Condições do 'Brexit' viram obsessão nacional britânica

Plebiscito que definiu saída do Reino Unido da União Europeia aconteceu em 2016, mas divórcio político se consolidou como tema mais importante para os britânicos ao longo de 2017

© Pixabay

Mundo Reino Unido 02/01/18 POR Folhapress

Na entrada da uma das maiores livrarias de Londres, na região de Piccadilly, os best-sellers que iriam virar presente de Natal disputavam espaço com mais de uma dezena de obras que tentam explicar um tema mais sério, espinhoso e bem menos divertido, mas que prende a atenção dos britânicos como nenhum outro: o "brexit".

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O plebiscito que definiu que o Reino Unido sairia da União Europeia aconteceu em junho de 2016, mas o divórcio político e econômico se consolidou como tema mais importante para os britânicos ao longo de 2017, ano de negociações com o bloco europeu, e virou uma obsessão nacional.

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O "divórcio" monopoliza atenções e deixa britânicos em compasso de espera. Um ano e meio depois da votação, o Reino Unido continua com indefinições não só em relação à separação em si, mas sobre toda a realidade futura do país. Enquanto isso, inflação, problemas econômicos, investimentos, políticas contra o aumento da violência e da desigualdade, tudo parece esperar uma resolução.

"O 'brexit' consumiu a política britânica", afirmou à reportagem Tim Oliver, pesquisador da Universidade Europeia em Florença, do think tank LSE Ideas e da consultoria Brexit Analytics.

"A política britânica está obcecada com esse tema. O resto da União Europeia conseguiu isolar o 'brexit' como uma questão secundária, mas, para o Reino Unido, esse é o único assunto. Ele afeta muito a vida britânica e se consolida como algo que define o que o Reino Unido quer ser no futuro", disse.

Em sua avaliação, o problema é que o país não está debatendo o próprio futuro e pensa apenas nas disputas em torno do elo entre Londres e UE. "Isso é importante, mas até que o Reino Unido tenha uma ideia de que país quer ser –aberto ou fechado, com livre mercado ou protecionista, com poder centralizado ou não–, o novo relacionamento é uma distração."

O assunto domina tanto a atenção dos britânicos que, em pouco mais de um ano, mais de 40 livros sobre o "brexit" foram escritos –e o próprio Oliver, autor de uma das obras, desenvolveu uma "bibliografia" listando 47 títulos sobre a saída britânica da União Europeia.

Na academia, o tema também predomina, com centros voltados a pesquisas sobre o impacto da decisão de 2016 –isso apesar de a opinião de acadêmicos sobre o "brexit" ter sido motivo de polêmica e tentativa de censura por parte do governo.

REFUNDAÇÃO

Segundo Oliver, a obsessão em torno da separação gera problemas políticos e econômicos para o país. Ao longo de todo o ano de 2017, disse ele, o debate apenas reagiu aos acontecimentos à medida que eles se produziam, raramente olhando para o futuro ou sinalizando qualquer grau de controle ou estratégia por parte do Reino Unido.

Para o pesquisador, o país, que passa por uma refundação, deveria estar discutindo o que está por vir.Segundo o cientista político Simon Usherwood, da Universidade de Surrey, o problema é que o governo da primeira-ministra conservadora, Theresa May, não tem a capacidade de lidar com nada além do "brexit".

"May reconhece que existem outras questões, o que contribuiu em parte para a falta de foco nas negociações da 'brexit'. Embora seja possível viver com esse desequilíbrio por um curto período de tempo, está claro que, uma vez que o calor do 'brexit' diminuir, dentro de alguns anos, o governo terá um importante programa com que terá que lidar", disse à Folha.

Autor do livro "Understanding Brexit" (entendendo o "brexit"), que deve ser lançado em 2018, Oliver diz que, apesar do foco por vezes equivocado, o divórcio da UE de fato vai além do simples debate político e faz o Reino Unido se deparar com uma série de questões.

Segundo o pesquisador, temas como identidade, sociedade, economia política, comércio, segurança, posição internacional, Constituição, sistema jurídico, soberania, unidade, política partidária e as atitudes e valores que a definem devem se tornar o centro da atenção do debate.

"'Brexit' é o tema mais importante e controverso da política britânica moderna. É um ponto de mudança que pode transformar profundamente o Reino Unido", disse. Com informações da Folhapress.

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