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O advogado João Carlos Campanini, que defende o policial Victor Cristilder Silva dos Santos, disse nesta sexta-feira (2) que vai recorrer da sentença que condenou seu cliente a uma pena de 119 anos, 4 meses e 4 dias de reclusão em regime fechado. O policial foi julgado pela participação em 12 mortes e quatro tentativas de homicídio nas chacinas de Osasco e de Barueri, ocorridas no dia 13 de agosto de 2015, e que deixaram 17 mortos no total. A sentença foi decidida por sete jurados e lida na noite desta sexta-feira (2) pela juíza Élia Kinosita Bulman.
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“Não tenha dúvida de que vamos recorrer”, disse ele, ressaltando que vai alegar que houve incoerência nas sentenças dadas a seu réu hoje e na dos demais policiais também acusados por participação nas chacinas, condenados em setembro. Para o advogado, a sentença tem chances de ser anulada em segunda instância.
Cristilder foi condenado por homicídio e tentativa de homicídio com todas as qualificadoras que lhe foram imputadas, como motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. No entanto, ele foi absolvido da imputação de formação de organização criminosa para cometer crimes (participação em grupo de extermínio).
“Houve total incoerência ali. O Victor Cristilder era acusado de ser o chefe da quadrilha. E os jurados o absolveram em relação a existir uma organização criminosa. Ou seja, o chefe da organização foi condenado a 119 anos, enquanto os demais foram condenados a 250 anos”, falou o advogado. “O povo de Osasco, na minha opinião, ainda não tem certeza se esses homens mataram essas pessoas”, acrescentou.
Cristilder ainda é réu em um outro julgamento que ainda será marcado. Ele é acusado pela morte de um rapaz em Carapicuíba, em uma chacina que ocorreu uma semana antes das de Osasco e de Barueri, e que teria também sido provocada como vingança pela morte de um policial militar. Para ele, a condenação do policial hoje não deve influir no outro julgamento. “Acredito que não [vai influenciar] porque cada julgamento é um julgamento”, falou.
Para o promotor Marcelo de Oliveira, a condenação do policial fez justiça. “Foi o resultado que eu esperava porque ele foi lógico, coerente com o julgamento anterior e foi extremamente justo. O resultado demonstra que o Ministério Público é intransigente com os direitos humanos”, falou ele a jornalistas, após a leitura da sentença. Para ele, a condenação do policial hoje foi obtida pelo conjunto de provas. “Não é uma só prova, é um conjunto”, disse.
Sobre o fato da pena de Cristilder ter sido bem menor que a dos demais policiais, que foram condenados a penas de mais de 200 anos no julgamento anterior, o promotor disse que a condenação do policial foi semelhante ao do guarda-civil também condenado pelo crime. “Os dois estavam umbilicalmente ligados. Era a mesma prova. Era a coordenação do evento”, falou.
Parentes
A sentença revoltou os parentes de Cristilder. A tia da esposa do policial, Eunice dos Santos, disse ter achado a condenação “um absurdo”. “Foi o absurdo dos absurdos. Foi uma tremenda injustiça. Ele é inocente”, disse ela. Já a mãe de Cristilder chorou muito e saiu sem falar com a imprensa.
O tio de Cristilder reclamou que as sete perguntas que foram levadas aos jurados (entre elas, se ele concorreu para as mortes e se fazia parte de grupo de extermínio) e que decidiriam o destino de seu sobrinho deveriam ser simplificadas. Para ele, isso ajudou na condenação do sobrinho. “O júri, infelizmente, percebe-se que eles são grandes profissionais na área em que trabalham. Mas são leigos [em direito]. Poderia ser simplificada a situação. Tenho certeza que eles se equivocaram, eles não reuniram condições de responder a essas perguntas”, disse Roberto Alves da Silva.
A sentença, no entanto, foi muito comemorada pelos parentes das vítimas, que abraçaram o promotor e posaram para fotos com ele, logo depois que souberam da condenação de Cristilder. “Nossos mortos não vão voltar. A justiça foi feita. Meu filho iria fazer 37 anos no dia 17. Tenho dó da família deles [dos policiais condenados] também, das mães deles, mas eles deveriam ter pensado antes de fazer [as chacinas]. Nós mães vamos ter que viver o resto da vida com essa dor. Nada vai pagar [isso], indenização, a sentença, nada”, disse Zilda Maria de Paula.
“Estou de coração partido porque nada traz meu filho de volta. Mas há a sensação de alívio por Deus ter concedido ser feita justiça aqui na terra. Nossa luta não foi em vão. Sofro também pelos familiares deles. Entendo a dor dos familiares, mas nossa dor não tem mais volta. O que eles [policiais] estão colhendo é o que eles plantaram, infelizmente”, disse Rosa Francisco Correia, mãe de um rapaz que foi assassinado na chacina.
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Primeiro julgamento
O julgamento das chacinas de Osasco e de Barueri foi desmembrado em dois. No primeiro deles, ocorrido em setembro do ano passado, os sete jurados decidiram condenar os policiais militares Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain, além do guarda-civil Sérgio Manhanhã. O policial Fabrício Emmanuel Eleutério foi condenado à pena de 255 anos, 7 meses e 10 dias de prisão. O também policial Thiago Barbosa Henklain recebeu sentença de 247 anos, 7 meses e 10 dias. Já o guarda-civil Sérgio Manhanhã foi condenado a 100 anos e 10 meses. As penas somam mais de 600 anos.
Os dois policiais foram acusados de terem disparado contra as vítimas e respondiam por todas as mortes e tentativas de assassinato. Já o guarda-civil, segundo a acusação, teria atuado para desviar viaturas dos locais onde os crimes ocorreriam e foi denunciado por 11 mortes. Eles responderam por homicídio qualificado, por motivo torpe, com emprego de recurso que dificulta as perdas das vítimas e praticado por grupo de extermínio, além de responderem pelo crime de formação de quadrilha. Com informações da Agência Brasil.