Fux elogia Lava Jato e acusa Congresso de tentar enfraquecer Judiciário

Ministro do STF ainda comentou a reforma política e defendeu a volta do financiamento empresarial de campanhas

© Nelson Jr./SCO/STF

Política Entrevista 28/08/17 POR Notícias Ao Minuto

Luiz Fux, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que o Congresso está tentando enfraquecer o Judiciário no que se refere à operação Lava Jato. Ele compara o que ocorreu na Itália, durante a operação Mãos Limpas, também voltada a crimes de corrupção, para alertar sobre os prejuízos que a postura dos políticos brasileiros pode causar.

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"O enfraquecimento do Judiciário é uma das fórmulas que se utilizou para fulminar os resultados positivos da Operação Mãos Limpas, na Itália. E parece que isso está acontecendo agora no Brasil, em relação à Operação Lava-Jato. Enquanto nós estamos estudando as melhores formas de combater a corrupção, as melhores formas de investigação, o que se tem feito no Congresso é estudar como se nulificou, na Itália, todos os resultados positivos da Operação Mãos Limpas. Na Itália, começaram a fazer reformas mirabolantes para tirar o foco da Operação Mãos Limpas. Aqui, fizeram o mesmo. Na Itália, começou a haver uma política de enfraquecimento do Poder Judiciário".

Ele citou a criação da lei de abuso de autoridade, em retaliação às propostas contra a corrupção, como uma clara ameaça aos juízes. "Aqui, a iniciativa popular propôs medidas anticorrupção, e elas foram substituídas por uma nova lei de crime de abuso de autoridade, inclusive com a criminalização de atos do juiz. Se você comparar, tudo o que se fez na Itália para minimizar os efeitos da Operação Mãos Limpas tem sido feito no Brasil também. Em segundo lugar, é completamente fora da reforma política fixar prazo de mandato para os juízes dos tribunais superiores. Entendo que seja uma estratégia para enfraquecer o Poder Judiciário. Essas mudanças são para tirar o foco do que se está efetivamente apurando, que é a corrupção", disse, em entrevista ao O Globo.

+ Temer defende financiamento empresarial a um partido ou candidato

Ao comentar o trabalho do MPF, ele não poupou elogios. "A Operação Lava-Jato tem como finalidade passar a limpo o Brasil, e acho que o Ministério Público é quem vai estabelecer o final dessa linha. Queixa-se muito de que a Lava-Jato não termina, mas eu entendo que esses integrantes da força-tarefa sabem até onde eles querem chegar. Eles realizam um trabalho digno de muitos elogios. Sou favorável a essa operação e acho que está sendo levada a efeito com um sentido bastante positivo".

Também disse não acreditar que o impasse entre Gilmar Mendes e Rodrigo Janot atinja a imagem do STF. "Eu entendo que isso é algo de caráter subjetivo, é uma opinião de um componente do colegiado que não atinge o colegiado. Na verdade, ele fala só por si. Eu não quero avaliar esse eventual dissenso entre o ministro e o procurador. Acho que cada um está cumprindo o seu papel de acordo com a sua percepção e a sua consciência".

Fux, que será o próximo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a partir de fevereiro de 2018, ainda considerou o "distritão", um dos pontos em discussão na proposta de reforma política, uma "indecência".

"Esse distritão misto é de uma indecência a toda prova, porque ele é destinado a manter a reeleição de quem já está lá. Transforma uma eleição proporcional em majoritária, tira as vozes das minorias e acaba mantendo um status quo absolutamente indesejável".

Fux defendeu a volta do financiamento eleitoral por parte de empresas e criticou a criação de um fundo público. "Para mim, esse fundo é completamente incompatível com o momento de crise econômica nacional. A proposta que eu faria seria permitir a volta do financiamento eleitoral por parte de empresas que tenham a mesma bandeira ideológica do candidato. Por exemplo, um candidato que defende o meio ambiente, ou de determinado setor do mercado financeiro. Esse financiamento se daria num determinado limite. O financiamento seria ideológico, e a empresa doadora ficaria impedida de contratar com o poder público. Isso mostra a lisura do financiamento, como um ato de quem quer ser representado. É o que ocorre com as pessoas físicas: você doa para quem você acha que representa seus ideais".

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