'Vingadores: Guerra Infinita' é digno, mas não explora personagens

Diretores precisaram conduzir uma orquestra numerosa, fazer aventuras passadas na Terra e outros planetas terem sentido

© Divulgação

Cultura Crítica 24/04/18 POR RODRIGO SALEM para Folhapress

RODRIGO SALEM - No cinema, excessos são considerados defeitos. Mas a Marvel não é conhecida por respeitar tabus. Nestes dez anos de atuação, o estúdio saiu de um pequeno filme ("Homem de Ferro") para o ineditismo da criação de um universo interligado e coeso, tornando-se a maior franquia da história do cinema. Então, quem vai dizer que espremer dezenas de heróis e meia dúzia de vilões em 2h30min de puro espetáculo pop é um defeito?

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"Vingadores: Guerra Infinita" é muito mais do que um filme. É o que nos quadrinhos costumam apelidar de "crossover", eventos anuais que chacoalham o universo das editoras com a participação de todos os protagonistas possíveis e um fim que muda o cenário para todo o sempre - ou, pelo menos, até o próximo "crossover".

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A missão dos Irmãos Joe e Anthony Russo na direção não era fácil. A dupla precisou conduzir uma orquestra numerosa, fazer aventuras passadas na Terra e outros planetas terem sentido e não deixar o público se perder em meio a tantos personagens e tramas.

A boa notícia é que eles conseguiram, com a ajuda de um roteiro amarrado que lembra a estrutura invertida de "O Senhor dos Anéis", de Peter Jackson, ressaltada pelo uso das fanfarras épicas de Howard Shore levadas por outro veterano de Hollywood, o maestro Alan Silvestri.Thanos (Josh Brolin) é um semideus de Titã que planeja reunir as seis joias do infinito para tornar sua missão mais rápida: eliminar metade da população do universo para os mundos poderem prosperar em paz. Apesar da motivação batida, já usada até recentemente por Dan Brown em "Inferno", o vilão funciona devido à interpretação de Josh Brolin e sua relação com a filha, Gamora (Zoe Saldana).

O longa começa já mandando o recado de que não será um filme da Marvel sem consequências. Encontramos Thanos torturando Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Loki (Tom Hiddleston), Heimdall (Idris Elba) e os sobreviventes de Asgard para recuperar uma das joias. Não há tempo de respirar numa sequência brutal e trágica, essencial para elevar os riscos de "Guerra Infinita" e mostrar que mortes farão parte dessa trama. Espere o inesperado.

Após essa apresentação, a produção se divide em dois enredos paralelos. O primeiro se passa na Terra, com Tony Stark (Robert Downey Jr., sempre um show à parte) preparando-se para seu casamento com Pepper (Gwyneth Paltrow) quando recebe um pedido de ajuda do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), que possui uma das joias do infinito. Os Vingadores, separados desde "Guerra Civil", atuam em grupos para impedir que os arautos de Thanos recuperem as gemas para o mestre, dando tempo para o filme destilar o humor que enverniza quase todas as cenas e as cenas de ação que tornaram os Russos famosos.

O segundo enredo se passa no espaço e agrupa Thor com os Guardiões da Galáxia. Um dos grandes acertos de "Guerra Infinita" e, de quebra, da Marvel nos últimos cinco anos, é utilizar cada aspecto de tom, visual e voz dos filmes anteriores. Quando saímos da tensão do Capitão América (Chris Evans) protegendo Visão (Paul Bettany) e caímos na nave de Peter Quill (Chris Pratt), o contraste entre realismo do primeiro com as cores (e a trilha sonora) do segundo é impactante. É como ver vários longas em um.

O filme funciona como um "O Império Contra-Ataca" do Universo Marvel. É sombrio, emocionante e inesperado em diversos momentos. Serve como um final digno para os dez anos do estúdio. E não apenas em tese, mas fazendo ligações surpreendentes e retomando personagens de quase todas as obras anteriores -um deles, habitando um novo planeta, fez o cinema todo murmurar em uníssono.

Claro que o preço de unir tantos personagens em um único longa é alto. O Capitão América, que havia se tornado o herói mais interessante do estúdio desde "Soldado Invernal", é pouco explorado. Também não há um lado político complexo. Já Thor é o carro-chefe das melhores sequências, mantendo o humor de "Ragnarok", mas trazendo de volta seu tom nobre e poderoso dos primeiros filmes. O drama do Visão com a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) é chato, mas necessário, principalmente para quem lê quadrinhos e sabe que ela pode ter um papel essencial no futuro do universo.

Como a "segunda parte" sai em 2019, a ideia de "Guerra Infinita" é ressaltar o nível de sacrifício de cada um daqueles heróis, principalmente quando se concentra em duas batalhas de tirar o fôlego: uma em Wakanda e outra em Titã. Mas não espere uma enrolação por parte dos diretores. Thanos realmente é a estrela perigosa que todos esperavam, existe uma conclusão e o final vai deixar muita gente de queixo caído e sofrendo com o coração partido. Ou na fila do cinema por 365 dias. Com informações da Folhapress.

VINGADORES: GUERRA INFINITA: bom

Quando: estreia nesta quinta (26)

Direção: Anthony Russo, Joe Russo

Produção: EUA, 2018

Elenco: Robert Downey Jr., Chris Pratt, Chris Evans, Scarlett Johansson

Classificação 12 anos

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