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Pesquisa realizada em 38 países pelo instituto britânico Ipsos Mori aponta o brasileiro como o segundo povo com o menor conhecimento de sua própria realidade. O país só foi superado pela África do Sul. Nas demais posições vieram, Filipinas, Peru e Índia. Na outra ponta, os mais bem situados foram Suécia, Noruega, Dinamarca, Espanha e Montenegro.
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Intitulada "Os Perigos da Percepção", a sondagem apresentou, nos 38 países, perguntas sobre temas como segurança, imigração, saúde, religião, tecnologia, consumo de álcool, entre outros.
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Para Rafael Araújo, professor de História do Instituto Federal de Sergipe (IFS), a pesquisa mostra dois lados da mesma moeda. Apesar de ser reconhecido como um povo alegre, descontraído e acolhedor, o brasileiro tem uma visão amarga de sua realidade. Às vezes superestimada.
"Acho o brasileiro muito negativo. A Síndrome de Vira-Lata ainda está enraizada no brasileiro, que esquece muitas vezes que países considerados mais desenvolvidos também têm problemas. O brasileiro muitas vezes se apega muito aos problemas do país e esquece que os outros também têm. A pesquisa retrata muito isso. Além disso, nos últimos tempos essa percepção negativa da realidade brasileira se aguça", analisa o professor.
Na enquete feita no Brasil, quando indagados sobre quantas garotas entre 15 a 19 anos engravidam, o percentual de respostas foi 48%, quando os dados oficiais mostram apenas 6,7%. O cálculo de percentual de pessoas com smartphones foi estimado em 85%, quando o número real é 38%. Em relação ao número de estrangeiros que compõem a população carcerária, a resposta dos brasileiros foi 18%, quando na realidade é apenas 0,4%.
Para o professor do IFS, o brasileiro muitas vezes desconhece dados importantes e positivos do país, que é uma das dez maiores economias do mundo, tem um excelente nível de pesquisa tecnológica, reconhecimento internacional quanto à qualidade do ensino superior, entre outros. Segundo Araújo, o brasileiro tem uma dificuldade de ver coisas positivas no país. Ele ressalva, porém, que também em outros países as pessoas também têm dificuldade em conhecer suas próprias realidades.
A sondagem da Ipsos apontou, por exemplo, que, no exterior, a maioria dos entrevistados acredita que as mortes provocadas por atos terroristas são maiores hoje do que nos últimos 15 anos, o que não é verdade. Na parte mais amena da pesquisa, mais visões equivocadas. Quando indagados sobre qual país ostenta o maior consumo de álcool no mundo, a maioria apontou a Rússia, que está apenas no sétimo lugar do ranking mundial, liderado pela Bélgica. A sondagem, na Bélgica, porém, mostrou que nem os belgas sabem disso.
Um outro dado interessante da pesquisa é que os entrevistados mais sem noção da realidade são justamente aqueles com maior confiança em suas capacidades de percepção. A Índia, por exemplo, aparece em quinto lugar na sondagem dos mais equivocados, embora 38% dos entrevistados garantiram ter confiança na correção das respostas. Para Araújo, esse é um problema não só do Brasil, mas mundial, provocado pelo excesso de informação em tempo real que circula hoje no mundo.
"Esse é um ponto importante, e vou resgatar o sociólogo (polonês) Zygmunt Bauman. Vivemos numa sociedade de informação onde somos bombardeados o tempo todo com novidades. A toda hora é uma pesquisa, um dado, o que gera uma contradição com nossa própria capacidade de apreensão, que não é proporcional à quantidade de informação. A pesquisa pode ter refletido isso também", finaliza Araújo. Com informações do Sputnik.