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Deixar de votar a reforma da Previdência neste ano poderá inviabilizar a sua aprovação neste governo e aumentar o rombo das contas públicas em até 1,23 ponto percentual do PIB em dez anos, dizem analistas.
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"O fracasso do governo em reunir os votos das suas bases já dá uma ideia de que a resistência é enorme. Em ano eleitoral, ela tende a subir", diz o cientista político Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria Eurasia.
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Segundo ele, só será possível aprovar a reforma se as pesquisas de opinião mostrarem que caiu a resistência da população. "Os deputados precisam estar convencidos de que não vão perder votos", afirma Garman.
O analista diz que, embora o governo tenha mudado sua estratégia de comunicação para ressaltar o fim dos privilégios, a nova mensagem ainda não se espalhou.
Não aprovar a reforma neste ano, porém, pode custar até 1,23 ponto percentual do PIB em dez anos, nos cálculos da equipe de macroeconomia do Credit Suisse.
O número considera apenas o sistema de aposentadoria dos trabalhadores privados, o RGPS. O banco não faz cálculos para o sistema dos funcionários públicos (RPPS) porque não há dados abertos suficientes para isso.
O custo do atraso é importante porque pode aumentar ainda mais a dívida pública, hoje em 74,5% do PIB.
O tamanho e a trajetória da dívida são indicadores levados em conta por credores e investidores na hora de definir o risco do país e os juros que serão cobrados.
Segundo o economista Leonardo Fonseca, do Credit Suisse, a nova proposta de reforma já reduz bastante a economia de recursos públicos em relação ao projeto inicial: em dez anos, ela economizaria R$ 399 bilhões; o primeiro projeto garantiria economia de R$ 921 bilhões.
A Secretaria da Previdência trabalha com números diferentes: R$ 800 bilhões na proposta inicial e, na nova, R$ 500 bilhões no RGPS e R$ 80 bilhões no RPPS.
"Independentemente da metodologia, o que importa é que a reforma precisa ser feita o quanto antes", diz o secretário Marcelo Caetano.
Ele afirma que não há mais pendências técnicas a resolver nas negociações com o Congresso. "Ficaram intocados os benefícios da população mais carente: BPC [benefício para os mais pobres], aposentadoria rural e 15 anos de contribuição mínima."
Segundo Caetano, os únicos obstáculos que impedem a aprovação da reforma neste ano são políticos. E esse é o principal risco, segundo o economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Oliveira: "Todos os políticos com quem conversamos dizem que, quanto mais perto das eleições, mais difícil será votar".
Com isso, a economia de recursos passaria a valer apenas em 2020, elevando ainda mais as dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir até lá a meta fiscal e o teto de gastos públicos.
O secretário da Previdência diz que não trabalha com a hipótese de que a proposta não seja aprovada. "O próximo governo teria que fazer uma reforma ainda mais dura", afirma. Com informações da Folhapress.