'Antes o Tempo Não Acabava' fala sobre identidade indígena

É o antigo enredo da crise de identidade e subjetividade de quem se acha perdido entre duas culturas

© Divulgação

Cultura Crítica 30/11/17 POR LUIZ CARLOS OLIVEIRA JR., para Folhapress

LUIZ CARLOS OLIVEIRA JR. - A primeira sequência de "Antes o Tempo Não Acabava" mostra um ritual de iniciação da etnia Tikuna. Os adultos preparam uma substância com folhas, ervas e formigas e untam luvas que serão vestidas por meninos que fazem fila.

PUB

Num primeiro momento, o registro é descritivo, exterior às ações. Até que a câmera se detém no rosto de um dos meninos, que tem o olhar assustado.

+ Daphne e Velma serão destaque no filme Scooby-Doo

A cena é então invadida pelo drama, pelo conflito de um indivíduo com seu meio. A partir dessa escolha dramática, o filme assume uma visão predicativa da cultura indígena, construindo um ponto de vista que nenhum antropólogo aprovaria.

Um salto temporal leva o filme para outro momento: aquele menino é agora um jovem que trabalha numa fábrica da Zona Franca de Manaus e, terminado o expediente, retorna à aldeia, num movimento pendular que define o filme e seu protagonista.

É o antigo enredo da crise de identidade e subjetividade de quem se acha perdido entre duas culturas. Anderson é um jovem indígena que não se identifica com as tradições da tribo (brutais aos seus olhos), mas também desconfia da cidade e dos seus valores corrompidos.

Algumas rotinas do cinema contemporâneo se repetem sem brilho ou inovação particular: planos longos que acompanham as deambulações do protagonista, rarefação do arco dramático, privilégio do sensorial sobre o psicológico, enfim, uma estratégia de jogar mais com afetos ambíguos do que com significações estritas.

Sente-se a influência de certo cinema asiático prestigiado no circuito de arte (Apichatpong Weerasethakul, Lav Diaz).

A força de momentos isolados vem de "fraquezas": da hesitação verdadeira de algumas atuações naïf e da decupagem às vezes selvagem, violenta, que dispensa a sintaxe cinematográfica -tanto a do cinema narrativo convencional quanto a do "world cinema" contemporâneo, que também fornece uma gramática normativa a quem quiser.

Nesses momentos de menor adequação a um padrão surgem lampejos, como naquele primeiro plano frontal e à queima-roupa do rosto de Anderson no cartório, pedindo ao funcionário que lhe diga, sem rodeios, como faz para registrar seu "nome de branco".

Talvez por ingenuidade, nas cenas em que o desejo de emancipação (sexual, social) de Anderson é confrontado aos líderes da aldeia o filme resvala em momentos desastrosos, que expõem uma fragilidade de ponto de vista, no sentido tanto de um ângulo de construção cênica e narrativa quanto de uma moral do olhar e do ato cinematográfico.

ANTES O TEMPO NÃO ACABAVA (regular)

DIREÇÃO Sérgio Andrade e Fábio Baldo

ELENCO Anderson Tikuna, Rita Carelli, Begê Muniz

PRODUÇÃO Brasil/Alemanha, 2016, 16 anos

QUANDO estreia nesta quinta (30)

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

politica Polícia Federal Há 10 Horas

Bolsonaro pode ser preso por plano de golpe? Entenda

esporte Indefinição Há 10 Horas

Qual será o próximo destino de Neymar?

fama MAIDÊ-MAHL Há 11 Horas

Polícia encerra inquérito sobre Maidê Mahl; atriz continua internada

brasil Brasil Há 6 Horas

Jovens fogem após sofrerem grave acidente de carro; vídeo

justica Itaúna Há 10 Horas

Homem branco oferece R$ 10 para agredir homem negro com cintadas em MG

economia Carrefour Há 8 Horas

Se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros, diz Fávaro, sobre decisão do Carrefour

fama Segunda chance Há 23 Horas

Famosos que sobreviveram a experiências de quase morte

brasil São Paulo Há 11 Horas

Menina de 6 anos é atropelada e arrastada por carro em SP; condutor fugiu

fama Documentário Há 2 Horas

Diagnosticado com demência, filme conta a história Maurício Kubrusly

fama Autobiografias Há 5 Horas

Celebridades que publicaram autobiografias reveladoras