© iStock
A esquizofrenia é um transtorno mental crônico, devastador e caracterizado por originar pensamentos e experiências que não têm ligação com a realidade. Os pacientes sofrem com diversos estigmas e preconceitos. Para esclarecer pontos importantes sobre a doença, o psiquiatra Wagner Farid Gattaz fala sobre alguns mitos e verdades sobre a esquizofrenia. Confira!
PUB
+ Pesquisa: a cada 5 minutos um brasileiro morre em decorrência do AVC
1. É possível identificar sinais que podem indicar o surgimento da esquizofrenia? Sim. Em geral, 80% das esquizofrenias começam por um certo alheamento em relação às circunstâncias que rodeiam o paciente. São sintomas que ocorrem mais no íntimo dos indivíduos e causam menos impacto nos outros – isolamento, olhar perdido, indiferença. É uma fase caracterizada por muita tensão e ansiedade. A pessoa sente que algo está acontecendo, mas não sabe dizer o que é. O quadro de alucinações e de delírios, que chama mais atenção, surge mais tarde.
2. O consumo de drogas pode estar associado ao surgimento da doença? Sim. Sabe-se que alguns agentes são gatilhos importantes para o início das alterações cerebrais e para o posterior aparecimento dos sintomas da doença. O uso de drogas e o tabagismo estão entre esses fatores de risco.
3. Pessoas com o transtorno perdem a capacidade de ter emoções? Não. Os pacientes com esquizofrenia seguramente sentem, mas têm dificuldades de expressar seus sentimentos. Por isso as pessoas tendem a interpretar que eles não possuem mais a capacidade de ter emoções. No seu íntimo, no entanto, sofrem, com essa limitação.
4. A esquizofrenia impacta a vida sexual do paciente? Sim. O paciente com esquizofrenia apresenta um estado de depressão e de desmotivação que causa a perda da libido, que é a vontade e o interesse pelo prazer. Mesmo que as condições fisiológicas, hormonais e vasculares estejam em perfeito funcionamento, o desejo sexual fica comprometido e deixa de ser acionado quando há um problema no psiquismo.
5. O interesse por temas exóticos é uma característica da doença? Sim. Alguns pacientes com o transtorno podem apresentar interesse por temas exóticos, místicos e religiosos, assim como qualquer outra pessoa. A diferença, neste caso, é que o assunto passa a dominar o dia a dia do paciente. A ocorrência de dúvidas sobre sua existência também é comum no início dos sintomas.
6. Pacientes com esquizofrenia são desatentos e têm dificuldades de memória? Sim. As pessoas com tendência de desenvolver a enfermidade podem apresentar, problemas de concentração, memória e de aprendizado, que levam a uma diminuição da capacidade de raciocínio lógico. Apresentam tambem sintomas de ansiedade, como palpitações, taquicardia, falta de ar e inquietação. Por esse motivo, muitas vezes a esquizofrenia é confundida inicialmente com depressão ou outras desordens como pânico e transtorno obsessivo-compulsivo.
7. Mudanças na aparência e nos cuidados com a higiene são comuns na esquizofrenia? Sim. É possível que eles apresentem uma negligência na higiene básica por apresentar um quadro de desmotivação, passando a vestir roupas inapropriadas ou sujas. Além disso, o paciente também descuida da alimentação.
8. A violência é um comportamento constante do transtorno? Não. Pessoas com esquizofrenia podem ter momentos de agressividade, quando em crise, mas em 93% dos casos, não são violentas. O que ocorre mais frequententemente é que pacientes com esquizofrenia, principalmente aqueles que vivem com habitantes das ruas, sejam vítimas da violência urbana.
9. O objetivo do tratamento é acalmar o paciente? Não. A cessão dos sintomas é um dos aspectos relacionados ao tratamento da esquizofrenia, mas a abordagem deve visar à retomada da funcionalidade do paciente para o restabelecimento da sua vida social. Por isso, quanto mais precocemente a esquizofrenia for tratada, menos danos trará aos doentes. Não só porque o início precoce impede que a doença provoque danos mais sensíveis na personalidade do paciente, mas também porque evita que ele abandone sua rotina de vida.
10. A esquizofrenia é uma condição de difícil tratamento? Não. Nas últimas décadas, houve grande avanço no tratamento da esquizofrenia. A medicação é a base da terapia. Ela tanto controla a crise na fase aguda da doença, como ajuda a prevenir recaídas, com o uso de medição por um longo prazo. Apesar de essa necessidade de tratamento prolongado ser bem reconhecida pelo médico, frequentemente, não é sempre bem aceita pelos pacientes, que acabam interrompendo a medicação, já que se sentem bem e não veem motivo para continuar tomando o remédio. Em alguns casos, a introdução das terapias de ação prolongada, de uso injetável, é uma alternativa para possibilitar maior adesão ao tratamento desse perfil de paciente, pois a aplicação pode ter um espaço de semanas.