© REUTERS/Leonhard Foeger
Militares venezuelanos prenderam nesta quinta-feira (30) por suposta corrupção o ex-presidente da petroleira estatal PDVSA Eulogio del Pino e o ex-ministro de Petróleo Nelson Martínez. Ambos já haviam sido destituídos de seus cargos no último fim de semana.
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Engenheiro, Del Pino é acusado de participar de um esquema de corrupção de US$ 500 milhões na joint venture da PDVSA com a Petrozamora.
Martínez (foto) teria autorizado, sem consentimento do governo, um acordo de refinanciamento para a Citgo, subsidiária da petroleira nos EUA, afirmou o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab.
As prisões desta quinta-feira (30) são o último desdobramento de uma investigação que, nos últimos meses, levou à cadeia 65 executivos da empresa estatal.
Na semana passada, as autoridades venezuelanas prenderam o presidente e cinco vices da PDVSA por "roubo descarado", nas palavras de Maduro.
Agora, as atenções se voltam para Rafael Ramírez, embaixador venezuelano na ONU destituído na quarta-feira (29) pelo ditador Nicolás Maduro e chamado de volta a Caracas.
Ramirez fora enviado por Maduro ao posto nas Nações Unidas em 2014, afastando-o de sua forte atuação no setor de petróleo no país.
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'SABOTAGEM'
O novo ministro de Petróleo e presidente da PDVSA, general Manuel Quevedo, denunciou nesta quinta-feira (30) uma "sabotagem da produção" no país e ameaçou deixar de vender petróleo para os EUA -possibilidade que analistas consideram pouco provável.
"Tivemos que prender mais de 20 pessoas que estiveram envolvidas em um plano de sabotagem da produção", afirmou Quevedo durante uma reunião da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em Viena.
O "plano de sabotagem" foi comparado por Quevedo com "o que aconteceu na Venezuela em 2002 e 2003, um golpe orquestrado contra o presidente [Hugo] Chávez". "Desta vez, estavam fazendo todo um planejamento para ir reduzindo a produção."
País com as maiores reservas de petróleo do mundo, a Venezuela produziu em outubro passado 1,94 milhão de barris diários, 160 mil a menos do que no mesmo mês do ano anterior.
Em meio ao menor nível de produção desde 1989, Maduro nomeou Quevedo para a pasta, no último domingo (26), com o objetivo de fazer uma "limpeza" e aumentar a produção.
"Temos que fazer pelo menos 1 milhão de barris a mais do que estamos produzindo hoje", pediu Maduro na quarta-feira, em Caracas.
Contudo, esse "milhãozinho", como ele definiu, não será fácil de alcançar, segundo vários analistas, que apontam a falta crônica de investimentos e a corrupção como principais causas da crise do setor petroleiro do país.
"Existe uma cultura da corrupção e, além disso, não foram mantidos os meios de produção. Portanto, (esse objetivo) é utópico, impossível. Talvez, se pudesse aumentar a produção em 200 ou 300 mil barris, mas fariam falta anos de investimento", afirma o analista em energia Alexandre Andlauer, da consultoria Alphavalue.
AMEAÇAS AOS EUA
Quando os preços do petróleo começaram a cair em 2014, o governo venezuelano reduziu drasticamente as importações e provocou uma escassez severa de alimentos e remédios.
Apesar de, desde então, os preços terem se recuperado, a Venezuela vive em colapso econômico. A crise levou um grupo de credores e de agências de classificação financeira a declararem o país e a PDVSA em calote parcial.
Além disso, desde agosto, os Estados Unidos aplicam sanções à Venezuela, proibindo seus cidadãos e empresas de negociarem novas dívidas emitidas pelo governo e pela petroleira.
Por causa desse "sequestro" financeiro denunciado por Caracas, Maduro ameaça deixar de vender petróleo para os Estados Unidos, uma possibilidade que não foi descartada, nesta quinta-feira, pelo ministro Quevedo.
"Temos toda a vontade de vender petróleo para o povo dos Estados Unidos, mas, se seu governo não quiser ajudar o povo americano, nós procuraremos outros mercados, tranquilamente", afirmou em Viena.
Na prática, os Estados Unidos são o maior cliente da Venezuela, pois compram 750 mil do 1,9 milhão de barris diários produzidos. Por isso, observadores do setor acham difícil que essa ameaça seja cumprida.
"Não levo a sério a ameaça porque, na realidade, não têm outros compradores de seu petróleo", afirma Joseph McMonigle, da Hedgeye.
O analista também descarta um embargo total de Washington à compra da commodity venezuelana. "As sanções atuais já estão tendo impacto. Não acredito que os Estados Unidos vão proibir as importações da Venezuela, mas isso pode mudar." Com informações da Folhapress.