© Amir Cohen/Reuters
A indefinição americana sobre a mudança de sua embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém levou diversos líderes muçulmanos a se manifestarem de forma contrária à mudança.
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Os governos da Arábia Saudita e da Turquia, a Liga Árabe e a Autoridade Nacional Palestina afirmaram que a medida poderia prejudicar a paz no Oriente Médio, dificultar um acordo entre israelenses e palestinos e aumentar a insegurança contra americanos na região.
A mudança da embaixada para Jerusalém foi uma promessa de Trump na campanha presidencial, mas não é unanimidade dentro do governo. O secretário de Estado, Rex Tillerson, o de Defesa, Jim Mattis, e Jared Kushner, assessor e genro do presidente, manifestaram internamente temor que a medida aumente a instabilidade na região.
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Por isso, a Casa Branca ainda estuda o que fazer. Uma alternativa é que Trump reconheça Jerusalém como a capital de Israel, mas adie a decisão sobre a transferência da embaixada. A expectativa é que ele faça um discurso na quarta-feira (6) sobre o assunto.
Israel conquistou a porção Oriental de Jerusalém em 1967, anexando-a em seguida e declarando toda a cidade como sua capital. A medida não foi reconhecida nem pelos Estados Unidos nem pela comunidade internacional e a maior parte dos países mantém suas embaixadas em Tel Aviv.
Os palestinos reivindicam que Jerusalém Oriental seja a capital de seu futuro Estado.
Com isso, uma mudança na política americana para a região, reconhecendo Jerusalém como capital ou transferindo a embaixada, foi alvo de uma enxurrada de críticas de líderes do Oriente Médio.
Principal aliado americano na região, o governo da Arábia Saudita disse esperar que Washington não declare a cidade como capital.
"O reconhecimento terá sérias implicações e será uma provocação contra todos os muçulmanos", disse uma fonte anônima a agência estatal SPA.
Na segunda (4), o embaixador saudita nos EUA, o príncipe Prince Khalid bin Salman, disse que uma declaração de Washington sobre Jerusalém antes de um acordo com os palestinos iria atrapalhar o processo de paz e aumentar a tensão na região.
Já o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o país vai romper relações com Israel caso os Estados Unidos mudem a embaixada.
"Senhor Trump, Jerusalém é uma linha vermelha para os muçulmanos", declarou o presidente turco, Recep Erdogan, em discurso nesta terça (5). "É uma violação das leis internacionais tomar a decisão se apoiar Israel enquanto as feridas da sociedade palestina estão sangrando", afirmou ele em um encontro com parlamentares.
A Liga Árabe convocou uma reunião sobre o assunto. O secretário-geral da organização, Ahmed Abul Gheit, considerou "perigosa" uma possível mudança da embaixada, que traria uma "ameaça à estabilidade regional".
"Esta decisão colocaria fim ao papel dos Estados Unidos como mediador de confiança entre palestinos e as forças [israelenses] de ocupação", acrescentou.
Um representante da Autoridade Palestina também indicou que caso Trump autorize a transferência, os americanos poderão ser excluídos das negociações para um acordo de paz.
"Não aceitaremos a mediação dos Estados Unidos, não aceitaremos a mediação de Trump. Será o fim do papel desempenhado pelos americanos neste processo", disse Nabil Chaath, conselheiro do presidente palestino, Mahmud Abbas.
Ele afirmou ainda que a decisão pode gerar uma onda de protestos no mundo árabe contra os EUA."Não sei se isso provocará distúrbios, mas haverá, sem dúvida, manifestações populares em toda parte. Espero que não haja violência", disse.
"Não pedimos nada além da solução de dois Estados. Trump e seu governo estão violando [esse princípio]. Não respeitam as regras, e nós não vamos respeitar as suas", afirmou ele.
Sem citar Trump, Federica Mogherini, que comandar a diplomacia da União Europeia, pediu que seja evitada qualquer ação que dificulte a solução de dois Estados e disse que Jerusalém deve ser a capital de Israel e da Palestina.
LEI
Uma lei de 1995, do governo Bill Clinton, estabelece que a embaixada americana em Israel deveria ser transferida de Tel Aviv para Jerusalém. O presidente, porém, pode a cada seis meses emitir uma ordem adiando a mudança por questões de segurança.
Desde Clinton, todos os presidentes sempre emitiram a ordem impedindo a mudança, incluindo Donald Trump em junho, apesar de sua promessa de campanha de que autorizaria a transferência.
O prazo para ele dar a ordem adiando a transferência por mais seis meses acabou nesta segunda-feira (4).
"O presidente foi claro: não é uma questão de 'se', mas uma questão de 'quando'. Mas nenhuma decisão será adotada hoje [segunda-feira] e faremos um anúncio nos próximos dias", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Hogan Gidley, na noite de segunda.
O governo americano ainda decide qual medida vai tomar. Trump pode ainda emitir uma nova ordem com o adiamento ou autorizar o prosseguimento da mudança. A decisão é esperada para esta quarta. Com informações da Folhapress.