© Marcelo Camargo/Agência Brasil
A nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, tomou posse nessa segunda-feira (18), em substituição a Rodrigo Janot. Desde que o nome dela foi anunciado, discussões sobre a continuidade das investigações contra a corrupção tomaram conta do cenário nacional, principalmente porque ela foi escolhida por Michel Temer, um dos investigados na Lava Jato.
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O presidente decidiu quebrar a tradição e não apontar para o cargo o vencedor da eleição interna do Ministério Público Federal, o subprocurador Nicolao Dino.
Para o especialista em Direito Público Michael Mohallem, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as especulações em torno do nome da nova procuradora-geral, no que diz respeito à Lava Jato, são normais, uma vez que as investigações dessa operação representam a questão institucional mais importante do Brasil no momento.
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No entanto, segundo ele, há poucos elementos disponíveis para se avaliar qual será efetivamente a posição de Dodge. Se, por um lado, o retrospecto da atuação dela é de efetiva luta contra a corrupção, configurando "um histórico impecável", por outro, de acordo com o professor, episódios recentes, como um encontro informal, fora da agenda, com Michel Temer, e o apoio recebido de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal que fez várias críticas à Lava Jato, abriram a possibilidade para especulações mais negativas.
"Há episódios que sugerem ou que podem nos levar a fazer avaliações para um lado e para outro. Mas, efetivamente, a gente tem muito pouco", disse Mohallem em entrevista à Sputnik Brasil. "Eu diria que nada é forte o suficiente para a gente fazer uma leitura clara sobre a atuação dela", acrescentou, destacando a importância de se aguardar os próximos passos da procuradora e levando em consideração que várias de suas atitudes estarão vinculadas às ações do procurador-geral anterior.
Ainda de acordo com o especialista, também é válido sublinhar, em meio a essas discussões sobre a PGR, que a Lava Jato é muito mais complexa do que pode parecer à primeira vista, uma vez que é composta por diversas investigações, e, nesse sentido, está aberta a diferentes tipos de abordagem.
"A Lava Jato se tornou um símbolo, um nome que representa muito mais do que uma só operação do ponto de vista formal. São várias linhas de investigação diferentes, são vários processos contra supostas organizações criminosas", afirmou. "Pode, eventualmente, haver maior ênfase em alguma linha de investigação ou em outra".
Em comparação com Rodrigo Janot, segundo o professor de Direito Constitucional Daniel Vargas, também da FGV, Raquel Dodge apresenta diferenças marcantes na maneira de atuar, que deverão facilitar muito o andamento do seu trabalho na PGR, favorecendo a harmonia entre os diferentes poderes.
"Ela não me parece tão estridente e popularesca, midiática, como o doutor Janot. E acho que ela terá muito mais cautela e muito mais prudência na condução do diálogo e na interação com outros poderes. Tenho a sensação de que o doutor Janot, em que pese os seus méritos, acabou se embebedando da popularidade que a Lava Jato lhe trouxe", disse ele à Sputnik Brasil.
Para Daniel Vargas, a nova procuradora está assumindo o cargo em meio a um campo de batalhas e, em relação à Lava Jato, não estará em posição de desfazer ou refazer o que já foi realizado, que já está avançando nos tribunais.
"Eu acho que o Brasil todo quer que essa operação continue e que chegue a um final. O que não me parece razoável é tratar a Lava Jato como se fosse a salvação da república nacional", acrescentou, apontando possíveis excessos cometidos por Rodrigo Janot. (Sputnik)