10 dicas para você mudar de vida e rodar o mundo num barco próprio

Conheça o passo a passo desenhado por um casal de brasileiros que vive no mar desde 2014

© Divulgação

Lifestyle viva o sonho 28/12/17 POR Alex Souza Rajan

Em 2014, um casal de executivos bem-sucedidos optou por deixar a vida estável e trivial no Rio de Janeiro para, contrariando a expectativa de muitos, "se jogar" no sonho de rodar o mundo em um barco próprio, o Ipanema. Após três anos do início da aventura, Sarah Moreira e Renato Matiolli, junto com o bull terrier Feijão, passaram por mais de 15 países e, atualmente no Caribe, preparam-se para seguir viagem rumo a Polinésia, no Pacífico (conheça mais da história deles clicando aqui). 

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Veja também: Destinos: os países mais difíceis para turistas entrarem

Mas como se deu o processo até que a dupla decidisse mudar de vida? Como foi a preparação? O que é necessário?

Confira o passo a passo:

1. Comece a planejar assim que possível

Quanto antes você começar a pensar sobre o assunto, mais rápido a ideia se tornará realidade e fará da transição mais tranquila. "Eu sempre tive o sonho de velejar o mundo, mas só comecei seriamente a planejar a viagem alguns meses antes de comprar o barco. Não recomendo isso, já que os nosso primeiros meses foram bastante intensos e ainda é em algumas ocasiões. Ainda estamos aprendemos muita coisa na medida que vamos seguindo caminho", diz Renato.

2. Economize e guarde o máximo de capital que puder

Pare de comprar coisas supérfluas e que não precise. Trabalhe duro no emprego atual e economize o máximo que conseguir. Você vai precisar desse dinheiro para tornar o sonho realidade - é muito difícil conseguir um anjo investidor ou banco que invista nesse sonho.

"Nós trabalhamos bastante a vida toda e guardamos o suficiente para conseguir dar o pontapé inicial do nosso projeto, que foi a compra do barco. A gente tentava não gastar com restaurantes ou roupas caras, nossos principais gastos antes disso eram apenas com viagens e férias."

3. Tenha certeza que você gosta desse estilo de vida e tome a decisão

Essa é certamente a parte mais difícil. Dar aquele pontapé inicial e decidir que você realmente quer mudar de vida completamente parece fácil, mas não é. Manter o status quo parece sempre a solução mais fácil, mas nem sempre será o que te deixará realmente feliz ou completo. A melhor maneira de te dar coragem é realmente passar uns dias com alguém que já está fazendo isso para aprender um pouco e ver se você realmente gosta do lifestyle – lembre-se que tudo na vida teu um lado positivo mas também um negativo. Pergunte o que eles gostam e não gostam sobre o novo estilo de vida. Eles planejam parar em algum momento ou a ideia é seguir assim para sempre? Por que? Do que eles sentem falta da vida antiga?

"Antes de comprarmos o barco passamos 10 dias em San Blas, no Panamá, com o Daniel, a Anna e a Vera, que são um casal sueco e sua cachorra que estão dando a volta ao mundo num Lagoon Catamaran 380, o Bay Dreamer. Antes do final daquela viagem a gente já tinha decidido que aquilo era o que realmente queríamos para as nossas vidas."

4. Invista 100% do seu esforço para que as coisas aconteçam

Uma vez que você tomou a decisão, foque nela e invista todos os esforços para que o projeto saia do papel e aconteça. A procura e compra do barco, o aprendizado, o planejamento e a execução são às vezes atividades que tomam muito tempo e acabam sendo cansativas com muita informação, é quase impossível conseguir dar conta de tudo enquanto você ainda estiver trabalhando.

"Infelizmente a gente não conseguiu sair dos nossos empregos logo de cara, decidimos continuar trabalhando até o ultimo momento possível pois precisávamos que o dinheiro continuasse entrando. Foi bem difícil e cansativo manter praticamente dois trabalhos em tempo integral - o nosso emprego e o nosso projeto."

5. Seja bem seletivo com as pessoas de quem você vai ouvir conselhos

* Fuja daqueles que digam que você não é capaz ou não pode fazer

Pedir demissão dos nossos empregos estáveis e morar num barco é uma ideia louca para a maioria das pessoas, mas isso você já sabe, certo? Então não peça uma aprovação pública pois você não vai ter, e a maioria das pessoas não saberá do que está falando, não entende do assunto e acha que é maluquice, perigoso, e só realçará barreiras e dificuldades, tentará provavelmente te convencer a não seguir em frente com os planos. As pessoas tentam evitar o desconhecido e muitas vezes irão questionar o seu nível de experiência, ou dirão que você deveria começar com um barquinho pequeno, numa lagoa, e ir aumentando aos poucos… Só que nesse passo, quando você tiver uns 95 anos, talvez tenha adquirido a tal experiência necessária para comprar o barco que você quer e rodar o mundo. Talvez até seja verdade que você não seja tão experiente, mas quem é? O que as outras pessoas realmente sabem de ter experiência suficiente?

"Nós tentamos evitar pessoas que insistiam em dizer que a gente não poderia ou conseguiria fazer, e focamos apenas naqueles que pensavam junto com a gente em como remover as barreiras para tornar nosso sonho realidade. O mais interessante é que por norma as pessoas com mais sabedoria eram as que diziam que a gente poderia fazer, e os que não tinham experiência nenhuma em mar ou vela eram os que diziam que seria impossível. Então preste atenção de onde você ouve os conselhos, e selecione aquilo que você levará com você e as coisas que você simplesmente deve ignorar. Mas existe todo tipo de gente por aí… Acredite se quiser, a única pessoa com a tal 'experiência' que tentou realmente nos desencorajar foi um professor de vela no Brasil que nos disse que para cruzar o Atlântico teríamos que ter um barco com pelo menos 150 pés para ser uma viagem segura. Dá para acreditar? Hoje em dia eu tenho certeza que umas 99% das pessoas cruzando o oceano não tem um barco enorme desse jeito. Claro que a sugestão seguinte foi para participarmos dos cursos teóricos dele, junto com mais umas 100 pessoas, que provavelmente nunca velejarão com todas as historias de horror do mar que esse o chamado “professor” conta para todo mundo. Claro que não é uma coisa simples nem banal cruzar um oceano, claro que tem seus perigos, até perigo de vida, mas também corremos risco de vida no transito louco do Rio ou de SP, nos assaltos a mão a armada, ou podemos até morrer em paz em nossa própria casa de uma doença terminal. A questão é que não podemos controlar tanto as coisas, podemos? Tomando a decisão de seguir nessa aventura, estamos tentando controlar apenas a parte que podemos controlar. Acreditamos que a vida é simplesmente muito curta para se ter medo de seguir os sonhos."

* Se aproxime daqueles poucos em quem você confia

Por outro lado, encontre aqueles poucos malucos que são tão doidos como você e que achem a ideia incrível! Se aproxime dessas pessoas e troque ideias de como tornar coisas que parecem impossíveis uma realidade.

"Nossos dois maiores amigos e gurus nesse assunto são o Daniel 'Pirata' Mattson e o Lorenzo 'Piloto' Berna. Eles têm experiência, são imparciais, muito inteligentes e free thinkers como a gente. Eu realmente respeito esse tipo de gente."

6. Seja sistemático com a compra do barco

*Invista suas economias numa moeda forte

A maioria dos barcos é vendia em Euros ou Dólares, então se você não estiver morando na Europa ou nos Estados Unidos, garanta que você invista suas economias num fundo que irá te proteger de câmbios flutuantes. Você pode ganhar ou perder na sua moeda, mas o importante é que, uma vez que você saiba quanto dinheiro em Euro ou dólares você vai precisar para comprar o barco, o melhor é colocar essa quantia de lado numa conta protegida.

"Como a gente estava morando no Brasil, assim que decidimos que queríamos comprar um barco, colocamos o 'dinheiro do barco' numa conta em dólar nos EUA, assim caso o Real desvalorizasse a gente ainda teria dinheiro para comprá-lo. Por sorte fizemos isso, pois o Real caiu uns 30-40% em relação o dólar enquanto a gente procurava pelo barco perfeito."

*Não use toda a sua economia comprando o melhor barco que você pode comprar

É muito tentador usar toda a economia que a gente tem para comprar o melhor barco possível, mas não faça isso. Lembre que você terá ainda muitos gastos equipando o barco, com toda a documentação de compra e venda, mantendo ele, e curtindo a vida depois que você estiver morando no barco.

"Nós usamos apenas uma parte das nossas economias para comprar o Ipanema, e assim ainda tivemos condições de equipar ele com tudo o que achávamos necessário para velejar o mundo, e ainda sobrou um pouco para vivermos tranquilos durante um tempo sem ter dinheiro entrando."

*Escolha entre comprar novo ou usado

Claro que isso vai depender de quanto dinheiro você tem, mas as vantagens de ter um barco novo são:

- Visual e design – novinho, limpo, não tem nenhum arranhão, design mais atual, etc

- Espaço interior e performance: Barcos novos tendem a ter melhor design interior, com mais espaço, e algumas marcas melhoraram a sua performance

- Customização: Você consegue ter exatamente as coisas do jeito que você quer

- Garantia: Boa parte das coisas que vão quebrar estarão ainda na garantia

- Menos custo de manutenção inicial: isso na verdade é apenas a teoria dado que muitos barcos novos vem com problemas. Você não estará comprando um Toyota com 100% de qualidade. Muitos barcos novos tem tantos problemas quanto um usado.

- Achando partes sobressalentes: É muitos mais fácil achar peças de um barco novo comparado com um usado.

As desvantagens de comprar um barco novo:

- Custo: Barcos novos são bem mais caros que usados.

- Tempo: Você talvez terá que entrar numa fila de espera para o seu barco ficar pronto

- Revisão: Barcos novos tem que passar por várias revisões já pré-programadas para não perder a garantia, e se você não estiver perto do lugar onde comprou, isso pode ser um problema.

- Pós-venda: Se alguma coisa dá errado no barco e você não está no país ou perto do lugar onde comprou, que paga pela marina onde a manutenção irá ser feita? Quem paga pelo serviço, já que não será feito na fábrica?

- Preços confusos de equipamentos: Os preços dos barcos tendem a ser bastante confusos. É bem difícil saber o que você precisa ter e o custo dos equipamentos adicionais são bem mais caros se você comprar diretamente da fábrica. Alguns opcionais na verdade não são tão opcionais assim, são coisas básicas que você será obrigado a comprar e pagar em cima do custo do barco.

- Mais tempo com manutenção inicial: isso é muito discutível, mas alguns barcos novos tem ainda mais problemas dos que os usados. Na maioria das vezes, aqueles barcos usados em ótimo estado tem donos que já resolveram todos os pequenos problemas iniciais.

"Nós optamos por comprar um barco usado. Uma das principais razões foi porque com o dinheiro que tínhamos, era a maneira de conseguir comprar um barco maior e ainda sobrar para equipar ele com tudo o que achávamos necessário. Depois de pesquisar barcos novos, também não havíamos conseguido entender quais eram os extras que eram preciso ser incluídos num barco novo. Além disso, também tínhamos ouvido várias histórias de problemas intermináveis com barcos novos e como queríamos sair velejando logo, não queríamos correr o risco de ficar presos tendo que fazer manutenção e revisões perto da fábrica, que no nosso caso (com um Lagoon) seria no norte da França."

*Escolha entre monocaso ou catamarã

-  Claro que essa questão também é bastante discutível, e vai depender da preferencia de cada um, as vantagens de ter um monocasco são:

- Performance contra o vento

- Estilo – eles são mais estilosos, parecem muito mais como um barco deveria ser do que como uma casinha flutuante.

- Performance como um todo – se você comparar um monocasco com um catamarã do mesmo preço, o monocasco muito provavelmente será mais comprido, e por isso mais eficaz na hora de velejar.

- Mais barato parar em marinas – catamarãs sempre pagam mais por serem mais largos

- Mais baratos – é possível achar um monocasco capaz de fazer travessias grandes por preços mais razoáveis.

As vantagens de ter um catamarã:

- Conforto – o barco balança muito menos, principalmente quando se está ancorado ou indo de vento em popa é bem mais fácil de cozinhar, comer, ler, escrever, dormir… basicamente viver dentro dele. É possível deixar um copo ou garrafa cheia em cima da mesa sem a menor preocupação.

- Espaço interno – nada se compara ao espaço de um catamarã. Quartos maiores, mais lugar para guardar as coisas (e nós temos MUITAS coisas: pranchas de surf, SUP, kite, bodyboard, equipamento de mergulho, compressor, gennaker, dessalinizador, etc.), mais espaços para comer, etc.

- Quilha curta – com um calado menor, os catamarãs podem ir em águas bem mais rasas.

- Segurança – isso também é discutível, mas no nosso ponto de vista, achamos mais seguro pois:

- Eles não tem uma quilha pesada de chumbo, fazendo com que a densidade seja muito menor, muito menos provável que vá afundar no caso de um acidente.

- Eles tem diferentes compartimentos isolados que podem encher de água sem afundar o barco.

- Eles tem um calado menor, o que faz com que tenham menos probabilidade de bater no fundo em águas rasas. Se por acaso encalhar num banco de areia, normalmente não estraga o casco, e se a maré baixar, um catamarã simplesmente fica em pé até a maré subir de novo, mas um monocasco tombaria e teria vários estragos pelo barco todo.

- E por fim, eles tem dois de praticamente tudo, então se você perder uma hélice, um leme, uma bomba de gasolina, ou até um motor… você ainda conseguirá continuar a navegando até um porto seguro pois terá um segundo equipamento (mas isso também significa o dobro do custo).

Nós escolhemos um catamarã porque não tínhamos muita experiência em alto mar e como íamos viver a bordo, conforto era muito importante. Também precisamos receber hospedes para ajudar nos custos, e precisamos de muito espaço para guardar coisas como pranchas, equipamentos de mergulho, compressor, etc, então espaço interno para nós era outro fator importante. E para completar, nosso plano é ir para países tropicais, paraísos com barreiras de corais com águas rasas, e para isso um catamarã é o ideal.

*Selecione apenas algumas marcas – idealmente apenas uma

Escolher um barco é uma tarefa que requer muito tempo e paciência, ha inúmeros fatores a se considerar (preço, marca, modelo, tamanho, ano, equipamento extra…). Se você sabe quanto quer gastar, isso já é uma excelente forma de eliminar um dos fatores. Se você vai comprar um barco novo e já sabe quais extras vai querer instalar, é outra ótima maneira de ir diminuindo as variáveis. De qualquer forma, você vai estar lidando com incontáveis fatores e opções, e é mais fácil conseguir um bom negócio se você se familiarizar com o mercado. Se você limitar as marcas que vai olhar irá ajudar a entender melhor as diferentes ofertas e conseguir um bom negócio.

Depois de olhar para todo tipo de barco no começo, acabamos decidindo que queríamos um Catamarã da marca Lagoon por algumas razões: são famosos por serem resistentes, por terem um excelente espaço interno e serem os catamarãs mais vendidos no mercado (o que em teoria significa uma melhor economia em escala, consequentemente melhor custo/benefício e uma comunidade maior de proprietários de Lagoons, fazendo com que seja mais fácil para encontrar peças e pessoas no mundo todo que saibam fazer manutenção nesse tipo de barco). Talvez a pior desvantagem dessa marca é que ela tem fama de não ser o catamarã mais rápido do mercado.

*Decida de antemão quais equipamentos adicionais você vai querer ter no barco

É preciso saber o que é importante para você, quanto custa e o que já não está instalado/incluído no preço do barco que você estará olhando. Por exemplo, painéis solares são importantes para pessoas que fazem longas travessias ou vivem a bordo, mas nem todos os barcos tem. Por outro lado, piloto automático e plotters cartográficos são muito importantes mas por norma todo barco já tem isso instalado. Quando você já tiver sua lista feita, estime quanto cada coisa vai custar (incluindo custo de instalação) e inclua no preço do barco que não venha com os equipamentos, assim você poderá comparar todas as suas opções igualmente.

Nós criamos uma lista de tudo o que achamos que seria importante ter e checávamos se cada barco que estávamos interessados já tinha os equipamentos para poder contabilizar no custo total da embarcação. Nossa lista incluía:

. Painéis Solares

. Dessalinizador

. Gerador (não é essencial, nós precisamos pois temos compressor de mergulho, ar condicionado e uma maquina de lavar roupa a bordo)

. Ar Condicionado (não recomendamos ter)

. Bote e motor para o bote

. Bote Salva Vidas

Aproveitando, segue aqui algumas modificações que achamos importante fazer no barco que não são extremamente caras:

. Mais corrente na âncora

. Pump de água salgada na cozinha para lavar louça

. Pump de água salgada no deck para lavar o barco

. AIS e uma série de equipamentos de segurança como EPIRB, PLB, AIS pessoal, coletes salva vidas, drogue, jack lines

*Crie uma longa lista dos barcos que você esteja interessado em comprar e faça comparações entre eles

A maioria dos barcos à venda estão listados no site www.yachtworld.com. Faça uma lista com todos os barcos que você esteja interessado e compare eles em termos de preço, equipamento adicional, modelo/tamanho e ano. Também fique atento a todos os barcos entrando e saindo do mercado.

Fizemos uma longa lista de barcos organizada por modelo, preço, ano e quanto eles iriam custar depois de todos os equipamentos adicionais que queríamos fossem instalados. Desse jeito dava para comparar todos igualmente. A gente também monitorava quais modelo eram mais vendidos, quais saiam e entravam no mercado.

*Deixe os corretores saberem que você está seriamente interessado em comprar e no que você tem interesse

Entre em contato com o corretor do barco que você esta interessado, deixe ele saber que você quer comprar um barco muito em breve e que se algum aparecer com as especificações que você quer, que está pronto para fechar negócio. Eles podem até entrar em contato com você antes de anunciar o próximo barco, o que ajuda a não ter que concorrer com outros compradores.

Foi assim que compramos o nosso barco, entramos em contato com uma vendedora sobre um barco que ele já tinha vendido. Umas semanas depois, ela nos ligou falando que estava com um outro barco similar para saber se ainda estávamos interessados, nós visitamos o Ipanema e fechamos negócio mesmo antes de ele ser anunciado em qualquer site.

*Compre o barco no lugar certo e no momento certo

A melhor época costuma ser no final da temporada de verão (na Europa a partir de Setembro/Outubro, e no Caribe antes da temporada de furacão). Logo antes que começa a temporada alta os preços costumam aumentar e caem no final da temporada. Essas duas regiões tem vários barcos a venda e os vendedores tem que competir para conseguir concluir uma venda, são mercados mais dinâmicos e costuma se achar melhores negócios. Também pense no custo e qualidade da mão de obra, depois que você comprar o seu barco certamente terá que fazer ajustes para deixar ele como quer, além de prepara-lo adequadamente para as travessias.

Por mais que a gente tenha olhado em anúncios de barcos no mundo todo, achamos que os dois melhores lugares para comprar seria a Grécia e a Croácia. Acho que por terem uma das costas mais lindas da Europa, fazem com que os dois tenham uma frota grande. Além disso, os dois tem mão de obra qualificada e não muito cara.

*Compre de pessoas confiáveis e com boa reputação

Compre de uma pessoa que não queira te empurrar qualquer barco, que te dê uma opinião sincera sobre as vantagens e desvantagens de cada barco, e que esteja nesse mercado ha um bom tempo, com boa reputação.

Na Croácia, a Marina Poljak da Nava Boats (+385 98 4786 91 / marina.poljak@navaboats.com) foi a pessoa que realmente fez nosso sonho tornar realidade. Ela é muito competente e profissional, trabalha para uma empresa que está no mercado ha vários anos, com certeza poderá lhe ajudar muito antes, durante e após a venda.

Na Grécia, o Eugene Theodoridis (+30 693 7234566 / info@yachtime.com) também nos ajudou bastante. Ele conhece o mercado como ninguém, também é muito profissional, um verdadeiro empreendedor, extremamente honesto sobre a situação de cada barco e muito confiável.

Ele também poderá ajudar na pós venda já que ele também tem sua própria frota e conhece as pessoas certas para fazer diferentes trabalhos. A gente recomenda fortemente essas duas pessoas!

*Faça um teste (sério) antes de comprar

Eu vejo que muita gente compra barcos em que fizeram charter antes. Provavelmente essa é uma das melhores opções. Você usa o barco por uma semana, testa e depois compra. Mas alugar um barco de charter é caro, e na hora de comprar você provavelmente vai querer economizar tudo o que puder. Uma ideia é convencer alguns amigos de alugar o barco com você, divide os custos e curte a semana junto. Outra alternativa é o sea trial, tipo um test drive, você sai em alto mar para testar o barco com as velas e com o motor, aproveite para testar tudo, não tenha vergonha.

A gente não seguiu isso a risca, fomos muito juvenis a esse respeito e não testamos nosso barco como deve ser feito antes de comprar. No final tivemos sorte, mas as coisas poderíamos ter corrido muito mal, por isso recomendamos fortemente que você faça pelo menos o sea trial.

*Não contrate um avaliador

Eu não recomendo contratar um avaliador antes da compra, a não ser que você realmente não tenha a menor noção, como eu não tinha. Eles são muito caros, muitas vezes conhecem o vendedor ou proprietário anterior, e de forma geral vão acabar encontrando os mesmos problemas/defeitos que você irá encontrar. De qualquer forma, se você decidir contratar um avaliador, garanta que seja alguém de outra região, para tentar evitar que ele conheça as pessoas que estão tentando te vender o barco. Também tente detalhar e ser bem especifico quanto ao trabalho que o avaliador irá fazer pra você, e o que você espera dele. Ele garante o trabalho dele? Ele irá mergulhar para conferir o casco? Vai subir o mastro? Quanto tempo irá durar a avaliação? Ele pode te mostrar algum relatório da ultima avaliação que fez?

Nós contratamos um avaliador de outra região de onde estávamos vendo o barco para garantir que ele não conhecia os donos ou vendedor, de qualquer forma a gente se arrependeu. Com o dinheiro que gastamos com ele poderíamos ter concertado mais coisas que ele mesmo nem reparou que estavam erradas no barco.

7. Acumule alguma experiência prática e esteja aberto para aprender

Se você acha que ainda não está pronto, não vá fazer um curso, em vez disso vá passar mais tempo num veleiro com alguém para aprender. Você não só irá aprender a velejar, mas se estiver aberto também irá aprender coisas como limpar o barco, mantê-lo, e várias funções diárias, tipo: conseguir água para encher os tanques, conseguir gás de cozinha, usar um posto de gasolina para barcos, como achar na prática um lugar seguro para ancorar, acompanhar a previsão do tempo, usar o rádio VHF, e várias outras coisas. Há várias pessoas pelo mundo que recebem hóspedes como a gente. Encontre alguém que você ache interessante e que esteja num lugar que você queira visitar e vá passar um tempo com eles. Lembre também que você nunca vai estar 100% pronto, em algum momento você simplesmente tem que tomar a decisão de começar a praticar e ir aprendendo as coisas no seu próprio barco.

Depois que compramos o Ipanema, eu fui mais uma vez visitar o Daniel, a Anna e a Vera do Bay Dreamer, para ganhar mais experiência, dessa vez encontrei com eles nas Ilhas Cayman. E antes de sairmos da Croácia, também convidamos o Fabijan, amigo e marinheiro Croata, a vir passar um tempo com a gente no nosso barco, assim pudemos testar tudo com ele, fazer um zilhão de perguntas, e fazer os últimos ajustes com a ajuda dele antes de partirmos para explorar o Mediterrâneo.

8. Pense como você irá manter o sonho financeiramente

Diferentes pessoas fazem diferentes coisas. Algumas pessoas conseguem viver de poupança e investimentos, outros do aluguel de apartamentos, ou através de patrocínio, alguns de vídeos criativos postados na internet, uns poucos conseguem manter o atual emprego morando no mar. Há uma resposta diferente para cada pessoa, mas é importante você pensar em como vai manter esse estilo de vida. Apenas garanta que você pense com cuidado pois essa vida não é nada barata e nem tão fácil quanto parece.

A gente optou por alugar os quartos do nosso barco e receber hóspedes, e assim conseguir algum dinheiro que ajuda a manter o barco. Aposto que há outras maneiras mais fáceis, mas ainda não achamos outra alternativa para fazer dinheiro e até agora estamos felizes com a decisão, por mais que dê bastante trabalho (bem mais do que a gente imaginava), conhecemos pessoas incríveis e acabamos fazendo vários programas diferentes com eles.

9. Comece fácil e de forma segura

Não vai comprar um barco no Chile e atravessar o Cabo Horn na sua primeira travessia. Tente comprar no Mediterrâneo ou no Caribe, idealmente num lugar onde você consiga velejar costeando, com ventos e ondas tranquilas, boa comunicação e um suporte de resgate descente. É bem provável que dará tudo certo mas é bom ter paz de espírito e saber que tem ajuda por perto caso precise.

Nós achamos que o Mediterrâneo era uma boa ideia. Por mais que tenha ventos fortes em alguns lugares durante o verão, não tem ondas gigantes, você está perto da costa na maior parte das vezes e tem sempre vários barcos e a guarda costeira por perto caso você precise de ajuda. Além disso, a comunicação é boa e fácil. Para completar, é uma região maravilhosa, com comida deliciosa e pessoas interessantes em todos os lugares.

10. Teste o barco e as suas capacidades

Quando você estiver confortável, tente empurrar seus limites com algumas pequenas travessias (1 a 2 noites em alto mar) e depois sair em tempo um pouco mais pesado mas ainda sob controle, com uns 30-40 nós de vento, antes de encarar umas travessias maiores. É melhor ir testando o barco e as suas habilidade em situações mais difíceis antes de enfrentar desafios maiores.

Antes de cruzar o Atlântico fizemos várias pequenas travessias dentro do Mediterrâneo, algumas tinham mais de 30 nós de vento, outras com ondas batendo do lado do barco e algumas tempestades pelo caminho. Então quando enfrentamos o Atlântico, achamos que nós e o barco estávamos prontos para o desafio.

Bom, claro que essa não é uma lista completa, mas foram algumas das coisas que lembramos. Esperamos que possa ajudar algumas pessoas de alguma forma. Agora vai lá, e siga seu sonho! Bons Ventos!

 

 

 

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