© Bruno Domingos/Reuters
A economia brasileira cresceu 1% no ano passado, informou nesta quinta-feira (1º) o IBGE. No último trimestre do ano, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 0,1% em relação aos três meses anteriores, dando sinais de que a recuperação da economia ganhou força após a saída da recessão, no início de 2017.
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Ante o quarto trimestre de 2016, quando o país ainda estava em recessão, a alta no último período do ano foi de 2,1%. Os números vieram um pouco abaixo do que esperavam analistas do mercado financeiro e o governo.
A projeção central de economistas consultados pela agência Bloomberg era de um crescimento de 1,1% em 2017 e de 0,4% no quarto trimestre do ano. Os números da economia mostram que o país deixou a recessão - iniciada no segundo trimestre de 2014, segundo o Comitê de Datação de Ciclos, da FGV- no primeiro trimestre do ano passado.
A recuperação começou pelo setor agropecuário e pelas exportações, que deram o primeiro empurrão à economia. Nos meses seguintes, o consumo saiu do resultado negativo e também o investimento. A indústria voltou a produzir. Todos estimulados por um contexto de taxas de juros cadentes, inflação em declínio e maior circulação de dinheiro na economia com a liberação do FGTS e do FAT.
O quarto trimestre foi marcado pela consolidação da retomada, em praticamente todas as contas que compõem o PIB, principalmente às relacionadas a demanda doméstica. Carro-chefe da economia brasileira, responsável por cerca de 70% do PIB, o consumo cresceu 0,1% ante o terceiro trimestre e, na média do ano, a alta foi de 1%. Em relação ao mesmo período do ano passado, a expansão foi de 2,6%.
O investimento, que havia despencado 30% durante a recessão, cresceu 2% no quarto trimestre ante os três meses anteriores. Na comparação anual, pela primeira vez desde o início de 2014, o resultado também ficou no positivo: alta de 3,8%. Em 2017, porém, a média ainda ficou negativa em 1,8%. Dessa forma, a taxa de investimentos (a proporção dos investimentos no PIB) ficou em 15,6%.
O Ministério da Fazenda também tinha essa expectativa, após revisão anunciada em dezembro, quando a Secretaria de Política Econômica elevou de 0,5% para 1,1% a previsão para o crescimento econômico neste ano. O PIB per capita, divisão do produto pela população e uma métrica de qualidade de vida, ficou em R$ 31.587, com uma variação de 0,2% ante 2016.
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Do lado da produção, a indústria voltou a registrar números positivos, pelo segundo trimestre seguido. O setor cresceu 0,5% no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior e 2,7% frente ao mesmo trimestre de 2016. No ano, a indústria ficou estável.
O setor de serviços, muito conectado com o que acontece com o consumo e a massa salarial, também ficou positivo em 0,2% ante o terceiro trimestre, pelo quarto período seguido de alta. Na comparação com o último trimestre de 2016, a taxa ficou positiva em 1,7% e, no ano, registrou crescimento de 0,3%.
SENSAÇÃO TÉRMICA
Economistas observam, porém, que a retomada do PIB não melhorou a sensação térmica da população sobre a economia. Silvia Matos, coordenadora do boletim Macro, da FGV, nota que os indicadores de confiança dos consumidores, embora em alta, têm apresentado desempenho inferior ao de empresários. O crédito também ainda não decolou.
"Houve uma desinflação importante. O que dificulta a melhora da sensação é o mercado de trabalho, a taxa de desemprego ainda está muito elevada", afirma.
Dados informados nessa quarta (28) pelo IBGE apontam que 12,2% da força de trabalho está procurando emprego e não teve sucesso em conseguir uma vaga em janeiro. "Com a recuperação da economia era para a popularidade dos políticos ter aumentado, mas a população não responde", afirmou a economista.
"Entendo o mau humor, o governo federal está em meio a um ajuste fiscal e os Estados não têm investido em segurança e saúde." O economista Marcelo Kfoury, da FGV-SP, observa que, apesar da recuperação do PIB, ainda há muito espaço a ser consumido na capacidade de produção de fábricas e aproveitamento de pessoal.
Em suas projeções, essa folga ainda levará tempo para ser consumida, o que deve ocorrer entre o fim de 2019 e início de 2020. Até lá, ele não descarta nova redução da taxa básica de juros (Selic). A partir daí, observa ele, o gás gerado pela atual capacidade de crescimento da economia se esgota. E, com isso, será necessário avançar em reformas que ampliem o crescimento.
Em sua avaliação, o presidente Michel Temer tem poucas chances de surfar na atual onda da recuperação, uma vez que ainda deverá levar cerca de seis meses para que a sensação de retomada seja mais percebida no setor real e no mercado de trabalho. Com informações da Folhapress.