Marcos Valério: 'As facções criminosas estão dentro dos partidos'

Na prisão, onde cumpre pena no processo do mensalão, o publicitário ainda fala sobre a prisão de Lula e o sistema carcerário brasileiro

© Jamil Bittar / Reuters

Política Entrevista 23/04/18 POR Notícias Ao Minuto

Condenado a mais de 37 anos de prisão no processo do mensalão, o publicitário Marcos Valério cumpre pena, na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Sete Lagoas, em Minas Gerais, desde julho de 2017.

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Antes, já havia ocupado uma das celas do presídio de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), durante três anos e sete meses, e da Papuda (DF), por seis meses.

Além disso, quando ainda cumpria prisão preventiva, na Penitenciária 2 de Tremembé (SP), entre outubro de 2008 e janeiro de 2009, chegou a ser espancado. Perdeu dentes e ganhou cicatrizes, episódio sobre o qual prefere não falar. “Não tenho interesse de conversar sobre esse assunto. Já passou”.

A transferência para a Apac, onde parte dos presos tem as chaves das celas e os seguranças não andam armados, foi uma das condições do acordo de delação premiada que negocia com a Polícia Federal e com o Ministério Público. Este, no entanto, é outro assunto não tratado por Valério. “Teria que entrar no mérito de certas coisas e não quero. Não posso.”

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Mas, em entrevista à Folha de S. Paulo, divulgada nesta segunda-feira (23), o publicitário concordou em falar sobre a prisão do ex-presidente Lula. “Fico triste. Pelos familiares e também pelo transformador que Lula foi. Apesar de todos os erros que cometeu. Tenho certeza de que ele vai analisar e chegar a esta conclusão. Mas ele foi um transformador. Um ícone, né? Eu fico triste. Não faz bem para o país Lula preso”, disse.

“Parei para pensar sobre o preço que a transformação paga. Naquele momento [governo Lula] era uma transformação por caminhos errados. [O Mensalão] Era para tentar andar com algumas propostas que o governo tinha e nós aprovamos. Era preferível não ter feito, esperado, a pagar o preço que paguei”, completou.

Ele também falou sobre o arrependimento de ter participado do esquema. "O maior [arrependimento] é o de conhecer, como eu conheço, a máquina e ter participado. Era preferível fechar todas as agências de propaganda e ir criar galinha", afirmou. “Não é só o dinheiro. É o poder. É agradável, mas, depois que passa por ele, você tem nojo. Hoje, tenho nojo de tudo aquilo. A política é bonita. O ruim dela são certos políticos e certas traições”, avaliou.

Ao avaliar o sistema carcerário brasileiro, Marcos Valério diz tratar-se de uma "grande universidade". “No sistema tradicional, a sociedade já perdeu a guerra contra o crime. O sistema prisional comum é uma grande universidade, onde os antigos no crime ensinam os mais jovens e vão utilizá-los lá fora. O melhor local para se fazer um exército de marginais, de pessoas carentes e sem perspectivas, é a cadeia”, salientou. “Desculpa, mas as facções só vão crescer e se tornar mais fortes. Não se iluda. Tem político eleito com dinheiro das organizações [criminosas]. Elas estão dentro dos partidos políticos", destacou.

 

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