© Jean-Paul Pelissier / Reuters
Em meio ao furor de movimentos feministas, Penélope Cruz acalmou um pouco os ânimos. Ela afirmou ter ganhado o mesmo salário que o ator Javier Bardem para fazer "Todos lo Saben", thriller dirigido pelo iraniano Asghar Farhadi.
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"Foi exatamente a mesma coisa", disse ela, sem detalhar o valor, após a exibição do filme, no Festival de Cannes. Na primeira edição pós-escândalo Weinstein, o festival vem carregado das demandas dos movimentos MeToo e Time's Up.
Neste ano, um email e uma linha telefônica estão à disposição dos frequentadores para coletar informações sobre assédio, e uma marcha de mulheres está programada para tomar o tapete vermelho no sábado (12). "Todos lo Saben" abriu a disputa desta edição de Cannes.
Num ano com poucos nomes hollywoodianos, era um dos títulos da competição com mais potencial de trazer glamour ao tapete vermelho. Além de Cruz e Bardem, conta com o argentino Ricardo Darín. Mas a obra teve uma recepção crítica bem menos do que morna. Foi gelada, aliás. Na sessão para jornalistas, o filme mal foi recebido com palmas.
O longa é a primeira incursão do iraniano Farhadi no território dos filmes de gênero, e o primeiro rodado em espanhol. Penélope Cruz se derreteu em elogios ao diretor, explicando como ele até se mudou para a Espanha para se ambientar. "Ele era uma esponja, absorvendo tudo."
"O filme é totalmente espanhol", disse o diretor. "E sou grato que os espanhóis reconheceram isso. Mas há uma alma iraniana nele, a ideia de que o artista desaparece, e não fica nada entre a obra e o espectador."
A trama acompanha o retorno da personagem interpretada por Cruz à pequena vila espanhola onde nasceu, para acompanhar o casamento da irmã. Ali, revê um amor da juventude (Bardem), enquanto o marido (Darín) ficou na Argentina. Um crime acontece durante a cerimônia, que é o pretexto para que o antigo casal tenha de acertar as contas com o passado.
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É também o gancho para o cineasta iraniano levar, mais uma vez, levar seus personagens aos limites do esgotamento emocional e dali extrair alguma reflexão sobre o caráter e as opções que as pessoas fazem em situações extremas.
"Gosto de imaginar as diferentes formas de lidar com certos assuntos. Que escolhas eu faria diante de certos dilemas?", indagou o realizador.
Talvez esteja aí a grande falha do seu filme. "Todos lo Saben" paira como um autopastiche de Farhadi, vencedor do Oscar por "A Separação" e "O Apartamento". De novo, ele põe a família como núcleo do conflito, inclui segredos ocultos do espectador para movimentar a trama e enfoca a relação homem/ mulher e, particularmente, o orgulho masculino.
Só que o resultado é bem mais modesto do que nos longas anteriores. O grande segredo que é fonte do conflito central causa pouquíssimo impacto quando revelado. E o desvendamento do crime, como se verá ao final, não é nem um pouco surpreendente.
Em conversa com a imprensa na manhã desta quarta (9), Farhadi terminou sua fala fazendo um apelo que parecia dirigido ao governo do seu país, que mantém em prisão domiciliar seu colega e conterrâneo, o cineasta Jafar Panahi. "Ainda há tempo para que ele venha. Seria importante que ele visse como os espectadores vejam seus filmes", disse o realizador. "É estranho que eu possa estar aqui, e ele não." Panahi também compete pela Palma de Ouro, por "3 Faces". Com informações da Folhapress.