Odebrecht diz que Bendine já pedia propina na presidência do BB

Ex-presidente da Petrobras está preso preventivamente desde o fim de julho

© Valter Campanato/Agência Brasil

Política depoimento 09/11/17 POR Folhapress

O executivo Marcelo Odebrecht disse, em depoimento ao juiz Sergio Moro, nesta quinta-feira (9), que já havia recebido pedido de propina de Aldemir Bendine no primeiro semestre de 2014.

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Na época, Bendine ainda era presidente do Banco do Brasil. Em fevereiro de 2015, veio a se tornar presidente da Petrobras.

Aldemir Bendine é acusado pelo Ministério Público de solicitar R$ 3 milhões em propina para executivos da Odebrecht, a fim de proteger a empreiteira em contratos da estatal. Ele está preso preventivamente desde o final de julho.

No depoimento, Marcelo Odebrecht afirmou que Bendine nunca o abordou diretamente sobre o tema. Segundo ele, os pedidos eram feitos por meio do publicitário André Vieira da Silva para o diretor da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis. Além de Bendine, os três também são réus no processo.

De acordo com Marcelo, Bendine pedia, em 2014, por meio de André, 1% sobre a reestruturação de uma dívida da Odebrecht com o Banco do Brasil.

"Eu não dei muita 'bola' para esse achaque. Achava que ele não teria condições de atrapalhar. Neguei", disse.

O executivo afirmou que começou a levar Bendine mais a sério em janeiro de 2015, após uma reunião com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). No encontro, Marcelo disse ter pedido à petista que ela definisse um interlocutor para interagir com as empresas afetadas financeiramente pelo avanço da Lava Jato. Dilma, então, teria nomeado o ex-ministro Aloizio Mercadante, para quem Marcelo, em seguida, teria enviado algumas notas.

No mesmo mês, o empreiteiro afirmou ter tido uma reunião com Bendine. "Quando cheguei lá, as mesmas notas que mandei para o Mercadante estavam em uma pasta", disse a Moro. "Ele se colocou como indicado pela Presidência para resolver os problemas derivados da Lava Jato."

Marcelo disse que, quando Bendine assumiu a presidência da Petrobras, "a coisa mudou um pouco de figura". "Ele tinha uma posição que, de fato, poderia atrapalhar a gente".

Em maio de 2015, houve, segundo o empresário, uma reunião na casa de André Vieira da Silva, com Bendine e Fernando Reis.

"O Fernando chegou antes, eu não conhecia o André até então. (...) Me disseram: 'Olha, ele [Bendine] vai, em um contexto da reunião, falar isso como se fosse uma senha, dessa forma vai ficar evidenciado o pedido que André está fazendo."

Durante a conversa, sobre Lava Jato e Petrobras, Marcelo afirmou que Bendine "trouxe claramente aquelas palavras", como André disse que faria. Ele afirmou não se recordar exatamente qual era a senha, mas que fugia do contexto da conversa. Foi então que o executivo disse ter orientado Fernando Reis a pagar a propina "aos poucos", "avaliando a capacidade dele atingir a gente".

"A gente fez três pagamentos de um milhão cada. Eu fui preso logo depois do primeiro pagamento", contou Marcelo a Moro.

Condenado em 2016 a 19 anos, Odebrecht está preso desde junho de 2015. Como parte de acordo de colaboração premiada homologado em janeiro de 2017, o executivo deve cumprir pena em regime fechado até o mês que vem.

Questionado pelo juiz se houve extorsão por parte de Bendine, o empresário afirmou que o ex-presidente da estatal nunca foi ameaçador. "Se mostrou disposto a ajudar a empresa, dizia que uma das razões que tinha sido nomeado presidente era para acabar esse clima de embate. Na hora que você quebra financeiramente as empresas, facilita que comecem a colaborar com a Justiça", disse.

Segundo Marcelo, a postura com Bendine era "muito mais positiva" do que com a antecessora Graça Foster. "Se mostrou muito mais aberto."

Em depoimento a Moro no fim de outubro deste ano, Dilma reafirmou várias vezes que não queria que Graça Foster se afastasse da direção da estatal. "Tentava evitar o máximo possível [a saída dela]", disse.Segundo a ex-presidente, Bendine foi aprovado para a presidência da Petrobras por causa do "desempenho significativo" que teve à frente do Banco do Brasil.

OUTRO LADO

Bendine tem negado as suspeitas e diz nunca ter recebido vantagens ilícitas.A defesa de Vieira da Silva sustenta que seu cliente realizou serviços para a Odebrecht, e que, por isso, teria recebido o valor de R$ 3 milhões em consultoria. Com informações da Folhapress.

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