Argentina: projeto de legalização do aborto impulsiona ato de mulheres

Marcha deste 8 de Março reuniu centenas de milhares de pessoas no centro de Buenos Aires, segundo a polícia local

©  Reuters

Mundo Dia da Mulher 08/03/18 POR Folhapress

Num dos países em que teve início a renovada movimentação feminista pelo mundo, a Argentina, onde em 2015 surgiu o grupo "Ni Una Menos" (em protesto contra a violência contra as mulheres), a marcha deste 8 de Março reuniu centenas de milhares de pessoas no centro de Buenos Aires, segundo a polícia local.

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Desde às 16h, várias colunas vindas de bairros diferentes dirigiram-se para a praça diante do Congresso. Algumas colocavam o foco na violência de gênero (a cada 30 horas há um caso denunciado no país), outras, na desigualdade dos salários (a média nacional é de que as mulheres ganhem 33% do que os homens).

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Porém, as que predominaram foram as que, usando lenços verdes (cor escolhida pelas deputadas que deram entrada nesta semana do projeto de lei sobre o aborto no Congresso), pediam a aprovação da medida que permitiria a interrupção da gravidez, sem restrições, até a 14ª semana. 

O debate sobre a legislação terá início nos próximos dias, a pedido do presidente Mauricio Macri. Diante das grades do Congresso, um grupo de familiares de vítimas fatais da violência contra a mulher já estavam reunidos, com fotos e cartazes com os nomes das mulheres mortas.

A passeata transcorreu com música e em clima de descontração. Havia mulheres de todas as idades, mas predominavam as mais jovens. Chiara Menéndez, 19, com o rosto e os braços cheio de purpurina, disse: "o assunto que nos traz aqui é grave, mas não queremos crescer como nossas mães, que passaram a vida tendo de andar na rua olhando para baixo para evitar assédio, ou cobrindo o corpo nos ônibus para que não as tocassem. Uso purpurina justamente para que me vejam", disse. Suas amigas bateram palmas.

Entre as mulheres mais velhas, havia mães com filhas, grupos de amigas e muitas com seus companheiros.

"Eu nunca pensei que o aborto poderia ser uma realidade enquanto eu vivesse, a Argentina é um país muito machista. Mas estou feliz de ver aqui vários homens, e que esse tema comece a ser tratado com seriedade por nossos parlamentares", disse Lara Materello, 48, dona de um pequeno restaurante em Villa Ortúzar.

Pela manhã, Macri fez um discurso dizendo que se comprometeria com a questão da desigualdade salarial. "Que uma mulher ganhe menos que um homem não tem sentido nem explicação." 

Conhecido por seu passado de mulherengo e por declarações sexistas antes de ser candidato, Macri agora abraçou a causa feminista. Há analistas que dizem que é por conta de sua queda nas pesquisas. Outros, como sua secretaria da Mulher, Fabiana Tuñez, opinam que "foi o poder que o mudou, é hoje o feminista menos pensado".

Pesquisa feita após Macri propor o debate da lei do aborto no Congresso mostra que 57,7% dos argentinos estão a favor da legalização, embora existam setores da sociedade mostrando grande rejeição, e instituições como a Igreja Católica, que qualificaram a medida de Macri como "oportunista".

A Argentina tem cifras díspares com relação ao papel da mulher na sociedade. Se a violência de gênero e a desigualdade salarial são de fato um problema, por outro lado, é dos países com maior participação de mulheres no Congresso. Nos anos 1990, uma lei estabeleceu uma cota de 30%. Só que hoje tanto o Senado como o Congresso já superam essa cifra.

"Não podemos nos enganar, temos muitas mulheres na política que são machistas, mas temos uma oportunidade única agora de mudar leis a nosso favor, e com o voto delas", disse Marta Valdez, 37, que disse que não votou em Macri, mas que está achando "o comportamento recente do presidente exemplar".

As favelas se fizeram presentes em colunas próprias, carregavam cartazes com os nomes de "Villa 31", do centro da cidade, e "Villa 1-11-14", do bairro de Flores, uma das mais violentas. Em ambas, porém, o assunto único era a violência doméstica.

"Nossas filhas se casam com rapazes que parecem ótimos, depois de alguns meses aparecem com machucados ou até mortas", diz Antonio Sabrio, 65. "Se não é isso, são grupos de moleques, alguns que vimos crescer, que emboscam as meninas em ruas mal iluminadas e são terríveis com elas", completou.Os manifestantes dessas colunas traziam timidamente fotos das vítimas nas mãos ou camisetas com seus rostos estampados. Com informações da Folhapress.

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