'Lola Pater' combina questões étnicas e relativas à sexualidade

Filme do francês Nadir Moknèche mistura tais questões aos artifícios próprios do melodrama e da comédia

© Divulgação

Cultura Cinema 23/11/17 POR CÁSSIO STARLING CARLOS, para Folhapress

Na atual epidemia de filmes de mensagens, alguns conseguem ultrapassar as limitações da moral da história recorrendo à mescla de gêneros. "Lola Pater", do francês Nadir Moknèche, combina questões étnicas e relacionadas à sexualidade a artifícios próprios do melodrama e da comédia.

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A busca do pai é o motivo central da desordem afetiva de Zino, logo após a morte da mãe. Para resolver questões de herança, o jovem descendente de uma família argelina precisa localizar o pai, Farid, que logo sabemos ter se transformado em mulher. Agora, ele é Lola e vive ao lado de uma nova companheira.

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Farid era tão mulherengo que, ao se assumir como transexual, deu vazão a seu lado lésbico. Esse enredo parece preencher todos os requisitos da diversidade sexual e funcionar como uma aula sobre tolerância.

No entanto, Moknèche demonstra habilidade para não reduzir tudo à caricatura. A origem árabe dos personagens agrega outras camadas, como a rigidez moral associada aos papeis masculinos e a leve subversão quando, no lugar do pai, se encontra a imagem inesperada de uma mulher madura e sensual.

Assim, a delimitação entre gêneros é ultrapassada e o modo como os personagens reagem à surpresa aponta para o limite como fonte de sofrimentos. Enquanto Zino repele o pai como "doente", a ex-cunhada o recebe com afagos e tece elogios à boa forma de Lola.

O humor é um efeito que abre brechas pelas quais o filme respira. Outra qualidade aparece no registro dos afetos, quando o pai transformado passa a ocupar também o lugar de mãe e provoca um curto-circuito nas ideias preconcebidas acerca dos papeis masculinos e femininos na família.

A contribuição de Fanny Ardant é outro elemento fundamental, com um trabalho de voz em que a rouquidão faz persistir um traço masculino sob as formas curvilíneas da mulher madura. Em vez de interpretar a personagem como um ex-homem, Ardant projeta seus encantos femininos como se o corpo fosse uma casa, e a atriz, um lugar onde o personagem se hospeda.

Em paralelo, a casa vazia da mãe morta é visitada por Zino que não encontra ali mais uma presença, apenas a solidão.

Esse conjunto de vantagens só desanda quando Moknèche adota o caminho da emoção fácil no desenlace e abandona a confiança no poder da leveza. Com informações da Folhapress.

LOLA PATER

DIREÇÃO Nadir Moknèche

ELENCO Fanny Ardant, Tewfik Jallab, Nadia Kaci

PRODUÇÃO França/Bélgica, 2017

AVALIAÇÃO regular

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