© Alessandro Bianchi / Reuters
O ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi virou réu nesta quinta-feira (30) por corrupção em atos judiciários no caso "Ruby ter", que investiga se o líder conservador pagou mesadas para pessoas mentirem em seu favor nos tribunais.
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A juíza de audiência preliminar da Corte de Siena, Roberta Malavasi, acolheu uma denúncia do Ministério Público que acusa o ex-chefe de governo de ter dado dinheiro a Danilo Mariani, pianistas das festas que ele concedia em sua mansão em Arcore, em Milão, para induzi-lo a dar falso testemunho sobre suas noitadas com prostitutas.
Berlusconi teria mascarado o pagamento de 3 mil euros por mês com o título de "reembolso de despesas". O pianista também virou réu no processo, e a primeira audiência está marcada para 1º de fevereiro de 2018.
Essa é a primeira vez que o ex-primeiro-ministro se torna réu no "Ruby ter" após o caso ter sido desmembrado por um juiz de Milão, em 2016, entre sete províncias italianas. A decisão foi tomada porque, segundo o magistrado, os eventuais subornos devem ser julgados pela jurisdição onde os pagamentos teriam ocorrido.
No caso de Mariani, o suposto crime teria sido praticado no território da província de Siena, situada na região da Toscana, norte da Itália. Berlusconi já foi denunciado pelo mesmo delito, na semana passada, pela Procuradoria da República em Turim, no Piemonte.
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Neste caso, a mesada teria sido dada à ex-modelo Roberta Bonasia. Os investigadores acreditam que o ex-primeiro-ministro teria gastado mais de 10 milhões de euros entre 2010 e 2014 para manipular testemunhas no caso "Ruby", no qual foi absolvido dos crimes de prostituição de menores e abuso de poder.
Uma dessas pessoas seria a brasileira Iris Berardi, que participava das festas nas mansões de Berlusconi - apelidadas de "bunga-bunga" - e foi flagrada em um grampo dizendo que sentia "falta da mesada do papai". Em julho de 2016, com votação secreta, o Senado da Itália proibiu a Procuradoria de usar a interceptação como prova no "Ruby ter".
Mais tarde, os investigadores levantaram indícios de que os pagamentos teriam continuado pelo menos até outubro de 2016.
Longa lista de processos
Berlusconi já foi condenado a um ano de serviços sociais por fraude fiscal, em 2013, pena que levou à cassação de seu mandato de senador e o deixou inelegível até 2019.
Além disso, foi sentenciado a três anos de prisão por compra de apoio no Parlamento, mas o crime foi declarado prescrito pela Corte de Apelação de Nápoles. A decisão de tornar Berlusconi réu chega no momento em que ele tenta derrubar sua inelegibilidade no Tribunal Europeu de Direitos Humanos, em Estrasburgo (França), e faltando poucos meses para as eleições legislativas na Itália.
O país deve ir às urnas para renovar seu Parlamento em março de 2018, e a centro-direita aparece com boas chances de voltar ao governo, desde que se confirme uma coalizão com os ultranacionalistas da Liga Norte.
Político tardio, Berlusconi iniciou sua vida pública no começo dos anos 1990, se aproveitando do rastro de desencanto deixado pela Operação Mãos Limpas (a "Lava Jato italiana"), e governou o país em três períodos (1994-1995, 2001-2006 e 2008-2011).
Nesse meio tempo, personalizou a política na Itália de uma forma nunca antes vista e se envolveu em escândalo atrás de escândalo. No mais grave deles, foi acusado de fazer sexo com uma garota de programa marroquina menor de idade, "Ruby Rubacuori", ou "Ruby Rouba Corações".
O relacionamento com a jovem levou a público as noitadas promovidas nas mansões do ex-primeiro-ministro e o colocou no banco dos réus por prostituição de menores e abuso de poder. Alegando não saber a idade das meninas que frequentavam suas casas, ele foi absolvido pela Corte de Cassação de Roma, mas promotores agora o acusam de ter comprado o silêncio das garotas com gordas mesadas. Com informações da Ansa.