© Reprodução / El País Brasil
Uma feira cultural dos alunos do nono ano de uma das cinco unidades do colégio particular Pinheiro Guimarães, no Rio de Janeiro, virou motivo de polêmica após uma mãe divulgar que o filho teria sido obrigado a usar batom, já que uma das turmas optou pelo tema "identidade de gênero". A feira seria composta por 45 estandes organizados pelos estudantes e, um deles, iria abordar o tema em questão, mas a atividade precisou ser suspensa após a repercussão da polêmica.
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Em um áudio, a mãe um adolescente diz que não aceitava a participação do filho neste tipo de atividade. “Que absurdo o colégio do meu filho impondo ele apresentar a feira cultural de camisa rosa e batom na boca [...] para ganhar dois pontos em cada matéria. Eu não aceito, eu não aceito, eu não aceito! [...] Não vou deixar meu filho participar de uma nojeira dessas. Homem é homem. Mulher é mulher. Macho é macho. Fêmea é fêmea”, dizia a gravação, que viralizou graças ao compartilhamento do deputado Eduardo Bolsonaro sob a chamada: “Menino que usar batom ganhará nota em colégio particular do Rio”.
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A verdade é que a iniciativa da feira cultural não passava pelo uso de batom por parte dos meninos. No entanto, como destaca o maria María Martín, do El País Brasil, o boato divulgado pela mãe do estudante foi alimentado pelo ator Carlos Vereza e pelo deputado federal Jair Bolsonaro.
Vereza chegou a dizer que "o colégio obrigou o aluno a usar batom para ter a nota aumentada". O ator se manifestou a pedido de que o presidente Michel Temer adotasse medidas para "parar com a solerte ideologia de gênero". “Tem professores tirando o artigo “o” e o artigo “a” e colocando "x", estão brincando de Deus e mudando toda a biologia. Por mais que eles inventem, homem não tem útero. E mulher não tem pênis”, disse o ator de 78 anos após a reunião com o presidente.
O boato também foi divulgado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-RJ). "O colégio Pinheiro Guimarães dará 2 pontos para meninos que forem à feira cultural usando roupa rosa e de batom. Para as meninas o traje será azul. O tema da “feira” é ideologia de gênero", escreveu o parlamentar.
A aluna Bruna, de 17 anos, uma das integrantes do grupo que falaria sobre identidade de gênero, falou sobre a intenção da mostra. “A gente ia explicar o que significa se olhar no espelho e não se reconhecer. Queríamos falar de respeito e empatia. Muitas pessoas acham que seus filhos podem ser influenciados, que podem virar gays por falar sobre isso, mas não tem nada a ver”, diz. “Era uma proposta importante porque dava visibilidade a essas pessoas que são tratadas como se não existissem, como se não fossem pessoas, e elas sofrem demais”, completa.
Após a falsa denúncia da mãe, o celular da professora responsável pela turma foi divulgado na Internet e a docente começou a receber ameaças. Além disso, comentários nas redes sociais instigavam a ações violentas contra o colégio, os alunos e o diretor da instituição.
“A gente não esperava essa reação. Sabíamos que era um tema difícil, mas não nessa proporção. Nossa diretora foi ameaçada de forma mais pessoal, eram ameaças violentas. Ficamos preocupados com ela e conosco. Mudar o tema foi nossa forma de proteção”, reclama Bruna.