e é passageiro.

Seu trabalho lida muito com questões de imagem e cultura, com foco em filmes que mostram o Brasil ao mundo. Que filme acha que é representativo no mundo para a imagem do Brasil?

Ao tratar de soft power, não analiso apenas a narrativa dentro do filme, mas a narrativa gerada pelo filme, que muitas vezes pode ser tão interessante quanto. Nesse sentido, o exemplo mais recente é o de "Aquarius". O sucesso dele em Cannes é muito representativo para o soft power, mesmo que não seja exatamente um sucesso de público. A narrativa gerada por ele, pelo protesto de Kleber Mendonça Filho no tapete vermelho, denunciando um golpe no Brasil, tudo isso cria um burburinho, que gera interesse em torno do país.

Na época, o governo brasileiro chegou a dizer que a equipe estava afetando a imagem do país, e isso é totalmente errado. O filme que ganhou Cannes naquele ano foi "Eu, Daniel Blake". Ninguém no Reino Unido achou que o filme afetava a imagem do país, mesmo que fosse um filme muito crítico ao governo.

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