© Kimberly White/REUTERS
O povo cubano considerou Ernesto "Che" Guevara como um deles desde 7 de fevereiro de 1959. O Conselho de Ministros reconheceu o argentino como cidadão cubano por nascimento e as notícias invadiram os jornais da época junto com a Lei Fundamental do novo Governo que acolheu esse fato.
PUB
Uma das primeiras medidas do Governo revolucionário depois do triunfo de 1º de janeiro foi o reconhecimento de Che como cidadão de Cuba. Pouco mais de um mês depois, Cuba adotou Ernesto Rafael Guevara de la Serna como nativo.
+Oposição venezuelana nega acordo com governo Maduro
A Lei Fundamental indica na seção 12 que "são cubanos por nascimento […] os estrangeiros que tenham servido na luta contra a tirania derrubada em 31 de dezembro de 1958 nas fileiras do Exército Rebelde por dois ou mais anos, e que tenham mantido o cargo de comandante por pelo menos um ano", informou o jornal Granma.
Não é a primeira vez que tal acontecimento ocorreu na história de Cuba. O dominicano Máximo Gómez, general que liderou o Exército mambí nas lutas pela independência na época da colônia espanhola, também teve essa distinção, disse à Sputnik o historiador cubano Froilán González.
"Todavia, o caso do comandante Ernesto Che Guevara foi uma proposta de Fidel Castro que também era justa, merecida e honrosa para Cuba", disse González.
Embora também houvesse outros estrangeiros na expedição de Granma, Che Guevara juntou-se à luta cubana desde o México e logo depois se juntou à luta armada, sendo o primeiro comandante do Exército Rebelde nomeado por Fidel.
"Che carregou a bandeira de Martí, Fidel e Antonio Maceo e, com sua grande capacidade, sintetizou tudo o que esses ideais representavam em suas ações, de modo que ele mereceu esse reconhecimento como filho por nascimento de Cuba, embora nunca negasse sua origem argentina", disse González.
Em 1997, o historiador publicou com sua esposa Adys Cupull, o livro "Cidadão do mundo", um documento que explica as influências do pensamento e da figura de Guevara muito além das fronteiras latino-americanas.
"O 'Guerrilheiro Heroico' era um homem completamente desapegado, sensível, inteligente e hábil. Todas essas características foram sintetizadas em um homem de luta e é por isso que o povo cubano sente um verdadeiro orgulho por essa decisão de reconhecê-lo como seu", comentou o pesquisador.
O relacionamento de Che com os cubanos também influenciou o caráter e a formação patriótica do argentino, disse o entrevistado, a tal ponto que uma ilha foi batizada com seu nome.
"O nome 'Che' foi dado pelos cubanos […] Portanto, ele é um produto do povo cubano e de sua história, pois embora tivesse influência de toda a América Latina, foi seu encontro com Fidel e outros moncadistas que moldaram seu status de cubano", assegurou o entrevistado.
González, comentando sobre o destino final dos restos mortais de Che, disse que é a Cuba que ele pertence. "Não só para que seus restos mortais descansem nesta terra, mas também para encorajar a luta e resistência de um país agredido e bloqueado por seu poderoso vizinho, com uma base militar ilegal onde os direitos humanos são violados diariamente", afirmou.
Em 1983, González viajou para a Bolívia para saber mais sobre o destino dos restos mortais de Che como parte das pesquisas organizadas conduzidas por cientistas cubanos e argentinos. "Sentimos como um dever de cubanos e como uma forma de responder ao desejo de Fidel de que seus restos e os de seus companheiros fossem enterrados em Cuba", disse ele.
Em sua carta de despedida, em outubro de 1965, Che confessou a Fidel: "Sinto que cumpri a parte de meu dever que me prendia à revolução cubana em seu território, e eu digo adeus a você, aos companheiros, ao seu povo, que também já é meu", escreveu.
"Graças a seu exemplo, Cuba está cheia de homens novos e mulheres novas. Qualquer um que ame esta ilha, ou que defenda valores como a dignidade e justiça, ou que apenas lute pela independência e contra a submissão aos Estados Unidos, é um seguidor de seu exemplo", concluiu González. Com informações da Sputnik News Brasil.