Em SP, Balé da Cidade estreia espetáculo com forte tom político

Espetáculo 'Um jeito de corpo' discute o racismo e a violência

© Rodrigo Fonseca / Divulgação

Cultura CRÍTICA 16/03/18 POR Folhapress

PAULA LEITE - Por triste coincidência, o Balé da Cidade de São Paulo estreou nesta quinta-feira (16), um dia depois do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) no Rio de Janeiro, um espetáculo de forte tom político.

PUB

Enquanto o país era tomado pela repercussão da morte dela, que nasceu e foi criada no complexo de favelas da Maré e que com frequência criticava a violência policial em áreas pobres, os bailarinos da companhia dançavam uma obra que discute o racismo e a violência -em especial, a violência policial contra o negro e a mulher.

Com músicas de Caetano Veloso, "Um Jeito de Corpo" coloca mais de três dezenas de bailarinos em um cenário fundo que lembra um beco maltratado em qualquer cidade do país.

Longe de ser um "greatest hits" do compositor, a trilha sonora se apoia em canções menos conhecidas (com exceção de "Sampa") e em boa medida desconstruídas, sampleadas e sobrepostas.

+ José Padilha associa morte de Marielle a sistema mostrado em série

Em certo momento da coreografia de Morena Nascimento, bailarinos de todas as cores, vestidos com maiôs coloridos, se movimentam com sensualidade, evocando o estereótipo da praia do Rio de Janeiro como símbolo da democracia racial e da liberdade de exposição do corpo.

Alguns minutos depois, porém, uma cena forte e teatral nos lembra que, não longe dessa mítica praia, espreita a violência policial e a violência sexual.

Aos poucos, a alternância entre os períodos em que os movimentos dos bailarinos mesclam ritmos brasileiros (samba, baião, maracatu, entre outros) a movimentos mais típicos da dança contemporânea e as cenas mais teatrais vai se fragmentando.

Alegria, carnaval, festas, começam a degringolar sem razão aparente e são interrompidas por empurrões, estranhamentos, dominações. Momentos de beleza muito rapidamente são desestabilizados e descambam para o desconforto.

Corpos, em especial mulheres e negros, são jogados, pisados, quebrados.

É digno de nota o quanto o foco da coreografia na objetificação e violência a que os corpos estão sujeitos dialoga com a obra de Caetano, que em suas letras tantas vezes exalta a sensualidade ("Leãozinho", "Você É Linda", "Queixa") e tantas vezes a submissão do corpo negro e pobre ("Haiti", "Partido Alto", "Tropicália").

Nenhuma das músicas citadas no parágrafo anterior está no espetáculo, mas o espectador com memória da obra do compositor há de se lembrar delas, e de muitas outras, ao longo de "Um Jeito de Corpo".

Há momentos da obra em que o amor, a alegria e a harmonia aparecem; mas são apenas vislumbres, eles não triunfam sobre a intolerância e o caos. Não é neste tipo de mundo que se vive, aqui.

Antes do espetáculo, o diretor artístico do Balé da Cidade, Ismael Ivo, pediu um minuto de aplausos em homenagem a Marielle.

Na cena final do espetáculo, pétalas vermelhas cobrem o chão sobre o qual os bailarinos dançam. Difícil não pensar em sangue.

Enquanto a plateia sai do Municipal, um grupo de jovens negros protesta na escadaria -"vidas negras importam", gritam, entre outras palavras de ordem. A distância entre arte e realidade é mínima, o que só engrandece o espetáculo, de rara honestidade e brutalidade.

UM JEITO DE CORPO

QUANDO sáb., às 20h; dom. (18), às 18h; qui. a dom. (25), às 20h

ONDE Theatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, s/nº, República

QUANTO de R$ 20 a R$ 80

AVALIAÇÃO muito bom

Com informações da Folhapress.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

politica BOLSONARO-JUSTIÇA Há 13 Horas

Bolsonaro terá benefício em prescrição de crimes ao fazer 70 anos em 2025

fama Beto Barbosa Há 14 Horas

Beto Barbosa é criticado por ter se casado com adolescente de 15 anos

fama Uberlândia Há 10 Horas

Influenciadora morre arrastada por enchente em Minas Gerais

lifestyle Aquecimento global Há 16 Horas

Aproveite bem o chocolate: Ele e outros alimentos podem estar com os dias contados

fama Redes Sociais Há 13 Horas

Jojo Todynho vira garota-propaganda da Havan, que ironiza 'cancelamento'

fama Kate Cassidy Há 10 Horas

Namorada se revolta com resgate de Liam Payne: 'Poderia ser salvo'

fama Paris Hilton Há 16 Horas

Paris Hilton diz que nunca se submeteu a procedimentos estéticos

mundo autobiografia Há 15 Horas

Angela Merkel relembra episódio em que Putin soltou cadela numa reunião

fama MARIA-FLOR Há 12 Horas

Todo mundo diz que tenho cara de boazinha, mas sou brava, diz Maria Flor

fama Ilhas Há 11 Horas

Famosos e suas ilhas privadas: Quem é o dono de um refúgio brasileiro?