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De volta à sua casa em Porto Alegre, o tenista Guilherme Clezar, 24, vive o pior momento de sua carreira, e não por motivos técnicos. Justamente quando esboçava reação no circuito, tomou atitude em quadra contra o japonês Yuichi Sugita, pela repescagem do Grupo Mundial da Copa Davis, que teme macular sua carreira.
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Ao reclamar de decisão da arbitragem após um golpe, ele foi flagrado puxando seus olhos com os dedos, de forma a ironizar o juiz de linha local, japonês. O confronto ocorreu em Osaka.
A repercussão ao gesto foi estrondosa. Suas redes sociais foram torpedeadas com protestos e ataques. Exposição à qual o hoje número 241 do mundo jamais havia sido submetido.
"Tem sido bem complicado. Só eu sei o quanto isso me fez sentir mal. Foi uma grande cagada", disse à Folha de S.Paulo.
Clezar insiste em afirmar que o gesto não teve intenção racista, a despeito da reação furiosa e da multa que levou da ITF (Federação Internacional de Tênis), de US$ 1,5 mil, por conduta "antidesportiva". "Mas sei que não tem como fugir do que fiz. Se pudesse, pediria desculpa para toda e qualquer pessoa", disse.
O brasileiro contou que, no Japão, seu gesto intempestivo demorou a ser registrado.
Não foi questionado por árbitros, torcedores ou jornalistas depois de ser derrotado por Sugita por 3 sets a 0. O Brasil perdeu o confronto.
"Ninguém viu na quadra", afirmou João Zwetsch, 49, capitão da equipe brasileira e ex-treinador do jogador. "Foi extremamente rápido. Só fui saber na manhã seguinte."
Para Zwetsch, Clezar "não teve intenção nenhuma de ser desrespeitoso ou racista".
Descendentes japoneses no Brasil discordaram. Compunham a maioria dos descontentes em protestos.
"Preconceito é algo complicado. Para quem não está dentro da questão, é difícil falar", afirmou o ex-tenista Fernando Meligeni, 46, argentino naturalizado brasileiro.
"Respeito demais os que se doeram. Todos sabem como reajo quando ouço besteiras sobre rivalidade entre Argentina e Brasil. Clezar tem de pagar pelo que cometeu. Daí a criminalizar é outra coisa. Mas ficará marcado. Será duro."
Entre árbitros e boleiros, a fama de Clezar seria a de um tenista mal-educado. Quando informado sobre essa crítica, se disse surpreso."Talvez sirva para abrir a cabeça."
Entre tenistas e treinadores brasileiros, porém, a reputação é diferente. "De tão quieto, às vezes parece que nem está no torneio", disse o treinador Ricardo Acioly, 53.
"Não é alguém polêmico. Pelo contrário. Se mostra frustrações, é básico do jogador."
Antes do incidente, Clezar vinha em boa fase. Trabalhou um mês e meio com Larri Passos, mentor de Gustavo Kuerten, e foi à final do Torneio de Liberec, na República Tcheca.
A competição está inserida no circuito challenger, o segundo escalão do tênis. É o nível em que o gaúcho tenta se firmar e no qual já ganhou dois títulos, em Rio Quente e Campinas, respectivamente em 2012 e 2013. Chegou a seu melhor ranking em março de 2015, quando foi número 153.
Em competições de primeiro nível, disputou 12 partidas e não venceu nenhuma.
"Ele ainda pode se firmar, sim, entre os 100. Tem uma trilha longa à frente, com potencial. Parece estar reencontrando o caminho", disse Zwetsch.
Embora não seja mais uma revelação, ainda tem tempo para evoluir, sobretudo em circuito que tem favorecido veteranos. Número um brasileiro, Rogério Dutra Silva, 33, alcançou nesta temporada seu melhor ranking (63º).
Foi após uma recusa de Rogerinho, aliás, que Clezar foi chamado para jogar a Davis, no lugar de Thomaz Bellucci.Já no Japão, o presidente da Confederação Brasileira de Tênis, Rafael Westrupp, publicou vídeo em que é possível ouvir ofensa a Kei Nishikori, número um japonês, que nem participou do duelo.
O vídeo foi apagado e não houve retratação pública por parte de Westrupp. Acabou em segundo plano após o gesto de Clezar em plena quadra.
"Teve todo esse contexto que o levou para lá. O próprio vídeo do presidente não dá para ser ignorado", disse Acioly.
O gaúcho prepara a volta ao circuito no challenger de Campinas, em outubro. Será a primeira tentativa de se concentrar novamente na carreira. "Isso está muito latente ainda. Só peço que, de algum modo, seja perdoado", disse. Com informações da Folhapress.