D'Ávila fala em apoio ao PT e ataca Bolsonaro: 'Parlamentar invisível'

Em entrevista exclusiva ao Notícias ao Minuto Brasil, pré-candidata à presidência da República pelo PCdoB também comentou a crise política vivida pelo país, e quais são suas perspectivas para as próximas eleições

© Richard Silva / PCdoB na Câmara

Política Entrevista 15/12/17 POR Guilherme F. Bernardo

A deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) oficializou sua pré-candidatura à presidência da República no último dia 8 de novembro. O anúncio foi recebido com certa surpresa por boa parte dos eleitores, já que desde 1989 seu partido não lançava um candidato próprio ao Planalto.

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“O PCdoB tem grandes nomes e eu me sinto honrada por ter sido a escolhida.” Chegou a declarar a pré-candidata, quando fez o comunicado aos seus eleitores.

Com uma extensa trajetória pública que não condiz com seus 36 anos, Manuela D’Ávila ingressou na política aos 18 anos, por meio do movimento estudantil, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC), em Porto Alegre. Lá, formou-se em Jornalismo.

Em 2001, aos 20 anos, Manuela filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), onde ocupou a vice-presidência Sul da União Nacional dos Estudantes (UNE). Desde então foi vereadora, deputada federal por duas vezes, deputada estadual, e agora pré-candidata à presidência em 2018.

Em entrevista ao Notícias ao Minuto Brasil, ela falou sobre as propostas da sua campanha, sobre um possível enfrentamento com o deputado Jair Bolsonaro (PSC), e a respeito de uma possível alianças com o ex-presidente Lula (PT). 

Com a confirmação da sua candidatura para a presidência em 2018, como pretende finalizar seu mandato como deputada estadual?

Estamos trabalhando com o mesmo afinco de sempre, participo das sessões ordinárias, das comissões. Eu e minha equipe estamos a mil. As agendas de campanha são feitas fora desse período. 

Quais são as suas propostas de campanha para 2018?

O tema central é a política econômica, retomar o crescimento. Politicamente, a candidatura defende uma frente ampla, que é a ideia de reunir setores da sociedade, sindicatos, movimentos sociais, gente comum. Como a gente faz para o Brasil entrar nesse período da revolução 4.0, da tecnologia, da 'quarta Revolução Industrial'? Precisamos entender qual é o papel do Estado na indução desse crescimento. Precisamos saber qual é o Estado que servirá melhor ao povo. De forma mais eficiente? Claro. Mas o debate sobre o Estado não é uma mera discussão sobre gestão. A gestão é fundamental, o Estado tem que funcionar, ser harmônico e ter menos burocracia. Mas a gente não pode fazer com que esse debate dê a ideia de que irá resolver o problema da retomada do crescimento do Brasil. A gente está discutindo emprego. Melhorar gestão não necessariamente gera emprego.

O PCdoB nunca teve um candidato próprio ao Planalto, desde a redemocratização. O que levou o partido a optar pela sua candidatura em 2018?

No decorrer da construção do congresso nacional do partido, avaliamos que a melhor forma de apresentar as saídas que a gente interpreta como as melhores para a crise do Brasil seria lançando essa pré-candidatura. Foi um processo de meses de conversas com a direção do partido.

O que o PCdoB, mesmo sendo um partido com 55 anos desde a sua fundação, pode trazer de novo para o cenário político brasileiro?

Temos um projeto para o Brasil sair da crise e para a construção de uma unidade da nação. Acreditamos que é importante que o país debata a retomada do seu crescimento. Defendemos também o debate profundo sobre medidas que Temer tomou e que prejudicam as cadeias produtivas mais dinâmicas do Brasil e a indústria nacional, como é o caso da TJLP (taxa de juros de longo prazo) e das operações no BNDES. Esse debate tem muito a ver com a nossa juventude. A gente tem uma leva de jovens brasileiros que acaba deixando o País pelo processo de desindustrialização. Queremos debater como nós vamos fazer para encontrar saídas enquanto nação.

O Brasil vive um momento de polarização ideológica, em que uma extrema direita vem ganhando cada vez mais voz nas redes sociais e nas pesquisas eleitorais, com o deputado Jair Bolsonaro bem posicionado. Como a senhora encara esse possível adversário para 2018?

Ele é usado como alternativa da extrema direita para que uma eventual candidatura de centro cresça, mas sem ser de centro. O Alckmin, por exemplo, não é um candidato de centro, mas, diante do Bolsonaro, ele pode parecer. Por isso precisamos debater ideias. Para que aqueles que defendem o fim do Estado não se passem por alternativas centristas, que não são. O Bolsonaro tem feito um esforço para aglutinar o ódio e o medo. Quando falei, no anúncio da minha pré-candidatura, que o bom senso da população é o principal adversário do Bolsonaro, é porque o medo e o ódio não são propostas para sair da crise que o Brasil vive. Fui colega dele por oito anos e sei que foi um parlamentar invisível. Ele não tem propostas sequer para as áreas nas quais estimula o ódio. Qual é a proposta dele para a segurança pública?

Essa é a primeira vez, desde 1989, que o PCdoB e o PT devem disputar, separados, o cargo de presidente. No caso de candidatura do Lula, o partido pensa em apoiá-lo, caso ocorra um segundo turno?

Nosso campo deve estar unido no segundo turno.

A deputada utiliza bastante as redes sociais para pautar assuntos relevantes aos seus eleitores. Como lida com os haters?

Temos uma política de relacionamento na nossa página. Além disso, temos advogados que nos dão suporte em como lidar com cada caso. Se o comentário for muito agressivo, analisamos a possibilidade de ingressarmos na Justiça contra a pessoa. Minha página é aberta para o debate, para o debate sadio.

Provavelmente a senhora será a candidata mais nova que concorrerá a presidência em 2018. Acha que isso pode facilitar seu diálogo com os eleitores mais jovens?

Sim, pode ajudar. Quero debater com a juventude em qual Brasil queremos viver, e ter ou criar nossos filhos.

Vários nomes bem conhecidos do público, mas com pouco envolvimento na política, vêm sendo apontados como possíveis candidatos para a presidência. Como vê esse fenômeno? Acha que os eleitores estão cansados dos nomes tradicionais da política brasileira?

O problema do Brasil é político. Não vai se resolver essa crise por fora da política. É contraditório dizer que alguém fora da política vá resolver a crise brasileira. Essa pessoa não vai se sentar com os presidentes de outros países? Não vai se sentar com setores econômicos do nosso país? Isso é fazer política. Não há ninguém mais 'insider' da política do que aquele que se diz 'outsider' dela.

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