© Nelson Jr./SCO/STF
O STF (Supremo Tribunal Federal) adiou para esta quinta-feira (19) a decisão final sobre a o início do cumprimento da pena do deputado Paulo Maluf (PP-SP).
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Quatro ministros entenderam que ele não poderia apresentar novos recursos depois da condenação, enquanto outros três votaram pela admissibilidade. A sessão foi suspensa por causa do horário. Os ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Cármen Lúcia vão votar nesta quinta.
Na prática, se os ministros entenderem que era possível Maluf apresentar o recurso, a ordem de Edson Fachin, relator do caso, para que ele começasse a cumprir a pena perderá a validade e o político vai poder recorrer em liberdade da condenação por lavagem de dinheiro.
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O pano de fundo do julgamento que começou ontem (18) tratou sobre uma questão mais abrangente: a possibilidade de condenados nas turmas apresentarem embargos infringentes (um tipo de recurso que pode mudar a sentença).
Esse recurso ficou conhecido durante o julgamento do mensalão e é usado pela defesa quando, nos julgamentos do plenário, quatro dos 11 ministros do STF divergem da condenação.
EMBARGOS INFRINGENTES
Nessa quarta, 6 dos 11 magistrados votaram a favor da possibilidade de apresentar embargos infringentes nas turmas.
A possibilidade de apresentar novos recursos poderá ser favorável a condenados pelo Supremo, incluindo os alvos da Lava Jato, que são julgados pela segunda turma do STF e terão mais tempo para recorrer, adiando o início da execução da pena, podendo aguardar em liberdade esse novo recurso.
Os magistrados divergiram sobre em quais condições esses embargos podem ser apresentados -se é necessária a divergência de um ou de dois dos cinco ministros de cada colegiado.
Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux concordaram que o recurso é possível, mas que deveria ser necessário ter dois dos cinco votos em divergência; Dias Toffoli, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski entenderam que basta apenas um voto divergindo dos outros.
Fachin não entrou nesta questão, mas a tendência é que ele siga a posição de Barroso.
MALUF
Condenado em maio de 2017, Maluf começou a cumprir pena em dezembro no presídio da Papuda, em Brasília. Em março, conseguiu um habeas corpus e passou à prisão domiciliar.
Depois da condenação, seus advogados apresentaram embargos infringentes, mas Fachin negou o pedido e considerou o processo finalizado.
O relator entendeu que não caberia esse tipo de recurso nos julgamentos das turmas, compostas por cinco ministros, mas apenas no plenário do STF.
Nesta quarta, os ministros começaram a discutir se Maluf poderia ter apresentado o recurso depois da condenação.
Para quatro magistrados, o recurso neste caso específico não era válido. Essa foi a posição de Fachin, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux.
Já Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski entenderam que o pedido da defesa era cabível.
ENTENDA O CASO
Maluf foi condenado por unanimidade na primeira turma do Supremo.
No entanto, ao analisar as questões preliminares - que antecederam o julgamento de fato - o ministro Marco Aurélio concordou com a defesa em dois pontos: a anulação de uma perícia e a prescrição do crime de lavagem de dinheiro.
Por causa dessa divergência, a defesa de Maluf entrou com embargos infringentes contestando a condenação. Os advogados sustentaram que faltou unanimidade naqueles pontos que favoreceriam o réu.
Só que Fachin entendeu que não cabe apresentar o recurso em julgamento nas turmas -apenas no plenário-, negou o pedido, determinou a prisão e o trânsito em julgado do processo (quando não há mais possibilidade de recorrer).
Por causa dessa negativa, a defesa entrou com novo recurso (pedido a Fachin) e um habeas corpus, que foi sorteado para Dias Toffoli.
Fachin mandou o recurso para ser julgado no plenário virtual do STF.
Com isso, a defesa entendeu que o próprio Fachin reabriu o caso - e, portanto, que Maluf estaria cumprindo pena antecipadamente, já que teria o direito de recorrer.
Em paralelo a isso, Toffoli pediu informações ao colega e concedeu habeas corpus de caráter humanitário a Maluf por causa da deterioração de sua saúde ao longo de três meses na prisão.
Assim, a decisão de Toffoli acabou indo contra à de Fachin, o que suscitou questionamentos no universo jurídico sobre as brechas para ministros cassarem decisões de colegas.
HABEAS CORPUS HUMANITÁRIO
Ao conceder o habeas corpus e permitir com que o político cumpra pena em prisão domiciliar, Toffoli destacou que a saúde de Maluf, de 86 anos, piorou enquanto ele estava na prisão, entre dezembro e fevereiro. Ele também concordou que, ao mandar o processo ao plenário virtual, Fachin reabriu o caso.
No julgamento dessa quarta, Toffoli leu o laudo médico sobre a situação do político.
Maluf sofre de metástase do câncer de próstata. Segundo seu médico particular, Sérgio Nahas, o deputado sofre de broncopneumonia aspirativa e de atrofia dos membros inferiores, que dificulta os seus movimentos.
Ao votar, Toffoli destacou que não concedeu habeas corpus contra decisão de Fachin, mas que a situação, por causa da saúde de Maluf, já era outra quando ele analisou o pedido. Com informações da Folhapress.