© Nacho Doce / Reuters
O ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso falou sobre reformas necessárias para o Brasil, ao seu ver, e sobre as perspectivas do PSDB para as eleições de 2018, citando que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deve ser mesmo o candidato do partido ao Planalto.
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"O PSDB ainda não tem um candidato. Claro, o que tem a maior probabilidade de ser é ele. Ele tem o olho nas contas públicas. É fácil mostrar o que acontece quando ele se perde, como no Rio. E pessoalmente não há nada contra ele".
Quando questionado sobre a acusação de caixa dois contra o governador, ele ameniza. "Mas aí é uma alegação longíqua, sobre dinheiro de campanha. E ele tem uma simplicidade. A população olha e diz: 'Essa gente rouba, faz festa a vida inteira, anda de jatinho'. Precisamos ter uma liderança mais simples, de gente mais normal, sem fanfarronice e pose. O Geraldo tem essa certa simplicidade", considerou.
Em entrevista divulgada nesta sexta-feira (8), pela Folha de S. Paulo, ele também comentou as investigações da Lava Jato. "A Lava Jato destampou o caldeirão e as pessoas sentem o mau cheiro". Mais adiante, completou: "Muito está mudando. Eu não gosto de ver gente na cadeia, inclusive algumas que eu estimo. Mas é verdade que é a primeira vez que estamos vendo gente poderosa na cadeia".
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Para Fernando Henrique, o país vive uma crise de representatividade . "O sistema político de 1988, e eu sou coautor, está se exaurindo. Os partidos viraram sopas de letras. A gente fala do 'novo', mas na sociedade o velho se transforma por dentro. É muito importante ouvir movimentos de gente de fora. Eu acho muito positivo, não no sentido ingênuo de que algo de novo sairá. Você não muda nada sem liderança capaz de transmitir essa mensagem. O [presidente francês Emmanuel] Macron era de dentro do sistema e propôs uma utopia progressiva. Aqui precisamos de uma utopia progressiva viável, ainda que seja contradição em termos".
Questionado sobre o partido está debatendo se fecha ou não questão sobre a reforma da Previdência, o ex-presidente alegou que há um temor dos parlamentares em relação a temas impopulares perto da eleição. No entanto, destacou que o PSDB precisa defender valores como o reformismo.
"Para você liderar, você não tem de seguir. Em política, é preciso ter valores. Você pode ganhar ou perder, mas não pode perder a cara. No caso de reformas, tem de ter sensibilidade, mas não se omitir. Senão vamos para um buraco, como o Rio", avaliou.
O senador Aécio Neves, investigado na Lava Jato e flagrado em áudio pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, também foi um dos assuntos abordados na entrevista. "O PSDB não organizou nada. Uma coisa é a pessoa desviar conduta, mas aí a responsabilidade é individual (...) Quem é acusado tem de se explicar e o partido não tem de encobrir. Não estou aliviando para ninguém".
Fernando Henrique ainda admitiu haver um constrangimento no PSDB devido à situação do mineiro. "Natural, não só no PSDB. Eu não vou dizer o que ele deve fazer, mas tenho a dizer que todas essas situações no Brasil são muito constrangedoras", afirmou.
Já sobre Jair Bolsonaro, FHC avaliou que "não se deve confundir autoritarismo com necessidade de segurança". "Nos acostumamos a achar a direita uma coisa só. E não é. Há centrão fisiológico, há conservadores, e há um setor novo que é autoritário. Isso é uma coisa nova, uma reação à desordem".