BNDES quer sobreviver longe do governo

Instituição de fomento tenta ganhar tempo para se reciclar e conseguir permanecer relevante no plano nacional diante de medidas que devem atingir em cheio seu poder de fogo

© Sergio Moraes/Reuters

Economia Planejamento 18/09/17 POR Estadao Conteudo

Enquanto tenta resistir às investidas do governo para que reduza seu tamanho, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) busca traçar desde já ampla estratégia que garanta sua sobrevivência no futuro.

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A instituição de fomento tenta ganhar tempo para se reciclar e conseguir permanecer relevante no plano nacional diante de medidas que devem atingir em cheio seu poder de fogo, como a pressão do Tesouro para obter mais dinheiro antecipado do banco e a iminente mudança nos juros de seus financiamentos para uma taxa mais alinhada à de mercado, a Taxa de Longo Prazo (TLP).

Sem abandonar o papel de provedor de crédito em grandes projetos de infraestrutura, a intenção é colocar recursos em projetos que possam alavancar o desenvolvimento do País por meio de outros canais, como tecnologia e formação de pessoas. O banco contratou a consultoria alemã Roland Berger para trabalhar no plano estratégico 2022-2030. Duas palavras devem virar norte de atuação: inovação e interiorização.

O banco também está de olho no mercado internacional para renovar sua fonte de recursos. O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, esteve em Londres para acertar detalhes da reabertura do escritório da instituição e estuda abrir outros postos no exterior. A ideia é que a presença internacional abra caminho para as futuras captações de recursos que darão vazão aos novos créditos.

Segundo Rabello, até o fim da transição, o BNDES já terá reformulado completamente suas principais fontes de financiamento. "Além disso, o governo nos solicitou uma colaboração financeira abrupta e, por outro lado, vem uma mensagem presidencial muito clara, do meu chefe, que está obcecado com a ideia de mais emprego e investimento em 2018", acrescenta.

A TLP vai substituir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) nos financiamentos do BNDES a partir de 2018. Com a nova taxa, o subsídio dos juros vai cair, ou seja, o crédito para as empresas com recursos do BNDES vai ficar mais caro. Hoje, a TJLP está em 7%, abaixo dos 8,25% da Selic. O subsídio menor contribui para o equilíbrio fiscal, mas Rabello era contra a mudança no momento em que a economia inicia uma retomada porque o crédito mais caro pode inibir os investimentos.

Mesmo com a tentativa do BNDES de se reinventar, o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) José Roberto Afonso avalia que o banco terá menos recursos para emprestar e a um custo mais caro, uma vez que a TLP aprovada valerá para todos os empréstimos, não só os feitos com recursos do Tesouro. "Inevitavelmente será um banco para poucos. Vão crescer as operações diretas, às quais só grandes e melhores empresas têm acesso."

Novo foco

Forçado a se reinventar, a ideia do novo BNDES é investir em projetos tecnológicos, até mesmo em mercados que ainda não existem no Brasil. "Não temos cientistas mandando foguete para a Lua, mas estamos muito interessados em saber se por acaso tem alguém fazendo um pequeno foguete. Isso pode ser uma ruptura futura", diz o presidente do banco. Na interiorização, a prioridade será intensificar a oferta de crédito a pequenos empresários que hoje não têm acesso.

O novo plano estratégico do banco deve ser concluído no início de 2018, mas há áreas que desde já estão no radar como potenciais novas frentes de atuação, diz o diretor de Crédito, Planejamento e Pesquisa do BNDES, Carlos Da Costa. Entre esses focos estão o investimento em tecnologia; especialização do capital humano das empresas; modernização da gestão e da governança de empresas, cidades e governos; e adensamento de cadeias produtivas, com investimentos para integrar empresas que participam de um mesmo processo de produção.

Principal beneficiário da política de crédito subsidiado no BNDES nos últimos anos, o setor produtivo vê esse "novo banco" com ceticismo. Para o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho, a redução de sua capacidade será fatal para o banco. "O custo do funding nacional 'telepou', não hoje porque isso é assunto para 2022, mas ninguém vai esperar chegar 2022."

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