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Damião Soares dos Santos, conhecido em Janaúba como "Dão do Picolé", de 50 anos, antes de atear fogo na creche na última quinta-feira (5), trabalhava durante o dia como vendedor de picolé, que fazia em casa. À noite, era vigia noturno da creche Criança Inocente. Familiares contam que ele se isolou após denunciar a mãe por envenenar a comida dele.
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Visto por vizinhos e conhecidos como reservado e de poucos amigos, a família afirma que ele era bondoso e inteligente. Apesar de terem opiniões diferentes, todos concordam que Damião era calmo e incapaz de pôr fogo na creche.
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"Na hora que minha sobrinha disse 'o tio Dão pôs fogo na creche', eu não acreditei. Estou assustada até hoje. Ele era a pessoa mais calma que eu conhecia", contou Maria Alexandrina, 59, irmã dele, ao jornal "Folha de S. Paulo".
"Moço, tá saindo um enterrinho ali agora. Você não sabe qual é a dor da gente. Não vê como é grande. Porque foi um parente nosso que fez isso. Você não consegue imaginar que aquele homem bom, que conviveu com a gente, fez isso, não. É doído demais", disse uma sobrinha que não quis ser identificada.
Damião nasceu em Porteirinha, cidade vizinha a Janaúba. Ele tem um irmão gêmeo, que chamava Cosme. Juntos, formavam a dupla de santos católicos Cosme e Damião.
Ainda de acordo com os familiares, para fazer os picolés, Damião guardava galões de álcool, que ajudam a baixar a temperatura e a acelerar a manufatura do doce gelado. Suspeita-se que ele tenha usado o combustível para causar o incêndio na creche.
"Um homem que aprende sozinho a fazer picolé, a mexer com gesso, a ser eletricista, era concursado da prefeitura... Só pode ser muito inteligente", disse outra irmã. "Era muito estudioso. Uma vez nós falamos: 'O Dão vai enlouquecer'. Porque ele só ficava com a Bíblia na mão", contou Maria Alexandrina.
Em 2014, Damião denunciou a própria mãe, que, segundo ele, tentava envenená-lo pela comida. Ele foi encaminhado ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps), mas não há registro de que tenha se tratado.
Na sequência, Damião deixou a casa da mãe e foi morar em outro bairro. "Era uma pessoa simples e muito na dele. Não recebia gente em casa, passava na rua e não cumprimentava. Era quieto", contou o aposentado Weliton Vieira, vizinho de Damião.
A irmã do vigia conta que ele ficou muito abalado com a morte do pai, há três anos. "Ele e o pai passavam o dia juntos. Todo dia, pegavam uma cadeira, sentavam na rua e conversavam, a tarde toda".
Desde então, a família passou a vê-lo com menos frequência. "Via vendendo o picolé dele na rua, dizia 'bença, tio Dão', ele respondia, dizia que estava bem, a gente acreditava", disse a sobrinha.