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Após viver altos e baixos em sua carreira, o atacante Diego Maurício conseguiu “recomeçar” a sua vida nos gramados. Revelado pelo Flamengo e com passagens confusas por equipes da Europa (Alania-RUS e Vitória de Setúbal-POR), o jogador hoje brilha no futebol da Coreia do Sul, sendo um dos destaques da K-League, a primeira divisão do país.
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De férias após uma excelente temporada com a camisa do Gangwon FC, com 13 gols marcados, Diego Maurício concedeu uma entrevista exclusiva ao Esporte ao Minuto e falou da nova fase de sua carreira. Além disso, o “Droguibinha” relembrou os tempos de Flamengo e de seleção, quando foi campeão sul-americano ao lado de Neymar.
“Está sendo maravilhoso para mim, dentro e fora de campo. Fiz uma boa escolha em ter ido para a Coreia do Sul. As coisas estão correndo muito bem. Eu e minha família estamos felizes”, disse o atacante, que é casado com a jornalista Mayara Bassan.
Diego Maurício surgiu no futebol em 2010, em um Flamengo que tinha Adriano Imperador e Vágner Love. Após mostrar a força do seu futebol com a camisa rubro-negra aos 18 anos de idade, o então menino chegou à base da seleção, em 2011, onde foi campeão sul-americano com um time que tinha craques como Neymar, Casemiro, Lucas, Oscar, Danilo e Alex Sandro. No ano seguinte, ele seguiu na Gávea e foi campeão carioca com o “Bonde do Mengão Sem Freio”, liderado por ninguém menos que Ronaldinho Gaúcho.
“O futebol faz umas coisas muito loucas com os jovens jogadores. Você um dia não tem nada e daqui a um mês você está ganhando muito dinheiro”, contou, lembrando de quando foi promovido aos profissionais do Flamengo.
Depois de 2011, Diego Maurício já era parte de um elenco de estrelas e jogava no clube mais popular do Brasil. Ele até ganhou o apelido de Droguibinha, por conta de sua semelhança com o craque marfinense Didier Drogba. Só que ao invés de brilhar ainda mais, veio uma inesperada queda de produção, dele e daquele Flamengo. E ao contrário dos companheiros da seleção sub-20, a então aposta rubro-negra não conseguiu se firmar no futebol. Mas a vida deu uma nova chance para Diego Maurício e ele conta como foi.
Confira abaixo a entrevista completa com o craque brasileiro do Gangwon FC:
Como é viver e jogar na Coreia do Sul?
Viver na Coreia do Sul está sendo ótimo para mim. Vivo um momento muito bom. Minha cidade lá lembra um pouco o Rio, fica no litoral, tem praia. Minha família gosta, eu gosto, e os coreanos nos tratam super bem. Isso é muito bom. Fora que as coisas caminharam muito bem para mim na minha equipe, do presidente aos jogadores. Está sendo maravilhoso para mim, fora e dentro de campo. Então fiz uma boa escolha em ter ido para a Coreia. As coisas estão correndo muito bem.
E como é a questão cultural da Coreia do Sul para você?
Minha família está muito feliz. Lá não tem roubo, não tem assalto. O país é 99% seguro. Pode andar tranquilo, com telefone na mão, vidros do carro abertos. Minha família não reclama, o que me ajuda muito no trabalho.
Você já chegou clube com a camisa 10 ou foi conquistando aos poucos?
Quando eu cheguei lá, a camisa 10 estava disponível. Os jogadores lá não queriam usar (risos). Quando perguntaram o número que eu queria usar, perguntei qual estava livre. Me disseram que a 10 estava parada. E no Brasil nós estamos acostumado com aquela coisa do 1 ao 11. Então disse que eu iria usar a 10, um número que eu gosto e sempre admirei os jogadores que usaram. Acabou que fiquei com a 10 e as coisas caminharam bem para mim, mesmo não sendo o meio campo, o pensador do time. Ajudei de outra maneira, com gols.
Como é a sua relação com o torcedor sul-coreano?
A relação é muito boa. Meu nome quase todo jogo é gritado. E no final do ano recebi um carinho grande. Sempre que um jogador faz um ano tão bom como eu fiz numa equipe média e em um país como a Coreia, no ano seguinte ele acaba se transferindo para um clube maior. Então os torcedores fizeram até bandeira para mim, pedindo para eu continuar no clube. Esse carinho está sendo importante para mim, coisa que não esperava em um ano de país.
Mas você continua no Gangwon?
Tenho mais um ano de contrato. Quero cumprir e espero ficar sim. Só que a gente sabe que futebol é muito dinâmico, é muito rápido. Grandes clubes do próprio país e até de fora já mostraram interesse no meu futebol. Mas tenho contrato ainda e vou me apresentar em janeiro.
Vamos falar um pouco do passado? Como aconteceu a sua promoção aos profissionais do Flamengo?
Subi em 2010. E até um pouco engraçada a história. Eu estava no juniores e preparado para jogar a Taça BH. E o Flamengo estava nas quartas de final da Libertadores, disputando vaga contra o Universidad do Chile, e perdeu o jogo de ida. Na volta, o time ficou sem o Adriano Imperador. E para o jogo seguinte, pelo Brasileirão, o Flamengo ficou sem atacante no banco. Então o treinador Rogério Lourenço me puxou da base e falou que eu enfrentaria o Grêmio Prudente. Nesse jogo eu entrei bem, sofri um pênalti, o Vágner Love bateu e ganhamos por 3 a 1. Depois do jogo eu perguntei ao Isaías Tinoco (Gerente de Futebol da época) se eu voltaria aos juniores para disputar a BH. Aí ele falou: ‘esquece, você não joga mais na base a partir de hoje. Agora você é profissional’. Isso foi em 2010.
Você tinha quantos anos na época?
Eu tinha 18 para 19. Foi algo muito importante para mim. Não tem como não lembrar do Flamengo. Cheguei ao clube com 9 anos de idade e sai de lá com 23. Vivi praticamente 14 anos da minha vida no Flamengo.
E como foi subir aos profissionais num time que tinha Adriano, Vagner Love e, logo depois, Ronaldinho Gaúcho?
Eu fui feliz porque eu peguei várias fases maravilhosas. Quando eu subi aos profissionais eu convivi com Adriano e Vágner Love. O Love saiu e voltou para o clube ainda. Depois veio o Petkovic. No meu primeiro gol como profissional, eu estava jogando ao lado do Pet.
Você tinha uma boa relação com esses craques?
Muito boa. Com o Ronaldinho mais ainda. Ele até constrange as pessoas que jogam ao lado dele. Você vê um jogador que ganhou tudo, que foi o melhor do mundo duas vezes, sendo o jogador mais humilde do elenco, o mais simpático, o mais gentil. Dá bom dia, boa tarde e boa noite para todos. Eu aprendi muito com ele e fui feliz de aprender com outros jogadores no Flamengo. E depois teve a seleção, com Neymar...
E como foi jogar na base do Brasil com Neymar e jogadores que hoje brilham na seleção? Como era aquela safra?
Ah, a minha safra na base da seleção tinha muitos bons jogadores. Muitos amigos que tenho até hoje, como Danilo, Alex Sandro, estão até hoje na seleção. Tinha Casemiro, Oscar, Lucas, Coutinho, o Dudu do Palmeiras, enfim, muitos jogadores que se saíram muito bem e são grandes atletas.
Vocês mantém contato?
Sim, gosto deles e admiro.
Você ainda tem contato com o Neymar?
Neymar eu não falo muito, até porque cada um tomou o seu caminho. Mas quando podemos, a gente sempre se fala, como com os outros jogadores também. E como eles torcem por mim, eu torço muito por eles. Isso é o que fica da vida e do futebol.
E como foi a sua saída do Flamengo?
Eu quando sai vive altos e baixos, como todo jogador de futebol. Comecei no Flamengo e vivi a minha vida toda no Rio de Janeiro. Depois quando eu sai, sofri bastante. Passei por países que não deram certo. Agora estou na Ásia, tive um momento bom na China, e agora vivo uma fase muito boa na Coreia do Sul. Na última temporada fui um dos principais artilheiros do meu time e do campeonato. Então estou muito feliz e realizado.
E você volta para o Brasil?
A gente não pode dizer “nunca”. Futebol é muito dinâmico. Mas hoje as chances são zero, porque estou muito feliz na Ásia, minha família está feliz. Mas no futuro eu pretendo voltar sim, só que vai demorar um pouco. O momento agora não é o de voltar. Mas um dia eu volto.
E qual é a análise que você faz sobre o Diego Maurício que surgiu no Flamengo e o Diego Maurício que hoje joga na Coreia do Sul?
Eu não posso julgar muito, até porque se não fosse o começo eu não seria o que sou hoje também. A gente é novo, a gente é imaturo, e o futebol faz umas coisas muito loucas com os jovens jogadores. Você não tem nada e daqui a um mês você está ganhando muito dinheiro. É muito louco para a nossa cabeça. E todo jovem é imaturo, erra muito. Eu errei bastante, só que pude retornar. Hoje sou um homem de família, bem casado, tenho uma esposa maravilhosa, tenho uma família maravilhosa ao meu lado, uma base muito boa. Minha cabeça é mais tranquila hoje, mais focada no que eu tenho que fazer. Sou um Diego Maurício, hoje, equilibrado.