Zezé Motta critica campanha de papel higiênico preto e pede 'respeito'

Atriz falou sobre sua participação no movimento 'Black is beautiful' nos anos 1960

© Divulgação/TV Globo

Fama Polêmica 25/10/17 POR Notícias Ao Minuto

A atriz Zezé Motta, que está no elenco da novela "O Outro Lado do Paraíso", publicou um depoimento em seu Instagram, nesta terça-feira (24), criticando a campanha da Personal, que lançou o primeiro papel higiênico preto do país. A marca usou como slogan #BlackIsBeautiful, nome do movimento cultural liderado por negros nos anos 1960.

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"Tenho propriedade para falar sobre o assunto, vi com meus próprios olhos, sei o que foi dentro de mim (...) Eu tinha comprado uma peruca lisa chanel e representava com ela. Quando nos apresentamos no Harlem, um grupo de militantes negros ficou chocado com o fato de eu usar peruca. Era o auge do black is beautiful, e a gente tinha que manter as características originais da raça. O Boal ainda me defendeu, disse que eu era engajada e tudo o mais", disse Zezé.

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"Nesse dia, voltei para o hotel, tomei um banho demorado e deixei meu cabelo voltar ao natural. É que, além da peruca, eu fazia alisamento com pente quente. Ali eu comecei a me aceitar como negra. Saía nas ruas do Harlem e reparava que os negros americanos andavam de cabeça erguida. Não tinha essa postura subserviente que eu sentia no Brasil e em mim mesma. Essa viagem teve essa importância de fazer com que eu enxergasse meu país de fora", declarou.

A atriz ainda falou sobre a questão do embranquecimento, disse que o movimento Black is Beautiful foi empoderador para ela e terminou pedindo "respeito, por favor". Leia:

Não estou aqui para julgar uma atriz que faz campanha enrolada em um papel higiênico preto. Cada um faz e aceita o trabalho que melhor lhe convém. Mediante a tantas ligações e mensagens, gostaria apenas de esclarecer o que muitos ainda não sabem, quanto a importância do #BlackisBeautiful. Tenho propriedade para falar sobre o assunto, vi com meus próprios olhos, sei o que foi dentro de mim. Foi em 1969, viajei aos Estados Unidos com o grupo do Augusto Boal para encenar Arena Conta Bolívar e Arena Conta Zumbi. Ficamos três meses na estrada. Fomos também ao México e ao Peru. Eu tinha comprado uma peruca lisa chanel e representava com ela. Quando nos apresentamos no Harlem, um grupo de militantes negros ficou chocado com o fato de eu usar peruca. Era o auge do black is beautiful, e a gente tinha que manter as características originais da raça. O Boal ainda me defendeu, disse que eu era engajada e tudo o mais. Nesse dia, voltei para o hotel, tomei um banho demorado e deixei meu cabelo voltar ao natural. É que, além da peruca, eu fazia alisamento com pente quente. Ali eu comecei a me aceitar como negra. Saía nas ruas do Harlem e reparava que os negros americanos andavam de cabeça erguida. Não tinha essa postura subserviente que eu sentia no Brasil e em mim mesma. Essa viagem teve essa importância de fazer com que eu enxergasse meu país de fora. Voltei ao Brasil. E cheguei pensando: Agora ninguém me segura! Isso, porque na adolescência tive a fase de embranquecimento. Minhas amigas diziam: “Seu nariz é chato, seu cabelo é ruim, sua bunda é grande”. E aí comecei a não gostar de nada em mim... Descobri que era questão da autoestima bem resolvida. Para uns pode parecer bobagem, mas para mim e para milhares de negras que viveram em plena década de 70, Black is Beautiful foi alto extraordinário, passamos a nos aceitar, a nos empoderar, e não posso achar interessante uma campanha de “papel higiênico” PRETO (tá, tudo bem, sem nenhum problema pois preto é uma cor, até aí, nenhuma “criatividade” como essa me choca mais), ser VENDIDA COMO BLACK IS BEAUTIFUL. RESPEITO, POR FAVOR...

Uma publicação partilhada por Z E Z E M O T T A (@zezemotta) a Out 24, 2017 às 1:23 PDT

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