© Kevin Lamarque/Reuters
Medo e esperança se misturam nas reações de venezuelanos nos Estados Unidos ao veto anti-imigração mais recente de Donald Trump, que passou a alvejar, além de Chade e Coreia do Norte, funcionários de alguns órgãos do regime de Nicolás Maduro.
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Enquanto ativistas temem que a simples presença do país na nova lista negra do presidente americano leve a mais casos de discriminação na fronteira ""a Venezuela lidera hoje o número de pedidos de asilo político no país"", analistas acreditam que a medida pode desestabilizar e sufocar a ditadura em Caracas.
"É um cordão profilático, vai encurralar o regime por ele ter se tornado uma tirania narcomilitar", diz Diego Arria, ex-embaixador venezuelano nas Nações Unidas e exilado em Nova York depois de ter sua prisão decretada por Maduro. "Essa medida tem mais alcance do que parece."
Ele lembra, no caso, que o veto de Trump a servidores de instituições de inteligência e da diplomacia venezuelana junto da decisão de não sancionar militares, por exemplo, deixa claro que os americanos esperam uma ação mais contundente das Forças Armadas num possível conflito interno no país.
"Não é uma decisão contra o venezuelano comum. Essas sanções são necessárias e vemos isso com agrado", diz Antonio Marval, ex-juiz venezuelano exilado em Miami.
"Os funcionários alvos do veto são os que aproveitavam para viajar para comprar propriedades, fazer investimentos, abrir contas bancárias."
Mas Christopher Sabatini, especialista em América Latina na Escola de Relações Internacionais da Universidade Columbia, não vê muita astúcia nesse último decreto do presidente americano.
"Ele não entende qual deve ser a estratégia contra a Venezuela. Ao estender o veto a quase todos os agentes do governo, ele remove o incentivo que havia a forçar com que aliados de Maduro rompessem com ele", diz o professor."No fundo, esse decreto é só uma lista dos países de que o presidente gosta menos."Trump, de fato, já falou que não descarta uma "opção militar" e "ações adicionais" contra a Venezuela. E esse ódio é recíproco.
Último a discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, na última sexta-feira (22), o chanceler venezuelano Jorge Arreaza atacou o presidente americano e fez uma série de novas ameaças.
"Temos a obrigação de denunciar ao mundo que nosso povo foi ameaçado pelo presidente dos EUA com o uso da força militar mais poderosa que já existiu na história da humanidade", disse."Livres que somos, nós estamos dispostos a defender nossa soberania e nossa democracia em qualquer cenário e modalidade."
ÊXODO
No meio do fogo cruzado, estão cidadãos comuns que tentam sair da Venezuela, tendo os EUA como um de seus destinos favoritos.
"Estamos preocupados, vivendo um alerta migratório", diz Robert González, ativista venezuelano há quase duas décadas em Nova York.
"Temos medo que mais cidadãos sejam levados aos quartinhos de interrogatórios nos aeroportos, pessoas que não têm nada a ver com o governo."
Ele, que se mudou para os Estados Unidos em busca de tratamento para complicações do vírus da Aids logo depois que Hugo Chávez assumiu o comando do país pela primeira vez, em fevereiro de 1999, conta que ouve cada vez mais histórias de venezuelanos barrados pela polícia em aeroportos americanos.
"O processo de ser deportado ou expulso de um país é muito traumático e dá muita vergonha", diz González. "Não é segredo para ninguém que há fome, violência, falta de saúde na Venezuela. Mas essa medida não pode ser usada para a discriminação."
De olho na apreensão cada vez maior na comunidade venezuelana, o ativista criou um grupo de apoio com reuniões mensais em Manhattan, o Diálogo por Amor à Venezuela, além de militar no SOS Venezuela, coletivo que luta por direitos desses imigrantes nos Estados Unidos.
Eduardo Lugo, outro fundador do grupo, conta que as medidas anti-imigração já tomaram corpo na Venezuela, onde a embaixada americana não aceita mais pedidos de visto nem para turismo.
"Esperamos que não neguem a entrada a pessoas comuns, que não têm nada a ver com o governo", diz Lugo, há três anos em Nova York. "Mas temos essa preocupação e sabemos que tudo vai ser mais rigoroso a partir de agora." Com informações da Folhapress.