Autora inglesa antecipa detalhes de controverso livro da série 'Louca'

Chloé Esposito conta que quis escrever uma personagem que mostrasse que as mulheres também podem ser más

© Divulgação/Betrand PT

Cultura exclusivo 25/02/18 POR Raquel Lima

Em menos de um ano, Chloé Esposito passou de autora cujos romances eram descartados antes do segundo capítulo a best-seller mundial. Enquanto publicava “Louca” (Ed. Globo Livros, 360 páginas, R$ 39,90), disputado por 21 editoras, em 25 idiomas, a britânica de 31 anos deu à luz a segunda filha. Em pleno puerpério, Chloé encara os retoques finais de “Bad”, segundo título da saga a chegar às livrarias - no Hemisfério Norte, será em julho; no Brasil, ainda não há título traduzido nem data de lançamento.

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Completamente confortável com a virada no “roteiro” da própria vida, a autora antecipou detalhes do segundo livro, com exclusividade ao Notícias Ao Minuto Brasil. “‘Bad’ se passa na Itália, é uma corrida de gato e rato pelo Centro de Roma. No primeiro livro, Alvie roubou a vida perfeita que leva. No segundo, alguém quer tomá-la de volta… Podem esperar uma viagem ainda mais ultrajante com personagens de ‘Louca’ voltando às páginas”.

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O ultraje citado por Chloé não vem do fato de “Louca” ser picante, de uma maneira crua e nem sempre sensual, mas de a personalidade da protagonista espantar mais do que qualquer tabu. Alvina Knightly se mostra como alguém com um tanto de sociopatia, invejosa, boêmia, preconceituosa, sempre politicamente incorreta, alguém cuja falta de humor chega a ser divertida e com uma verborragia de pensamentos sem filtro. “Quem quer que tenha dito ‘partilhar é cuidar’ não tinha uma gêmea”, pensa a protagonista em determinado trecho da trama. Em outro, dispara: “O que importa se gosta de bater em mulheres? Ele é um Adonis”.

Em um estilo rápido, de frases curtas, a autora parece desafiar quem lê a desgostar da protagonista. A surpresa é que não é fácil ignorar esta mulher tão louca quanto promete o título. A estreante inglesa usa muito bem um trunfo de veterana. Como Isabel Allende faz, com maestria, em obras como “O Caderno de Maya” (Porto Editora), em 2011, Chloé teve coragem de apenas revelar Alvie no próprio tempo, aos poucos. Mesmo quando se começa a perceber a história de fundo desta gêmea “do mal”, entre Londres e a Sicília, ela ainda surpreende.

Talvez a personagem seja ainda mais controversa porque é uma mulher fazendo todas essas coisas terríveis: matar e f**er e usar drogas”, defende a autora. “Escrever essa personagem foi muito divertido, mas também uma declaração feminista. Eu queria criar uma protagonista feminina forte e complexa para mostrar que as mulheres também poderiam ser más”, complementa.

Ao costurar a  linha do tempo entre presente e passado, Chloé torna crível uma relação de completo ódio entre a mãe e Alvie, e como ela cria uma espécie de sombra sobre a gêmea, Beth - descrita por Alvie como “perfeita dos pés à cabeça”.  “A mãe sempre preferiu Beth e Alvie sempre foi a má, a desajustada. Ela acredita que o fato de ter dextrocardia - uma condição rara em que o coração fica localizado no lado direito do corpo, em vez do esquerdo - é um sinal de que é má. Ela é uma imagem espelhada de sua perfeita irmã gêmea, cujo coração está no lugar certo”, antecipa a autora, melhor do que na sinopse mundial, que o editor.

Na entrevista a seguir, Chloé revela como conseguiu chamar a atenção do mercado editorial, fala sobre sentimentos controversos, sucesso e sobre a própria gêmea de nome - a autora é filha única, mas tem uma atleta olímpica australiana como homônima. Confira.

“Louca” é sobre uma mulher completamente envolvida com a própria sombra. Acredita que temos de ser um pouco mais próximos do nosso lado mais sombrio?

Sem dúvida. Alvie é um gêmea maligna idêntica, que rouba a vida perfeita da irmã. Sua gêmea, Beth, é a "boa", a menina dourada. Mas Alvie é alguém que não liga para p**ra nenhuma. Ela não se importa com ninguém, além de si mesma, e é a pessoa mais egoísta e materialista que eu poderia imaginar. Ela realiza todas as fantasias mais sombrias em um passeio selvagem de montanha-russa. Eu queria criar uma anti-heroína original, alguém que os leitores nunca tinham visto antes e quem seria malvado e moderno e totalmente chocante. Talvez o personagem seja ainda mais controverso porque é uma mulher fazendo todas essas coisas terríveis: matar e f**er e usar drogas.

Tradicionalmente, as mulheres são maternais, morais e bem comportadas; elas são o ornamento de todos aqueles meninos malvados dos livros. Alvie é o oposto. Escrever essa personagem foi muito divertido, mas também uma declaração feminista. Eu quis criar uma protagonista feminina forte e complexa para mostrar que as mulheres também poderiam ser malvadas. Eu acho que as mulheres se preocupam demais com agirem conforme o "caminho certo" ou com o que outros pensam sobre elas. É revigorante que Alvie não se importe.

Você já confessou ter escrito outras dezenas de livros, nunca terminados. O que foi diferente em “Louca”?

Comecei a escrever muitos livros ao longo dos anos, mas nunca cheguei muito longe (até o capítulo dois!) antes de exclui-los. Eu tinha muitas idéias para histórias, mas sempre odiava minha própria escrita e era muito crítica com o que escrevia. Adorava o processo criativo, mas não tive confiança para terminar um projeto. Foi só quando me inscrevi em um curso de escrita na Faber Academy, em Londres, que tive a estrutura e o suporte para terminar de escrever meu primeiro romance. Também tive a ajuda desse personagem, Alvina Knightly, que entrou na minha cabeça e não desistiu. Então, tive que escrever toda uma trilogia sobre ela. Eu fui raptada!

Se considerarmos que tudo tem um lado sombrio, qual foi a desvantagem de ter os direitos do livro comprados?

Estou completamente apaixonada por minha nova carreira e escrever em tempo integral é o que sempre quis fazer. Honestamente, é o trabalho dos meus sonhos. O único lado sombrio é a pressão do tempo para entregar as novelas. Estou equilibrando a escrita com o processo de cuidar de minhas duas jovens filhas, mas todas as mães que trabalham têm os mesmos desafios e realmente não posso reclamar.

Sabia que tem uma “gêmea” de nome, uma pentatleta australiana que é medalhista olímpica?

Haha! Sim. Espero que ela goste dos livros! Eu, por acaso, admiro muito as conquistas desportivas da Chloe e tenho certeza de que ela está bem mais fisicamente em forma do que eu.

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