© Marcos Santos/USP Imagens
Novos ciclos de reestruturação de dívidas pelas empresas são esperados nos próximos meses, ainda que a taxa de juro esteja declinando e alguns setores da economia, como imobiliário, comecem a mostrar sinais positivos. Profissionais envolvidos em processos de reorganização financeira e operacional de empresas e também em recuperações judiciais, afirmam que a reversão das expectativas de retomada econômica para este ano, assim como as incertezas para 2018, estão obrigando empresas a se sentarem na mesa para renegociar com bancos e outros credores.
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Nos últimos dois meses, apenas duas empresas, a Heber e a Triunfo Participações, entraram com pedidos de recuperação judicial e extrajudicial, respectivamente, envolvendo dividas que juntas somam mais de R$ 14 bilhões.
"Uma série de empresas que vinham evitando a reestruturação ou a recuperação judicial devem tomar uma decisão agora, cientes de que não terão o retorno operacional que esperavam", diz o professor de Direito Comercial da Universidade de São Paulo (USP), Francisco Satiro.
Para ele, a queda no juro, de fato, é importante para evitar que companhias alavancadas, mas operacionalmente estruturadas e com gestão eficiente, sejam conduzidas a uma situação de insolvência. "Mas não faz diferença para companhias que já estão em dificuldades e tiveram dívidas roladas a taxas mais elevadas", afirma.
Satiro destaca ainda que algumas companhias estão na segunda ou terceira rodada de rolagem de suas dívidas e que, dado o ambiente ainda desafiador, tais negociações podem acabar se desdobrando em recuperações extrajudiciais ou judiciais.
O advogado Eduardo Munhoz, à frente da recuperação judicial da OAS e PDG acrescenta que grandes dívidas se tornam muitas vezes impagáveis, ainda que haja queda no juro. "As empresas vão morrendo aos poucos", destaca.
Munhoz pontua ainda que poucas renegociações feitas até o momento junto a bancos trouxeram soluções definitivas para as companhias e que isso contribui para um cenário de mais pedidos de recuperação judicial.
O advogado critica também a insegurança política e jurídica no País, que contribuem para a deterioração dos ativos das companhias com problemas. "Tal conjuntura atrai, por muitas vezes, investidores oportunistas nos processos de venda de unidades ou participações feitas para levantar caixa pelas empresas nos processos de reestruturação", diz.
Para Christian Murayama, sócio na KPMG no Brasil, haverá pelo menos mais seis meses de renegociações, por companhias que repactuaram dívidas no final de 2015 e em 2016. Murayama tem, entretanto, uma visão mais positiva sobre o impacto da queda do juro nas empresas com problemas. "O endividamento cresce mais lentamente", lembra ele.
Francisco Clemente, diretor da área de reestruturação da KPMG, observa ainda que pela primeira vez em dois anos começam a aparecer alguns indicadores positivos, como no setor de construção e de automóveis. "Ainda que sejam sinais isolados, já há alguma indicação de que o consumo parou de cair", diz. Clemente lembra ainda que os setores imobiliário e de construção envolvem uma cadeia de grande peso e poder na atividade econômica.