Feira de Frankfurt tem tensão no ar com editoras de extrema direita

Evento decidiu colocar no mesmo espaço editoras de diferentes espectros políticos

© Getty Images

Cultura literatura 15/10/17 POR Folhapress

"Nós não gostamos de estrangeiros. Como você", diz Petrus Lahm, no estande da editora Leopold Stocker, na Feira do Livro de Frankfurt, em dado momento da entrevista na sexta (13). "Você é muçulmano?"

PUB

O tom da conversa é tenso e deixa o interlocutor incrédulo -será uma brincadeira? Depois, fica mais afável e oferece uma aguardente austríaca ao repórter.

A cena se desenrola no corredor G, no primeiro andar, pavilhão 3, na feira. Nesse espaço, ficam as editoras de extrema-direita alemãs, que já deram dor de cabeça ao maior evento literário do mundo -era correto aceitá-las?

A feira deu seu recado criando um ambiente esquisito. No mesmo lugar onde estão a Leopold Stocker e a Antaios Verlag, outra casa de mesmo perfil, espalham-se editoras no lado oposto do espectro político -em vez de proibir os extremistas, a feira quis deixá-los próximos de seu contraponto.

+ Deus vai desaparecer, diz Dan Brown, autor de novo livro

Em frente à Antaios, está a Fundação Amadeu-Antonio, fundação que publica livros sobre direitos humanos e contra o racismo. Ao lado da Leopold Stocker, fica a Casa de Educação Política Anne Frank -instituição que combate a discriminação e orienta vítimas de racismo.

Mais um passo e chega-se ao estande da Fundação Rosa Luxemburgo, filosofa marxista morta por milícias de direita na Alemanha. Lá, vendem-se livros dela e exemplares em capa dura de "O Capital", de Karl Marx.

Na tarde deste sábado (14), pessoas com roupas pretas acumulam-se em frente à Antaios para o lançamento de um livro. Desde a quarta (12), quando a Feira ainda nem havia sido aberta para o público, eles já reuniam mais pessoas do que Leopoldo Stocker e as editoras de esquerda.

Götz Kubitschek, editor da casa e celebridade na extrema-direita, circula por Frankfurt acompanhado de Björn Höcke, um dos líderes do Alternativa para a Alemanha (AfD), o principal partido de extrema-direita no país."Sempre que aparece alguém querendo defender o seu povo, dizem que é de extrema-direita. Não somos nazistas, somos tradicionalistas. Publicamos livros de autores que não teriam espaço em outras casas e é preciso trazer o debate para a sociedade", diz Lahm, da Leopold Stocker.

No centro do pensamento de Lahm, não está a "raça pura", como nos anos 1930 –ela fala em defesa da "cultura alemã". No país, ultranacionalistas tem defendido o chamado "pluralismo racial": outras raças não devem ser exterminadas, mas cada um deve ficar no seu quadrado.

"Não queremos que a cultura alemã desapareça. Tem muitos muçulmanos [na Alemanha]. Querem construir mesquitas em cada cidade. Mas aqui não é o Cairo", diz ele, depois acrescentando ter "muitos amigos" árabes, porque viveu em Tel Aviv.

"Mas as ideias têm que ser discutidas numa democracia. As pessoas [os autores] precisam ter direito de se expressar."

"O conceito de raça está fora de moda, por isso eles dizem isso", diz Daniel Geschke, da Fundação Amadeu-Antonio. "Para mim, é só uma roupagem moderna do fascismo."

A Alemanha vive uma ascensão inédita da extrema-direita. O partido de direita ultranacionalista Alternativa Para a Alemanha conquistou, na última eleição, mais de 90 cadeiras no parlamento do país.

"Tivemos longas discussões nas últimas semanas, porque nos pediram para proibi-los de estar na feira. Conversamos, mas não vamos fazê-lo, porque Frankfurt é uma feira sobre a liberdade de expressão. Mesmo que eu não goste do que eles dizem, tenho que permitir", diz o alemão Juergen Boos, presidente da Feira de Frankfurt.

De todo modo, a feira está atenta porque neste sábado (14), dia em que ela é aberta para o público em geral, há o perigo de confusão.

"Eles não falam mais em raça, e sim em cultura alemã. Mas é um ideal nazista mesmo assim", diz Martin Beck, da Fundação Rosa Luxemburgo.

Na quinta (12), alguns funcionários da Antaios foram provocar os da Casa de Educação Política Anne Frank -que distribui panfletos em uma campanha contra eles.

Mesmo assim, fora da Fundação Amadeu-Antonio, que deu o azar de ser vizinha de porta do extremistas, ninguém parece questionar a decisão da Feira.

"Somos pela liberdade de expressão, não queremos que eles sejam expulsos, mas não vamos ficar calados", diz Anna Bechttoff, da Casa Anne Frank.

Ela acha que a ideia de eles ficarem perto dos nacionalistas foi boa -se algo acontecer, eles esperam servir de contraponto. Com informações da Folhapress.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

brasil Rio Grande do Sul Há 18 Horas

Avião cai em Gramado; governador diz que não há sobreviventes

mundo EUA Há 22 Horas

Professora que engravidou de aluno de 12 anos é condenada

fama WILLIAM-BONNER Há 21 Horas

William Bonner quebra o braço e fica de fora do Jornal Nacional no fim do ano

lifestyle Smartphone Há 22 Horas

Problemas de saúde que estão sendo causados pelo uso do celular

fama Pedro Leonardo Há 23 Horas

Por onde anda Pedro, filho do cantor Leonardo

brasil BR-116 Há 23 Horas

Acidente com ônibus, carreta e carro deixa 38 mortos em Minas Gerais

esporte FUTEBOL-RIVER PLATE Há 22 Horas

Quatro jogadoras do River Plate são presas em flagrante por racismo

fama Vanessa Carvalho Há 22 Horas

Influenciadora se pronuncia após ser acusada de trair marido tetraplégico

mundo Síria 22/12/24

'Villa' luxuosa escondia fábrica da 'cocaína dos pobres' ligada a Assad

fama PRETA-GIL Há 22 Horas

Preta Gil permanece na UTI após cirurgia; estado é estável