Em 60ª edição, Grammy vira palco de atos políticos

Teor de protesto em apresentações e discursos marcou esta edição do prêmio

© REUTERS/Lucas Jackson

Cultura ativismo 29/01/18 POR Folhapress

É simbólico que o show de abertura do 60º Grammy, na noite deste domingo (28), tenha sido o do rapper Kendrick Lamar, marcando uma cerimônia de atos políticos.

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Lamar, que concorria em sete categorias - e venceu cinco, incluindo o de melhor álbum de rap por "DAMN." -, deu início à premiação da indústria fonográfica com a canção política "XXX", acompanhado de dançarinos com fardas camufladas e uma bandeira dos Estados Unidos ao fundo.

Além da letra, crítica ao presidente Donald Trump ("Em Wall Street, escritórios corporativos, bancos/ Empregados e patrões com pensamentos homicidas/ Donald Trump está no escritório, perdemos Barack/ E prometi nunca duvidar dele de novo/ Mas a América é honesta ou nos aquecemos no pecado?"), um letreiro informava: "Isso é uma sátira de Kendrick Lamar".

O comediante Dave Chappelle, que assim como o grupo U2 fez uma participação na apresentação, disse: "A única coisa mais assustadora do que assistir a um homem negro ser honesto na América é ser um homem negro honesto na América".

+ Conheça Alessia Cara, artista revelação do Grammy 2018

Trump seria novamente alvo de críticas em uma esquete em que personalidades como Cher, Snoop Dogg e Hillary Clinton liam trechos do polêmico recém-lançado livro sobre bastidores do governo do presidente americano, "Fire and Fury", de Michael Wolff.

Eric Church, Maren Morris e Brothers Osborne homenagearam as vítimas dos ataques em Las Vegas e em Manchester com "Tears in Heaven", mas não mencionaram a questão do porte de armas nos Estados Unidos, ao qual artistas country costumam fazer lobby.

Em outro momento da cerimônia, o rapper Logic cantou "1-800-273-8255", composição antissuicídio que concorria na categoria canção do ano. Ao fim da apresentação com Alessia Cara e Khalid, Logic discursou contrariando gafes de Trump.

"A todos os países repletos de cultura, diversidade e milhares de anos de história: vocês não são países de merda, vocês são lindos", disse, referindo-se a suposta declaração do presidente americano de que os Estados Unidos recebiam muitos imigrantes de "países de merda" (shithole, em inglês).

"E, por fim, em nome daqueles que lutam pela igualdade em um mundo que não é igual, não é justo e não está pronto para as mudanças que estamos propondo, digo-lhe que nos traga seus cansados, seus pobres e qualquer imigrante que busque refúgio. Porque juntos podemos construir não apenas um país melhor, mas um mundo que está destinado a ser unido", disse o cantor.

O discurso também enalteceu a população negra e as mulheres, "mais fortes do que qualquer homem" que já conheceu, enquanto era ladeado no palco de pessoas vestidas com camisetas com os dizeres "você não está sozinha".

"A elas, digo que permaneçam de pé e esmagem todos os predadores com o peso de seus corações que estão cheios de amor e que eles jamais tirarão. Não tenham medo de suas vozes, especialmente em ocasiões como essas em que vocês têm uma oportunidade", disse.

ME TOO

O teor político já estava evidente antes mesmo da abertura da cerimônia. No tapete vermelho, artistas como Lady Gaga e Nick Jonas apareceram com uma rosa branca em um ato contra o assédio sexual. Assim como os artistas que vestiram preto no Globo de Ouro, a proposta é apoiar a campanha #Metoo, contra casos de abuso.

O tema ressurgiu quando a atriz e cantora Janelle Monáe fez discurso potente sobre ocorrências na indústria musical e chamou ao palco a cantora Kesha, que tornou-se símbolo da causa após levar adiante uma luta judicial contra seu produtor, Dr. Luke, acusando-o de assediá-la por diversos anos.

Acompanhada de um coral de mulheres, além de cantoras como Cyndi Lauper, Camila Cabello e Julia Michaels, Kesha cantou a autobiográfica e feroz "Praying". Emocionada, foi abraçada pelas colegas no palco.

Apesar de protagonizarem o manifesto contra assédio sexual, as mulheres foram minoria na corrida pelos prêmios principais -a exceção foi Alessia Cara, premiada como artista revelação.

PREMIADOS E HOMENAGEADOS

Bruno Mars se consagrou o grande vencedor da noite, levando seis gramofones, incluindo os de canção do ano ("That's What I Like"), gravação do ano ("24K Magic") e álbum do ano ("24K Magic").

Ed Sheeran, principal hitmaker da indústria fonográfica, ausente na ocasião, foi premiado por melhor performance pop ("Shape of You") e melhor álbum pop ("÷").

Chuck Berry, Fats Domino e Tom Petty, mortos no último ano, foram homenageados. Elton John, que anunciou sua última turnê mundial, tocou e cantou "Tiny Dancer" acompanhado de Miley Cyrus.

Popstars como Taylor Swift, Drake, Justin Bieber, Frank Ocean e Kanye West não compareceram à cerimônia. Jay-Z e Lorde, que foram indicados, não se apresentaram e saíram sem prêmios.

Com informações da Folhapress.

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