© REUTERS/Alessandro Di Meo
O Papa Francisco recebeu nesta segunda-feira (5) o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, em cerimônia privada no Vaticano. O encontro, que durou cerca de 50 minutos, começou em um clima cordial, apesar do forte esquema de segurança organizado no local e de uma série de protestos em Roma.
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De acordo com a imprensa vaticana, os dois debateram "a situação do Oriente Médio, com particular referência ao status de Jerusalém, evidenciando a necessidade de promover a paz e a estabilidade na região através do diálogo e da negociação, no respeito aos direitos humanos e da legalidade internacional".
Erdogan liderou os protestos internacionais dos países islâmicos quando, em 6 de dezembro do ano passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, reconheceu Jerusalém como capital de Israel. O Vaticano, assim como a ONU, a União Europeia e todos os maiores países do mundo, criticaram a medida e pediram o respeito às convenções das Nações Unidas sobre o tema. O Papa tem uma visão parecida, e já rejeitou a declaração dos EUA. No entanto, há divergências sobre as ações de Erdogan contra minorias étnicas e religiosas.
"Eu lhe agradeço por seu interesse em me receber", disse Erdogan a Jorge Mario Bergoglio assim que chegou ao encontro. Na tradicional troca de presentes entre os chefes de Estado, o Pontífice deu um medalhão com um anjo para o mandatário visitante. "Este é um anjo da paz que estrangula o demônio da guerra. É o símbolo de um mundo baseado na paz e na justiça", explicou o líder católico ao entregar o presente.
Francisco ainda deu um desenho da Basílica de São Pedro, retratada em 1600, uma cópia da encíclica "Laudato sí", que tem foco ambiental, e a Mensagem para o Dia da Paz de 2018. Por sua vez, o líder de Ancara deu um grande quadro de cerâmica com o panorama de Istambul e uma coleção de livros do teólogo muçulmano Mevlana Rumi. Na delegação turca que acompanhava Erdogan, havia cerca de 20 pessoas. No entanto, elas só entraram para a reunião após os dois líderes, e seus intérpretes, conversarem a portas fechadas.
Segundo fontes do governo turco, Erdogan ainda visitará a Basílica Vaticana com a esposa antes de voltar para Roma. Essa é a primeira vez que o turco visita a cidade-Estado, apesar de estar no poder desde 2014. Por sua vez, Bergoglio foi à Turquia em novembro de 2014.
Protestos em Roma
A visita de Erdogan ao Vaticano e à Itália está sendo marcada por uma série de protestos desde este domingo (4). Entre as principais críticas ao governante, estão os ataques contra os curdos e a perseguição de rivais políticos por conta do fracassado golpe de Estado de julho de 2016.
Com cartazes com as palavras "assassino", "Turquia estrada para terroristas" e outras críticas, a maior manifestação foi organizada pela Rede Curdistão na Itália. Junto a eles, outras entidades italianas também se uniram e protestaram contra a visita.
Para garantir a segurança da comitiva turca, até blindados foram usados na proteção ao local onde o presidente está hospedado, em Castel Sant'Angelo. Há também vigias em pontos estratégicos e um grande contingente de militares - além do bloqueio de ruas próximas ao local. Além dos protestos em Roma, há também atos contra a visita de Estado em Veneza, que chamavam o presidente de terrorista.
Da Itália, Erdogan partiria para a América do Sul, em viagem que incluía Brasil, Uruguai e Venezuela. No entanto, o giro foi cancelado. Especula-se que os protestos da comunidade armênia uruguaia, até mesmo dentro do governo local, tenha feito o cancelamento. O Império Otomano cometeu o "genocídio armênio" entre os anos de 1915 e 1917, em termo que é negado pelo governo Erdogan. Com informações da Ansa.