© Reuters / Bruno Kelly
Os tiroteios no Rio de Janeiro deixam cerca de mil anos sem poder estudar todos os dias. A cena comum de professores e alunos agachados pelos corredores de escolas é a triste realidade da violência na cidade. Desde o início do ano letivo, 439 unidades escolares municipais estiveram fechadas e, ao todo, 157.920 alunos perderam ao menos um dia de aula entre 2 de fevereiro e 18 de outubro, segundo dados da Secretaria Municipal de Educação.
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O UOL destaca que a maior parte das unidades estão localizadas em bairros e favelas da zona norte e oeste da capital. Nesse período, as escolas da rede funcionaram integralmente em apenas 11 dias.
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A escola Jornalista Daniel Piza, em Acari, bairro em que mais unidades fecharam desde o começo do ano, esteve fechada durante uma semana, após a morte da adolescente Maria Eduarda Alves Ferreira, 13. Ela foi vítima de disparos de fuzil quando tomava água em um bebedouro no pátio da escola.
O diretor da Daniel Piza, Luiz Menezes, explica que a escola esteve fechada devido a entrada de carretas carregadas com produtos roubados, guardados por traficantes fortemente armados no complexo de favelas vizinho à escola, rasantes de helicópteros da Polícia Militar sobre a unidade de ensino em dias de operação. A decisão - de abrir ou não a escola -envolve os pais, professores e até os alunos que avaliam juntos se é possível abrir as portas.
Nos corredores da escola há cartazes pedindo paz, desenhados pelos alunos logo após a tragédia. "Antes sabíamos das dificuldades lá fora [o colégio é vizinho do Complexo de favelas da Pedreira, uma das regiões mais violentas da cidade], mas achávamos que aqui dentro estávamos seguros, que os alunos estavam seguros. Perdemos isso."
O estudo "Educação em Alvo: Os Efeitos da Violência Armada nas Salas de Aula", realizado pela Fundação Getúlio Vargas em conjunto com o aplicativo Fogo Cruzado, destaca que "a exposição à violência gera efeitos duradouros e afeta diretamente as possibilidades de vida dos cidadãos".
O relatório alerta que a convivência com uma rotina de violência interfere na capacidade de aprendizado e de desenvolvimento de novas habilidades, o que compromete as possibilidades de vida de crianças e jovens. Segundo refere o UOL, o documento admite que os problemas da segurança pública são de difícil solução e de longo prazo. O relatório também defende a necessidade de priorizar ações, como a garantia da segurança das áreas de exposição à violência, priorizando o horário de funcionamento das escolas e creches; a realização de capacitações para os professores, de forma que eles possam atender às necessidades especiais de seus alunos decorrentes da exposição à violência; e o oferecimento de condições especiais de contratação para os profissionais que atuam nessas áreas visando garantir estabilidade nas relações escolares para diminuir a alta rotatividade de professores.