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Um grupo formado por dezenas de pessoas invadiu as obras do complexo Júlio Prestes, conjunto de prédios populares na região da cracolândia, no centro de São Paulo, depredou e roubou objetos, em um prejuízo na casa das centenas de milhares de reais e um atraso de pelo menos um mês na entrega dos edifícios à população.
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O saque aconteceu na madrugada de segunda-feira (23), depois de um confronto entre frequentadores da região e guardas civis da prefeitura. Para acessar o canteiro de obras, é preciso passar por segurança e catracas em uma entrada pela avenida Duque de Caxias. As obras ocupam todo o quarteirão entre a avenida e a rua Helvétia, onde se concentram usuários de drogas.
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Houve duas invasões aos prédios, que são vitrine do governo de SP. Por volta da meia-noite, um grupo conseguiu derrubar o tapume mais próximo da rua Helvétia, e de 30 a 50 pessoas conseguiram invadir as obras, mas foram contidos pelos seguranças -são 14 no total, para todo o complexo.
No meio da madrugada, houve uma segunda invasão, cuja quantidade de pessoas a Secretaria Estadual de Habitação, responsável pelas construções, ainda não conseguiu estimar.
Eles roubaram cabos de energia, deixando a obra sem luz e sem câmeras de segurança. Entraram na torre mais próxima da rua Helvétia, quebraram vidros e levaram quase tudo de metal que viam pela frente: de grades de proteção até pia, tudo o que fosse de alumínio. Destruíram até o forro do telhado e invadiram boa parte dos apartamentos até o sexto andar -são 17 andares no total, com dez apartamentos em cada um deles.
Ao todo, os invasores depredaram e saquearam três das cinco torres em construção na quadra, onde fica a antiga rodoviária da capital. Eles levaram três centros de medição de energia -a substituição de cada um é avaliada em até R$ 30 mil, entre compra do equipamento e mão de obra, segundo a coordenação da obra. Também roubaram três quadros de telecomunicações, que conectam os interfones dos apartamentos, avaliados em R$ 25 mil cada um.
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Destruíram também caixa-d'água e levaram quatro bombas que serviam para levar água aos apartamentos, avaliadas em R$ 5.500 cada uma. Cortaram ainda tubulações de gás e água.
Em alguns apartamentos, roubaram até o aquecedor de gás. O que não conseguiam roubar era depredado. Uma das torres ainda estava sem energia nesta terça (24), o que obrigava trabalhadores a subir até 17 andares de escada.
A secretaria de habitação ainda calcula o prejuízo, mas, segundo Andra Robert, secretária-executiva de parcerias público-privadas da pasta, foi "considerável" –a conta deve ser repassada aos cofres públicos, por isso o prejuízo será auditado. Os invasores entraram já equipados, com marretas, pé-de-cabra e serras, o que indica que a situação foi premeditada, diz Andra, "para confrontar o estado".
Para ela, a ação deve ter sido planejada por pequenos traficantes da região e, na confusão, envolveu também usuários de drogas que frequentam a região -"naturalmente, os dependentes químicos acabam entrando, até para se protegerem", afirma.
"Parecia que o mundo estava acabando", disse um pedreiro sobre o cenário encontrado na manhã seguinte. Ele afirma que semanas antes um grupo já havia invadido as obras, por volta das 18h, quando ainda havia trabalhadores na área. "Me juntei a outros pedreiros, pegamos pau e pedras e botamos eles para correr", conta.
Um dos prédios deveria começar a receber moradores nesta semana. Ele foi inaugurado no fim de março, quando Geraldo Alckmin e João Doria (PSDB) correram para entregar obras antes de renunciarem aos cargos de governador e prefeito para concorrerem nas eleições em outubro.
Com as depredações (os invasores quebraram vidros e levaram grades de ferro deste edifício), a entrega deve ser atrasada em até um mês, diz a secretaria. A última torre seria entregue em agosto e também pode atrasar.
Ao todo, serão construídos cinco prédios na quadra, de frente à praça Júlio Prestes, com 914 apartamentos, de um e dois quartos (41 m² e 51 m²), sorteados entre famílias com renda entre R$ 810 e R$ 4.344.
Na quadra ao lado, há mais dois prédios, com 216 apartamentos destinados para a mesma faixa de renda, além de outros 72 unidades que serão vendidas no mercado, para famílias com renda de R$ 4.344 até R$ 8.100.
Haverá ali também creche, mercado, lojas e a Escola de Música de SP. Em uma quadra próxima, a prefeitura tem feito desapropriações com o intuito de construir uma unidade do hospital Pérola Byington.
A invasão coloca em xeque o plano das administrações estadual e municipal de SP de revitalizar a região, já que precisam garantir segurança aos novos moradores. Para Andrat, a segurança virá justamente com os novos moradores.
"A revitalização da área não será intimidada por essa ação covarde, não podemos nos amedrontar. É uma situação delicada, mas acreditamos piamente que trazendo moradia, tomando para si aquele espaço público, criando uma identidade de vida, é que nós vamos conseguir vencer essa batalha", afirma.
Recentemente, a cracolândia voltou a ser palco de confrontos entre policiais e usuários. Depois da invasão, frequentadores da região saquearam lojas e atearam fogo a um carro. Nesta semana, o prefeito Bruno Covas (PSDB) afirmou que "essas manifestações mostram uma certa indignação dos traficantes pela ação firme e enérgica que a prefeitura tem feito em parceria com o governo do estado".