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O Ministério da Cultura da Rússia anulou nesta quarta-feira (24), dois dias antes da data prevista, a licença para a exibição nos cinemas da comédia franco-britânica 'A Morte de Stalin', considerada ofensiva e "extremista" por cineastas e responsáveis políticos russos.
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"A licença de distribuição do filme 'A Morte de Stalin' foi retirada", anunciou um porta-voz do departamento de cinema do ministério.
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O filme do britânico Armando Iannucci, que deveria estrear na Rússia com uma classificação para maiores de 18 anos, relata de forma burlesca os conflitos entre o círculo próximo de Josef Stalin após a sua morte, em maio de 1953.
Cineastas, deputados e figuras políticas russas que visionaram o filme na segunda-feira (22), em sessão organizada no Ministério da Cultura, assinaram uma petição dirigida ao ministro Vladimir Medinski, por meio da qual pediram a proibição da distribuição da comédia que "ofende símbolos nacionais russos".
"Solicitamos que efetue uma avaliação jurídica suplementar e que até lá suspenda a licença de distribuição do filme", refere o texto subscrito por 20 personalidades russas, incluindo o cineasta Nikita Mikhalkov e Era Jukova, filha do general russo Gueorgui Jukov.
O ministro da Cultura também considerou que o filme poderia ser entendido como "um insulto ao passado soviético, o país que venceu o fascismo, ao exército soviético e às pessoas comuns, e mesmo às vítimas do stalinismo". A anulação da exibição do filme não significa um ato de "censura", afirmou aos jornalistas russos.
A data de estreia do filme também foi criticada, apenas uma semana antes das celebrações do 75.º aniversário da decisiva vitória do exército soviético em Stalingrado (atual cidade de Volgogrado) contra a Alemanha nazi.
Para os signatários da petição, difundida na página digital do Ministério, este filme "extremista" é uma "bofetada na cara dos que morreram e dos que sobreviveram" na batalha de Stalingrado.
"Não apenas Stalin mas todos os seus marechais, e mesmo Jukov, são apresentados como horríveis idiotas, quando foram eles que ganharam a guerra", referiu à agência noticiosa France Presse (AFP), Pavel Pojigaïlo, membro do conselho consultivo do Ministério da Cultura e um dos signatários.
"Filmes deste gênero não devem simplesmente chegar à Rússia e os que compram filmes parecidos não deviam trabalhar no nosso país", considerou outro signatário, o cineasta Nikita Mikhalkov, que realizou o filme sobre o stalinismo "Sol Enganador", Grande prêmio do Festival de Cannes em 1994 e o Óscar do melhor filme estrangeiro em 1995.
As sondagens revelam que Stalin - que liderou o país entre 1924 e 1953 e foi responsabilizado por milhões de mortes, incluindo entre a liderança comunista soviética -, permanece venerado na Rússia. Parte considerável da população costuma associá-lo à vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazi na II Guerra Mundial, e à visão de ter tornado o país uma superpotência nuclear.
O Presidente Vladimir Putin, um antigo oficial do KGB, tem adotado uma atitude cautelosa quanto a Stalin, denunciando os aspectos negativos do seu legado, sem deixar de enfarizar as conquistas da era soviética. Com informações da Lusa.