Produtividade brasileira reage após seis anos

A projeção da consultoria Tendências é de que, em 2018, o indicador deve crescer 0,5%

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Economia Desenvolvimento 02/04/18 POR Estadao Conteudo

Depois de cair 6,45% nos últimos seis anos, a produtividade brasileira começa a esboçar uma reação. A projeção da consultoria Tendências é de que, em 2018, o indicador deve crescer 0,5%. Trata-se de uma alta modesta, mas que sinaliza o avanço de um indicador essencial para o crescimento sustentável do País.

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Essa recuperação é resultado de uma combinação de três fatores. Um deles é o chamado "darwinismo econômico": durante a recessão, muitas empresas ineficientes vão à falência e trabalhadores com baixa qualificação são demitidos. "A produção cai num primeiro momento de forma mais rápida do que as demissões, já que as empresas não sabem a extensão da crise", explica Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos. "Quando a economia volta a crescer, o mercado de trabalho demora para responder, o que favorece o ganho de produtividade no pós-crise."

Veja também: IR 2018: saiba como declarar planos de previdência privada

Além disso, para sobreviver, ou para se preparar para a retomada, muitas empresas investiram na melhoria de processos, corte de custos e otimização dos recursos. Quando a economia se recupera, elas estão mais eficientes e a produtividade aumenta.

Na semana passada, por exemplo, a montadora Mercedes-Benz anunciou uma série de inovações na fábrica de caminhões e ônibus de São Bernardo do Campo, resultado do investimento de R$ 500 milhões nos últimos três anos, período em que também demitiu 5 mil pessoas. Com a modernização da unidade e a adoção de conceitos da chamada indústria 4.0, a empresa anunciou um ganho de produtividade de 15%.

A construtora paranaense Plaenge também investiu na melhoria de processos durante a crise. Um dos focos da Plaenge foi reduzir o tempo ocioso da mão de obra, provocado por falhas na distribuição de material para construção, como tijolos ou cimento. "Uma construção que custava R$ 31 milhões, agora custa R$ 1,8 milhão a menos", diz Marcelo Resquetti, gerente geral da Plaenge.

O impulso no indicador de produtividade também veio da macroeconomia, com juros e inflação convergindo para mínimas históricas. Segundo Alessandra Ribeiro, da Tendências, as mudanças na legislação trabalhista e a Lei de Responsabilidade das Estatais ajudaram a melhorar o ambiente de negócios, estimulando investimentos. "Os efeitos dessas reformas devem aumentar ao longo do tempo."

Voo de galinha

Mas ainda há muito a fazer para livrar o Brasil da síndrome de "voo de galinha", em que o crescimento é sempre baixo e de curta duração. Para o País emplacar um crescimento ao "estilo chinês", mudanças estruturais profundas precisam ser feitas.

"O aumento de produtividade envolve três aspectos", explica o economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade Columbia, nos EUA. "Aumento da educação dos trabalhadores, do estoque de capital na economia e, também, maior eficiência na forma como capital e trabalho são usados de forma combinada."

Esse terceiro ponto depende de melhorias no ambiente de negócios. Trata-se de uma agenda que envolve redução da burocracia, investimentos em infraestrutura, criação de regras e marcos regulatórios que deem clareza e previsibilidade no cumprimento de contratos, aumento da competição entre os agentes econômicos e simplificação tributária.

Desafio

Posto em números, é possível ver o tamanho do desafio. A pedido do jornal O Estado de S. Paulo, o banco Santander calculou o esforço que o País precisa fazer para aumentar o potencial de crescimento do PIB, ou seja, o quanto a economia consegue crescer sem exaurir sua capacidade e provocar alta da inflação - que depende de mais produtividade.

Estudos do banco indicam que, hoje, o teto está próximo de 2% ao ano. Para crescer 4% de forma consistente, a taxa de investimentos terá de sair dos atuais 15,6% para 21% do PIB - e a produtividade crescer 2,3% ao ano. "É um ritmo de crescimento que o País não consegue sustentar desde a década de 70", diz Maurício Molon, economista-chefe do Santander. Com informações do Estadão Conteúdo.

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