© Tânia Rêgo/Agência Brasil
Uma caminhada voltada para conscientizar a população sobre o autismo levou milhares de pessoas à Praia do Leblon, no Rio de Janeiro. A iniciativa, que chega à sua oitava edição, é promovida anualmente pela Fundação Mundo Azul, criada por pais de crianças e adolescentes diagnosticadas com o transtorno.
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O autismo, também conhecido como Transtornos do Espectro Autista (TEA), gera dificuldade no desenvolvimento da linguagem, nos processos de comunicação, na interação e no comportamento social da criança. Caminhadas de conscientização ocorrem em diversos países em decorrência do Dia Mundial da Conscientização do Autismo, em 2 de abril.
De acordo com os organizadores, o Rio de Janeiro tem sido responsável por uma das maiores mobilizações do mundo. Nesta edição, foi estimada a participação de aproximadamente 6 mil pessoas, que se concentraram a partir de 9h30 no Posto 12, no Leblon. Entre os presentes foram distribuídos os balões azuis, cor símbolo do autismo.
"Embora não seja um transtorno raro, a população ainda não conhece. E a pessoa com autismo não tem características físicas. Então pode passar desapercebido", explicou Denise Fonseca Aragão, relações pública e uma das fundadoras da Fundação Mundo Azul. Segundo ela, a incidência do autismo na população envolve uma em cada 68 crianças.
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A Fundação Mundo Azul defende a instituição de políticas públicas para melhorar o cotidiano dos autistas e de seus familiares. A instituição luta, por exemplo, pela construção de centros de tratamento e reabilitação, pela possibilidade do diagnóstico precoce, pela garantia da educação especial e por lares terapêuticos para os que ficarem órfãos.
"Inicialmente, nós queríamos chamar a atenção para a importância de se conhecer o autismo. Posteriormente, percebemos que faltavam políticas públicas. Então, também buscamos conquistar direitos para pessoas com autismo, incluí-las nas escolas, capacitá-las para o mercado de trabalho. São muitas questões", disse Denise.
Assim como ocorreu na edição do ano passado, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) marcou presença por meio do projeto Ouvidoria Itinerante. Foram montadas tendas para receber denúncias, reclamações, críticas, elogios, pedidos de informação ou sugestões sobre as atividades desenvolvidas pelo órgão.
"Estamos aqui para ouvir a população. É uma questão de humanidade, em primeiro lugar. E estamos mostrando que o Ministério Público é o fiscal da lei e nós estamos à disposição", disse José Roberto Paredes, procurador e ouvidor do MPRJ.
Dificuldades
Mãe de um adolescente autista de 14 anos, diagnosticado em 2006, Denise avaliou que a inclusão escolar é uma das principais dificuldades, embora exista uma legislação que trate do assunto. A Lei Federal 12.764/2012 garante o acesso à educação e estabelece multa de 3 a 20 salários mínimos para o gestor escolar ou autoridade competente que recusar a matrícula do aluno.
Outra dificuldade apontada está relacionada à garantia do uso das filas prioritárias e do assento especial no transporte público. Ao considerar o autista como pessoa com deficiência, a lei federal também garantiu esses direitos, nem sempre compreendidos pela população. "Muitas vezes as pessoas abordam o pai ou a mãe com a criança autista perguntando porque eles estão na fila prioritária. Justamente por não ter uma característica física. E aí a família passa pelo constrangimento de explicar. É desagradável. Mesmo para fazer uso de um direito conquistado, a pessoa se estressa", explicou Denise.
Para tentar combater situações desse tipo, foi aprovada a Lei Municipal 6101/2016, determinando que estabelecimentos públicos e privados incluam nas placas de atendimento prioritário o símbolo mundial do autismo. O laço colorido deve aparecer ao lado dos símbolos da gestante, do idoso, das pessoas com deficiência e de pais com criança de colo. Esta medida também já foi adotada em outras capitais, como São Paulo e Rio Branco.
Diagnóstico
O início de um projeto destinado a orientar os profissionais de saúde do município sobre o diagnóstico precoce foi anunciado durante a caminhada pela primeira-dama do Rio da Janeiro, Sylvia Jane Crivella, e pela vereadora Tânia Bastos (PRB). "Vai começar essa semana. Os profissionais da saúde vão aprender como receber essas pessoas, como diagnosticar. E é um processo. Tudo começa passo a passo, mas daqui para frente deve evoluir bastante", disse Sylvia.
A primeira-dama tem apoiado iniciativas da Fundação Mundo Azul. "Todos os órgãos, sejam municipais, estaduais ou federais, precisam estar conscientes de sua participação para aliviar o sofrimento dessas crianças e adolescentes junto com seus familiares, que muitas vezes lidam com preconceito, são marginalizados, não têm acesso ao diagnóstico precoce. E também ficamos na expectativa da medicina possa encontrar novas formas para ajudar a amenizar as dificuldades", acrescentou.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o projeto envolve o lançamento, na próxima quarta-feira (11), de um Guia de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. "O volume foi elaborado por profissionais de saúde mental e é voltado para a atenção primária, com o intuito de preparar os profissionais na identificação de sinais de alerta sobre alguns problemas, como o autismo, para que a criança seja encaminhada precocemente ao serviço especializado para o devido diagnóstico e início do acompanhamento", informou o órgão em nota. Com informações da Agência Brasil.