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O deputado Paulo Maluf (PP-SP), de 86 anos, recebeu a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, para uma entrevista dentro do Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, nesta sexta-feira (2), dia habitual de visita. Com os cabelos mais brancos, pois não pode mais pintá-los, e vestido todo de branco, uniforme dos presos no local, o parlamentar demonstrou-se frágil, chorou e falou dos seus feitos na vida pública.
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Maluf está preso desde o dia 20 de dezembro do ano passado, quando se entregou à Polícia Federal em São Paulo. Dois dias depois, em 22 de dezembro, foi transferido para o presídio onde hoje se encontra. No local, estão diversos presos da Lava Jato, como o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-ministro Geddel Vieira Lima, ex-senador Luiz Estevão, corretor Lúcio Funaro, entre outros.
O ex-prefeito está acomodado na cela 10, que possui cerca de 10 m². O local tem dois treliches, num total de seis camas, mas só quatro estão ocupadas. O deputado divide o espaço com um médico, um holandês e um ex-funcionário público.
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Sobre os seus companheiros de cela, o ex-prefeito diz que não sabe o motivo da condenação: “A regra aqui é ‘Don’t ask, don’t tell’ [não pergunte nada, não conte nada]”, explica.
“Há muitos presos por crimes sexuais aqui, por exemplo”, diz. “Se você fica conhecendo as histórias em detalhes, acaba ficando com ojeriza de algumas pessoas. E isso é péssimo para a convivência porque o lugar é pequeno. Melhor não saber de nada.”
Ele reclama por estar longe da família e ser o único preso com 86 anos. “Querem que eu cumpra pena? Tudo bem. Mas eu posso cumprir em São Paulo, perto da minha família. Eu posso cumprir na minha casa. Eu sou o único preso aqui que tem 86 anos. E cumprindo regime fechado! O único!”, diz indignado. "Eu tive câncer de próstata. Eu sou cardíaco. Tomo 15 remédios por dia.”
“A doutora Etelvina [médica da Papuda] é maravilhosa. (...) O Mike também”, diz, referindo-se ao médico que está na mesma cela. “Ele foi colocado aqui para cuidar de mim por causa dos meus problemas de saúde”, afirma.
Sobre o tratamento que recebe no local, Maluf contou que não pode reclamar: “muito educados. (...) Me tratam de forma reverencial, pela idade e pela minha história.”
O almoço foi servido quando a jornalista estava lá: arroz, feijão, frango desfiado e cenoura cozida, mas Maluf rejeita. “Não é que a comida seja ruim. É que não é o gosto de casa, que eu estou acostumado.” Ele conta que só come a comida da cantina: pizza, esfirra, cachorro-quente e pamonha. “E tomo Coca-Cola e Fanta o dia inteiro.” Fora frutas e biscoitos levados pelo assessor todas as sextas-feiras.
“Todos os domingos eu e a Sylvia [mulher dele] almoçávamos comida árabe em casa, com os quatro filhos, os seis netos e os 13 bisnetos”, conta chorando. “Eu sinto falta da Sylvia, sabe? Ela sorriu comigo, ela chorou comigo a vida inteira. Ela vai fazer 83 anos no dia 12 de abril. E no dia 23 nós fazemos 63 anos de casados”.
O ex-prefeito não quer que a esposa vá visitá-lo: “Você acha que uma mulher da idade dela tem que passar pelo que você passou hoje [revista íntima]? Não quero! Não quero!”. Os filhos também estão proibidos por ele de ir à Papuda.
Eu não estou triste. Eu estou é magoado, sabe? Eu sou até um homem de sorte. Eu tenho uma mulher exemplar. E nasci no Brasil. Aqui é uma democracia. (...) Se eu tivesse nascido no Líbano [como seus antepassados], eu poderia estar sendo torturado, executado, sem chance de defesa. Aqui meus advogados vão conseguir provar que sou inocente.”
“Eu só fiz o bem a minha vida inteira”, disse Maluf e começou a citar as suas obras pelo estado e cidade de São Paulo: Minhocão, avenida Águas Espraiadas (que, inclusive, rendeu a sua condenado por desvio de recursos da obra), moradias do Cingapura, entre outros.