© Reprodução / Facebook / Bauru Vôlei
A ponteira/oposta Tiffany, primeira transsexual brasileira a atuar no vôlei feminino após concluir o processo de mudança de sexo, vai reforçar o Vôlei Bauru na Superliga 2017/2018. A atleta chegou ao time bauruense em julho deste ano, após jogar na segunda divisão italiana. Desde então, ela permaneceu treinando regularmente com o elenco.
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Inicialmente, as pretensões de Tifanny com o Vôlei Bauru eram apenas as de recondicionar-se fisicamente e, tão logo entrasse em forma, retornar à Europa, onde já atuou por equipes de diversos países. No entanto, a boa receptividade não só do time bauruense, mas também dos torcedores, e o fato de ficar mais perto dos familiares pesaram para a atleta recuar de sua ideia de voltar ao Velho Continente e formalizar contrato até o final da temporada com o Vôlei Bauru.
“O surgimento do Vôlei Bauru em minha vida foi muito legal porque, mesmo na Europa, eu sempre acompanhava os jogos. E, quando recebi o convite para vir para o time me recuperar, fiquei muito feliz e não pensei duas vezes. É um time guerreiro que luta muito e espero que possa ajudar e só somar a esta equipe tão batalhadora. A liga feminina brasileira é uma das mais fortes do mundo e o meu nível não é diferente de nenhuma das meninas e sei que terei muitas dificuldades contra as quais terei de lutar para ajudar a equipe. Estou muito feliz com este acerto, pois, além de voltar a atuar no meu País, ainda vou estar mais perto dos meus familiares”, destaca Tifanny.
“Minha expectativa é ótima. Já tinha até esquecido como era jogar aqui no Brasil com o calor e a vibração da torcida brasileira. Pude ver isso quando acompanhava o time nos jogos aqui e fora e sempre fui muito bem recebida, até mesmo pelos torcedores de clubes adversários. Estou muito feliz com a forma que fui recebida não só pelo Vôlei Bauru, mas também com os torcedores e estou esperando que consiga desempenhar bom papel.”
Após anos atuando na Europa, Tifanny ressalta que sua maior dificuldade no processo de readaptação foi com o clima brasileiro, bem mais quente em relação aos países europeus.
“O processo de recuperação física e o retorno ao Brasil foi lento, mas foi bom. Tive de me adaptar tanto com a alimentação como com o clima, pois aqui é bem mais quente e eu já estava adaptada ao clima da Europa. O calor realmente está sendo a parte mais difícil, mas temos de nos adaptar né, assim como fazem as estrangeiras que vem atuar aqui no Brasil. Afinal de contas, sou brasileira e joguei durante muitos anos aqui no calor e não é possível que agora não vá conseguir”, enfatiza a atleta, aos risos.
Carreira
A goiana Tiffany, atualmente com 33 anos, nasceu Rodrigo Pereira de Abreu e já havia disputado as edições masculinas da Superliga A e B no Brasil e outros campeonatos masculinos nas ligas da Indonésia, Portugal, Espanha, França, Holanda e Bélgica antes de fazer a transição de gênero, concluída quando defendia um clube da segunda divisão belga.
E, no início deste ano, recebeu permissão da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) para competir em ligas femininas, tendo disputado a temporada pelo Golem Palmi, time da segunda divisão da Velha Bota.
Estreia
Apesar de estar participando ativamente dos treinamentos com o Vôlei Bauru, Tifanny ainda não tem data prevista para estreia. Caso os trâmites necessários para sua regularização na Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) sejam concluídos em tempo hábil, a atleta terá condições de ser relacionada para o duelo decisivo contra o São Cristóvão Saúde/São Caetano no próximo domingo, 10, às 13h, no Ginásio Panela de Pressão, confronto cujo vencedor “carimba” a vaga para a Copa do Brasil.
Legislação
A Federação Internacional de Voleibol (FIVB) segue os preceitos do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre a legislação envolvendo a participação de atletas transgêneros em competições oficiais. Em 2016, o COI mudou sua resolução permitindo a participação de homens nos eventos da entidade sem nenhuma restrição e as mulheres precisam apenas ter a quantidade de testosterona controlada para poder competir em equipes femininas. Neste caso, elas não podem ter mais de 10 nanomol por litro (unidade de medida que indica a quantidade da substância por litro de sangue) do hormônio no sangue nos 12 meses anteriores à competição. A necessidade de cirurgia de mudança de sexo não é mais necessária.
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Seis anos antes, as regras eram mais rígidas, pois, além da necessidade da cirurgia de mudança completa (exigência dispensada a partir de 2016) e da terapia hormonal direcionada a cada sexo, era preciso ter o reconhecimento legal da mudança em seu País de origem, uma dificuldade devido às legislações específicas. As restrições mantinham os transgêneros apenas nas competições específicas, como os Gay Games (o próximo será em 2018, em Paris).
Tifanny explica se enquadrar em ambas as regulamentações e estar apta para atuar em qualquer país do mundo. “A primeira era só para quem tinha feito a cirurgia, que é o meu caso, e a segunda é a que tem de estar com a taxa de testosterona abaixo de 10, que também é o meu caso. Quem não se enquadra, especialmente na taxa de testosterona, é considerado doping e pode ser punido com suspensão de dois anos das competições”, alerta a atleta, para depois concluir:
“Sou tratada como qualquer outra jogadora, inclusive podendo ser submetida aos exames antidoping. São leis internacionais seguidas por todas as equipes do mundo que disputam competições mundiais e olímpicas e, por isso, estou apta a jogar em qualquer país do mundo”, finalizou. Com informações do Vôlei Bauru.