© Paulo Whitaker / Reuters
Em um ano em que será palco de pesado calendário eleitoral, a América Latina deve se preocupar com diversos perigos que rondam a democracia, como o populismo, a exclusão social, a falta de confiança nas instituições e a rápida disseminação de notícias falsas.
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Esse tema dominou o debate que encerrou nesta quinta-feira (15) o Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em São Paulo.
"Há uma percepção de que as coisas pioraram e esse contexto faz com que as pessoas estejam dispostas a votar pelo desconhecido, inclusive em alguns candidatos com estratégias assustadoras", disse Alejandro Ramírez, CEO da Cinépolis, operadora de cinemas mexicana.
Segundo o empresário, apesar dos avanços que a região teve na última década, com a melhora de indicadores como expectativa de vida, mortalidade infantil e redução da pobreza, pesquisas mostram que a expectativa dos latino-americanos em relação ao futuro é muito baixa.
Para ele, isso está relacionado à percepção de insegurança e de que as políticas voltadas ao combate à violência e ao tráfico de drogas têm falhado.
"A crença na política e na democracia é muito baixa e isso deve nos preocupar", afirmou também Andrés Velasco, professor da Universidade Columbia e ex-ministro de Finanças do Chile.
O economista destacou, durante a abertura do painel, que políticos e empresários estão entre as categorias profissionais menos admiradas pela população da região, o que contribui para minar a confiança nas instituições democráticas.
A proposta da mesa de encerramento do Fórum era debater como as novas lideranças podem contribuir para a construção de um cenário positivo na região.
Segundo Luiza Trajano, a presidente do conselho de administração da Magazine Luiza, os empresários não podem ignorar questões como a exclusão social.
"Não podemos aceitar que 60% da população brasileira ganhe menos de R$ 2.000 e que as faxineiras que estão trabalhando aqui hoje demorem duas horas para chegar em casa".
A descrença em relação à política explica, segundo Ngaire Woods, reitora da escola de política da Universidade de Oxford, porque em vários pleitos recentes -como as eleições presidenciais da França e do Chile e a saída do Reino Unido da União Europeia- a população votou contra o status quo.
"São tempos muito difíceis que acendem um enorme sinal de alarme", afirmou a acadêmica.
Nesse contexto, Woods disse ter sentido desânimo ao escutar líderes brasileiros, durante os dois dias do Fórum, focarem seus discursos sobre o que precisa ser feito quase exclusivamente na necessidade de equilibrar o orçamento e combater a inflação.
Para ela, as lideranças precisam fazer um melhor trabalho de escutar pessoalmente seus eleitores. Esse ponto também foi destacado por Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco.
"Essa é uma grande carência entre nossas lideranças políticas hoje. As boas lideranças que podemos formar são aquelas que sejam capazes de ouvir seus eleitores", disse Bracher, que lamentou o assassinato da vereadora Marielle Franco, nesta quarta-feira no Rio de Janeiro.
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A colunista da Folha de S.Paulo, Maria Cristina Frias, afirmou concordar com a importância de prestar mais atenção nas carências da população, mas ressaltou que é preciso tomar cuidado com promessas insustentáveis.
"É preciso inspirar, dar alento, mas com cuidado".
Maria Cristina lembrou de programas de financiamento adotados nos últimos anos no Brasil -como o Fies (voltado ao ensino superior) e o Minha Casa, Minha Vida (destinado à moradia popular)- que não eram viáveis e "ajudaram a estraçalhar nosso orçamento".
A jornalista também alertou para a ameaça que as chamadas "fake news" (notícias falsas) representam para a democracia. O tema também foi discutido em diversos painéis do primeiro dia do evento.
Os palestrantes destacaram que, entre as ações que os empresários podem tomar, estão medidas para contribuir para a maior inclusão, o aumento da diversidade e a formação de novas lideranças preocupadas com a questão social.
"Liderança é sobre o que você deixa para o próximo líder e não sobre sua própria sobrevivência", disse Paul Bulcke, presidente do conselho de administração da Nestlé. Com informações da Folhapress.