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Pálido e aparentemente tenso, o CEO e fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, respondeu nesta terça-feira (10) a uma série de questionamentos do Senado americano sobre o que os senadores chamaram de "desconexão entre suas promessas e a realidade" e a vista grossa ao uso indevido de dados de usuários por empresas associadas à plataforma e outras.
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"A forma como o Facebook vem fazendo promessas e o que vemos na realidade não bate", disse o senador Chris Coon, um democrata pelo Delaware – mesmo estado americano em que a empresa de Zuckerberg está registrada, para se beneficiar de um sistema de isenção fiscal.
O depoimento oficial no Senado à comissão de comércio e à comissão do Judiciário foi convocado após vir a tona que pelo menos 87 milhões de pessoas, segundo o Facebook, tiveram seus dados violados por meio de um aplicativo usado pela consultoria política Cambridge Analytica para coletar dados de usuários e montar campanhas políticas.
Ao longo do depoimento, iniciado 15h15 (hora de Brasília), Zuckerberg, 33, se desculpou inúmeras vezes, reiterou a promessa de fazer mais para proteger os dados dos usuários e foi questionado se aceitaria trabalhar em uma melhor regulamentação da privacidade online.
A certa altura, afirmou que aceitaria que sua equipe trabalhasse com legisladores para criar a "regulação certa" a companhias de tecnologia pelo governo ou pelo legislativo -uma mudança significativa na atitude da empresa que faz lobby há anos no Congresso dos EUA para evitar a introdução de leis que possam limitar seu crescimento.
PROMESSAS X REALIDADE
Mas Zuckerberg falhou em convencer os senadores -ou a maioria dos que se manifestaram- que suas intenções são genuínas e serão transformadas em ação.
O senador democrata Richard Blumenthal apontou que o uso de dados pela empresa Cambridge Analytica contrariou as próprias regras do Facebook e disse que a empresa usou de "cegueira proposital" sobre o tema -Zuckerberg respondeu que não concordava com a avaliação do senador.
Seu colega de partido Brian Schatz, do Michigan, questionou se quando alguém menciona um filme no WhatsApp (aplicativo de mensagem que pertence à mesma empresa) é bombardeado por anúncios daquele filme no Facebook. Zuckerberg disse que não, mas o senador não se satisfez com a resposta.
Os senadores também quiseram saber o que a empresa tem feito para conter o discurso de ódio, incitação da violência e proteger a privacidade de crianças, inclusive de pedófilos.
E questionaram se alguém havia sido demitido, na equipe de monitoramento de aplicativos, após os escândalo da Cambridge Analytica –Zuckerberg respondeu que não.
Um dos momentos mais importantes, porém, veio do senador Dan Sullivan, no que pareceu uma ameaça velada:
"Veja a história desta comissão. Quando uma empresa se torna muito grande e poderosa, a tendência é regular ou dividir [a empresa]", disse o senador.
Zuckerberg respondeu não ser contra regulações em geral, mas não desistiu: "O sr. não acha que o fato de crescer tanto pode impedir o surgimento de outras empresas como o Facebook?", emendou, questionando se o Facebook não havia se tornado, de certa forma, uma empresa de mídia.
O fundador da plataforma negou, afirmando que não produzia o conteúdo. Um dos principais esforços de lobby do Facebook é para evitar ser tratado como empresa de mídia, o que implicaria ser regulado como tal, inclusive no que diz respeito à responsabilidade pelo conteúdo e origem dos anunciantes.
CONTRATO
Este é o primeiro testemunho de Zuckerberg ao Congresso americano, em meio a críticas de políticos e do público aos parcos controles de privacidade da plataforma e sua responsabilidade na difusão de notícias falsas e manipulação política.
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Para o presidente do Facebook, estabelecer regras para a divulgação de políticas de privacidade concisas e claras, por exemplo, ou para obrigar as plataformas a dar ferramentas ao usuário para que ele decida o que vai divulgar e para quem, são bons tipos de regulações.
Zuckerberg ressalvou, porém, que regras que emperrem a inovação, como na área de reconhecimento facial, devem ser evitadas, sob pena de empresas americanas ficarem atrás de companhias chinesas.
O executivo pediu desculpas por ter falhado em proteger os dados dos usuários, em especial durante as eleições americanas e no escândalo da consultoria Cambridge Analytica, e assumiu responsabilidade pessoal pelo erro.
Em suas primeiras intervenções, os congressistas questionaram em especial o modelo de negócios de redes sociais como o Facebook, que usa dados pessoais de seus usuários para a venda e direcionamento de publicidade.
"O potencial para crescimento e inovação baseados na coleta de dados é ilimitado. Porém, o potencial para abusos também é significativo", disse o senador republicano Chuck Grassley, após citar companhias como o Google, Twitter, Apple e Amazon – um indicativo de que outras empresas de tecnologia devem estar na mira dos senadores em breve.
Uma das soluções propostas veio do senador John Markey, que questionou se o Facebook aceitaria uma lei que o obrigasse a obter permissão direta dos usuários para compartilhar suas informações sobre hábitos, saúde, relacionamentos.
Nesta quarta (11), Zuckerberg vai depor à Câmara. Com informações da Folhapress.