Reitor da UFSC sabia de operação sigilosa da PF, diz relatório

Operação apurava irregularidades em bolsas de estudo na Universidade Federal de Santa Catarina

© Pipo Quint/Agecom/UFSC

Brasil Irregularidades 09/02/18 POR Folhapress

Uma troca de mensagens por celular apreendida pela Polícia Federal indica que o então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, foi informado com antecedência que uma operação sigilosa da PF apurava irregularidades em bolsas na universidade.

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Semanas depois, ele assinou ofício para retirar da Corregedoria da UFSC investigação que tramitava sobre o assunto. O vazamento ocorreu quando a operação da PF, que depois ganharia o nome de Ouvidos Moucos, ainda estava em segredo de Justiça.

Um relatório da CGU (Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União), que analisou as mensagens apreendidas, aponta que a informação sobre a investigação da PF foi repassada a Cancellier por Alvaro Prata, ex-reitor da UFSC e atual secretário de Desenvolvimento Tecnológico do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Ele disse a Cancellier que soube do caso porque o corregedor da UFSC, Rodolfo Prado, manteve uma audiência em Brasília com o presidente da Capes, Abílio Baeta Neves.

A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculada ao Ministério da Educação, repassava os valores da UFSC para o programa de ensino que estava sob suspeita. O corregedor pretendia informar ao presidente do órgão sobre as irregularidades na UFSC e pedir providências a respeito, como a suspensão dos repasses.

Prata escreveu a Cancellier: "Finalmente conversei com o presidente da Capes sobre a reunião com o corregedor. O corregedor não deu detalhes e apenas comunicou sobre uma ação da PF em curso e em sigilo envolvendo recursos da Capes e o ensino a distância na UFSC. Fiquei preocupado, depois ligo".

A Operação Ouvidos Moucos da PF foi deflagrada quatro meses depois, em setembro de 2017. As mensagens entre Cancellier e Prata ocorreram de 2 de maio a 8 de julho de 2017. Poucos dias depois, em 19 de julho, Cancellier assinou ofício pelo qual retirava o processo que estava em poder de Rodolfo Prado.

Por esse ofício e outros depoimentos de professores que indicavam tentativas de obstrução da investigação, a PF e o Ministério Público Federal pediram a prisão e o afastamento de Cancellier, o que foi aceito pela Justiça Federal.

Dias após ter sido solto por outra decisão judicial, Cancellier se matou em um shopping de Florianópolis.

Prata manifestou a Cancellier, nas mensagens, preocupação sobre as investigações. "O Abílio me ligou para informar dos resultados da reunião e me avisou da liberação de recursos. Ele acha que você está subestimando a ação do corregedor", escreveu Prata. Em outra mensagem, Cancellier manifestou seu desconforto com a movimentação do corregedor. "Acho estranho um corregedor pedir uma audiência para Capes sem passar pelo reitor."

Em julho, Prata voltou a alertar Cancellier: "O presidente da Capes está achando que você não está dando a devida atenção ao problema".

O reitor quis saber se ele tinha "conseguido alguma informação". "Sim. Ele [Neves] me confirmou que o problema na UFSC é sério. (...) Me falou inclusive que a equipe que esteve aí fazendo uma auditoria fez um relatório crítico e desabonador", respondeu Prata.

OUTRO LADO

Prata afirmou que, em virtude dos cargos que ocupou e ocupa, "mantém relações tanto com a Capes como com a UFSC". Ele disse que já foi "ouvido como testemunha e prestou todos os esclarecimentos". À PF em setembro, Cancellier defendeu-se das suspeitas e negou irregularidades. A Capes afirmou que não é investigada e que seu presidente "limitou-se a pedir informações" a Prata. Com informações da Folhapress.

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