© Peter Power/Reuters
Ao mirar a China, que tenta invadir mercados globais com o aço que está sobrando em suas siderúrgicas, o presidente dos EUA, Donald Trump, acertou diretamente o Brasil. Segundo maior fornecedor do produto para o mercado americano (o primeiro é o Canadá, que ficou de fora da super taxação), o País exportou US$ 2,6 bilhões em aço para os EUA em 2017, o equivalente a um terço de toda a venda externa da matéria-prima local.
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A perda para as exportações brasileiras pode ser de US$ 500 milhões neste ano, na avaliação do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Nas contas de um estudo do Peterson Institute chegaria a US$ 1 bilhão. Já o presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, avalia que a perda seria muito maior. "Se fechar o mercado, vamos perder todas as exportações, ou seja, os US$ 2,6 bilhões que vendemos em 2017."
Castro é mais conservador nas projeções, pois considera nos cálculos contratos de exportação para os EUA entre empresas do mesmo grupo, que certamente serão honrados, mesmo com uma taxação maior. Mas alerta para outro ponto. "Corremos o risco de perder duas vezes: deixar de exportar e importar mais." Como o País está saindo da recessão e as alíquotas de importação não são proibitivas, há chance de que os concorrentes na produção de aço ampliem as vendas para o Brasil para compensar perdas nos EUA. Só no primeiro bimestre deste ano as importações brasileiras de produto acabado cresceram 38%.
Lopes, porém, vê "grandes chances" de o Brasil ser excluído do tarifaço nas negociações que vão ocorrer nos próximos 15 dias. "Acredito que o governo americano vai entender que há uma relação de complementaridade, pois, ao mesmo tempo em que exportamos, importamos US$ 1 bilhão em carvão mineral dos EUA no ano passado".
É com isso que contam as siderúrgicas que destinam 32,7% da produção do setor para os Estados Unidos. Ternium, Usiminas, Vallourec, ArcelorMittal e CSP exportam para os EUA. A Usiminas informa que a sobretaxa não deve ter impacto relevante em seus negócios, uma vez que os EUA responderam por 4% de suas exportações em 2017. Para a CSP, os EUA respondem por 11% das exportações. Ternium, Vallourec e ArcelorMittal não se manifestaram.
Brasil vai recorrer
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge, disse que o Brasil apresentará recursos em dois órgãos do governo dos Estados Unidos contra a decisão do presidente Donald Trump de sobretaxar as importações de aço e alumínio, e que vê chances de o Brasil não ser atingido pela medida.
"Ficou claro na fala do presidente Trump que países que não representam riscos aos Estados Unidos e não tenham déficit comercial com eles poderão ser excluídos. É o caso do Brasil. Vamos recorrer dentro do processo nos Estados Unidos com todas as medidas possíveis", afirmou. "Queremos que o Brasil seja excluído, assim como o Canadá e o México".
Na quinta-feira (8), Trump assinou decreto oficializando a sobretaxa de 25% nas importações de aço e de 10% nas de alumínio o que atingirá a indústria brasileira. De acordo com o ministro Marcos Jorge, a estratégia será apresentar recursos no Departamento de Comércio norte-americano e no Escritório de Representação Comercial dos EUA contra a decisão no prazo de 15 dias.
"Vemos a possibilidade de sermos excluídos da medida ainda no âmbito bilateral".
No recurso, o Brasil reforçará o argumento de que a balança comercial entre os dois países é superavitária para os Estados Unidos nos últimos 10 anos e que há uma complementaridade na indústria siderúrgica entre os dois países, uma vez que mais de 80% do aço exportado para os EUA pelo Brasil é semiacabado.
Além disso, o governo avalia em que momento recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio) contra a medida, o que poderá ser concomitante aos recursos apresentados nos EUA.
"Ainda não está definido o momento, o que já está definido é que vamos recorrer a todas as instâncias", disse Jorge.
Retaliação
O ministro, no entanto, evitou falar sobre retaliar outros produtos, apesar de fazer questão de dizer que isso não está descartado. Ele não quis adiantar que tipo de produto poderia ser sobretaxado em retaliação.
"Vamos primeiro trabalhar essa via do recurso. Nos parece que o Brasil está dentro dos critérios que foram definidos com todas as condições para a exclusão”. O que nós queremos como parceiro estratégico dos Estados Unidos é sermos tratados de forma justa", disse
Em paralelo, o setor privado também está se movimentando. Representantes de indústrias siderúrgicas contrataram escritórios para entrar com ações na Justiça americana e pressionam consumidores do aço brasileiro, que, por sua vez, pressionam parlamentares e representantes da administração de Trump para excluir o Brasil dos efeitos da medida.
Retórica
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que as medidas adotadas pelo governo dos Estados Unidos de impor tarifas de 25% para o aço e de 10% para o alumínio importados não foram bem recebidas por investidores em geral.
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"Obviamente há uma desaprovação grande, porque prejudica a economia americana. Beneficia o setor de aço americano, mas prejudica a indústria americana como um todo e em última análise o consumidor".
Segundo o ministro, o protecionismo é algo negativo em nível global.
"A experiência do passado mostrou isso. Houve uma onda protecionista muito grande na década de 1930 e o resultado foi desastroso para o mundo todo. Existe uma expectativa de que a guerra comercial seja mais retórica".
Um dia depois do anúncio de Trump contra o aço brasileiro, os países do Mercosul lançaram no Paraguai o início das negociações para um acordo de livre-comércio com o Canadá. Com informações do Estadão Conteúdo.