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Existe limite para o desejo de ser mãe? Em "Uma Espécie de Família", filme do diretor argentino Diego Lerman que estreia nesta quinta (8), a personagem principal, a jovem médica Malena, toma vias ilícitas para satisfazer sua vontade de ter filhos.
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Com problemas em seu relacionamento e após passar pela perda de um bebê, que nasceu morto, Malena viaja sozinha até a região de Misiones, norte da Argentina, para adotar um recém-nascido de maneira ilegal.
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A história retrata, do outro lado, a exploração da pobreza de jovens mulheres que, sem perspectivas, entram no esquema em troca de algum dinheiro.
O relógio biológico é um dos fatores que podem fazer o desejo da maternidade chegar ao desespero, segundo Vera Iaconelli, psicanalista e colunista da Folha, que escreve sobre relações entre pais e filhos.
No caso da protagonista do filme, a angústia é agravada pela dificuldade em superar a morte do filho. As atitudes de Malena fazem o filme ganhar uma atmosfera de tensão que beira o terror. "O filme mostra que nossa vida pode virar thriller quando não conseguimos lidar com o luto", afirmou a psicanalista durante um debate que seguiu a pré-estreia do filme na última terça (6), no Espaço Itaú de Cinema do Shopping Frei Caneca, em São Paulo.
O evento, promovido pela Folha de S.Paulo e pela Pandora Filmes, teve a participação de Teté Ribeiro, editora da revista Serafina, autora do livro "Minhas Duas Meninas" (Companhia das Letras, 184 págs., R$ 39,90), no qual relata sua experiência ao decidir ter filhos por meio de uma barriga de aluguel na Índia.
"Sempre quis ter filhos e deixei para depois. Passaram-se dez anos, mas chegou uma hora que não dava mais para esperar", disse Teté no debate.
"Fiz a coisa que considerava a mais extrema e foi o que deu certo. Não sei se esse desejo tem um limite, mas é possível se cansar dele, como acontece com tudo que não dá certo na vida", completou.
Para Vera, "muitas vezes as pessoas querem o bebê, mas não querem a maternidade". Teté lembrou que esse desejo deve ser por uma vida inteira, não apenas por um bebê. "Sonhamos com o bebê, mas ele é passageiro. A criança é um bebê por apenas seis meses", disse.
ADOÇÃO ILÍCITA
De acordo com a psicanalista, adoções como a mostrada no filme argentino aconteciam muito no Brasil também, quando famílias mais ricas criavam filhos de mães pobres, que os entregavam na esperança de uma educação melhor.
Algumas pessoas da plateia se manifestaram, relatando casos parecidos de adoção vivenciados por parentes ou conhecidos. Paula Cosenzo, produtora do filme que esteve na plateia, disse que situações como essa são comuns na região de Misiones.
A atriz brasileira Paula Cohen, que participa do filme, também esteve na pré-estreia, e contou um pouco de sua experiência durante as filmagens.
"O filme não fala apenas sobre a vida das pessoas retratadas nele, ele mostra algo maior. Ele é necessário para esse momento em que estamos discutindo o lugar da mulher no mundo e os direitos iguais entre os gêneros", afirmou. Com informações da Folhapress.